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Birdman

Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) é um daqueles filmes estranhos que surgem a cada 10 ou cinco anos para dar uma chacoalhada em Hollywood e avisar a todos: Ei pessoal, vamos arejar essas ideias e pensar um pouco mais fora da caixinha. É meu caro amigo cinéfilo, o novo petardo de Alejandro González Iñárritu (Biutiful e Babel) é completamente insano. Alguns vão torcer o bico sem entender tanto frisson por algo tão esquisito. Outros irão vê-lo como uma obra prima. Nem um, nem outro. Birdman é um sopro de inventividade numa indústria pessimamente acostumada em fazer os mesmos tipos de filmes.

Será pretensão minha propor que o longa é uma reflexão filosófica sobre o ato de atuar? Afinal, tudo converge para Riggan (com o espetacular Michael Keaton) que tenta a todo custo provar que pode ser mais que um mero ex-astro de filmes de super heróis. Opa, mas tem uma metalinguagem aí na escolha de Keaton para o  papel, afinal, ele também é um astro no limbo que um dia foi o Batman. É aí que o filme começa a ser tornar genial, inteligente, instigante e até subversivo. O brilhante roteiro escrito por Iñárritu e mais três parceiros é permeado de provocações à industria cinematográfica e cultural americana. Ter milhares de visualizações nas redes sociais é sinônimo de poder, provoca o filme. Nesse turbilhão moderno tecnológico, com efeitos especiais, som dolby 7.1, salas IMAX e outras parafernálias, onde reside o espaço para expressão artística do ator ou atriz? A voz que sussurra aos ouvidos de Riggan diria: - "Quem se importa? Vamos ficar ricos com esses filmes." Birdman debate a sua indústria, mas usa como contexto os teatros da Broadway. Putz, é um roteiro invejável.

Mesmo sendo conceitualmente ácido e provocativo, o filme se destaca mesmo é pelo primor estético habitual da direção de Iñárritu, que com traquinagens cinematográficas tenta repetir o mestre Alfred Hitchcock, em Festim Diabólico, ao rodar todas as cenas como se fossem um gigantesco plano sequência. Claro que toda a tecnologia atual permite fazer esse tipo de montagem mais bem ajustada que nos áureos tempos da década de 1940, mas não deixa de ser deliciosamente ousado. O diretor é muito feliz em utilizar em grande parte da trilha sonora apenas solos de bateria, que lá pelas tantas, o tal baterista aparece em cena encaixando visual e áudio. É inevitável o palavrão: PQP como esse diretor é elegante. Se você assistir Birdman umas cincos vezes, a cada nova visualização você vai achar truques novos.

Keaton está arrebatador. A ironia do filme soa tão profunda, que o esquecido ator que interpretou Batman do fim da década de 1980, não é que é um ótimo ator. Não se assustem se levar a tal estatueta dourada, o que irá tornar a ironia do longa ainda mais coerente e devastadora. Poxa, se Keaton pode atuar dessa maneira, por que ele estava tão sumido? Que indústria é essa que coloca no topo e o tira com tanta facilidade? Perceba que por trás dessa maluquice de Iñárritu há muitas e boas discussões. Outro que está bem é Edward Norton, mas que infelizmente seu personagem some no ato final.

Assim como outra ótima sandice recente, Sinédoque, Nova York, Birdman tem dificuldades para concluir toda essa exuberância de propostas e, infelizmente, algumas pontas ficam um pouco soltas. Isso não é um problema, mas pode deixar ainda mais perdido o espectador menos experimentado. No fundo, é com pesar que digo que Birdman não é um filme para todos, pois nem todos vão conseguir decodificar as mensagens e provocações inteligentemente arquitetadas pela trupe de Iñárritu. Isso é ruim pois deixa o longa um tanto restritivo, pois alguns vão simplesmente dizer: não gostei, não entendi. O desafio talvez seja esse, conseguir atingir a todos, mesmo pensando bem fora da caixinha. Como a conclusão do longa propõe: talvez seja hora de abrir a janela e tentar voar um pouco, mesmo que isso soe completamente maluco.



Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)  - (Birdman - 2014)
Direção: Alejandro González Iñárritu
http://www.imdb.com/title/tt2562232/

Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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