300
Fica explícito deste o primeiro fotograma [ou frame, já que se trata de cinema digital] que 300 é um HQ [história em quadrinhos] transposto para o cinema. O longa baseado no estupendo quadrinho de Frank Miller chega as telonas e ratifica que a era do cinema digital definitivamente começou.
300 é um banquete visual. O resultado que a direção de Zach Snyder (Madrugada dos Mortos) consegue da convergência dos cenários digitais, a iluminação e o contraste com os personagens reais, impressiona. Os efeitos sobrepostos ao corpo das personagens reais, como as argolas no rosto do Deus-Rei Xerxes (Rodrigo Santoro), são eficientes. Apropriando da estética HQ e abusando um pouco dos planos em que alterna a velocidade durante as cenas de combates, Snyder encontra um tom vibrante que condiz com a personalidade dos espartanos. Não é real, mas também não é completamente um HQ. Embora utilize a mesma técnica de Sin City - A Cidade do Pecado e Capitão Sky e o Mundo de Amanhã, a paleta de cores fotográfica é mais rica, e foge, às vezes, dos tons mais escuros, que normalmente auxiliam a esconder o efeito inserido na cena. Esta tonalidade estética é o ponto alto do filme.
Apesar de encher os olhos, o longa derrapa um pouco no roteiro. Nada que comprometa a estória, mas que acaba enfraquecendo o impacto da conclusão da trama. Embasado na luta e superação do povo livre contra o tirano, o roteiro falha em não argumentar melhor as motivações da batalha, e assim mover o espectador a se identificar mais a fundo com o drama dos espartanos. A mesma temática é utilizada com maior profundidade e destreza em filmes como Coração Valente e a Trilogia Senhor dos Anéis. Entretanto, cabe salientar o bom e espinhoso diálogo entre Leônidas (Gerard Butler) e Xerxes.
Não há como avaliar a atuação de Rodrigo Santoro, pois seu corpo e voz foram modificados digitalmente para a construção da personagem. Nos momentos em que aparece, limita-se a fazer algumas caras e falar vagarosamente. Mais importante é a presença deste talentoso ator como antagonista de um blockbuster como 300. As demais atuações, sobretudo de Gerard Butler, como Leônidas, são demasiadamente impostadas. O raríssimo traço de naturalidade nas atuações só se mostra quando um dos espartanos perde o filho durante o combate. Porém, é evidente que com tamanha avalanche visual e diálogos sem grande densidade, as atuações saiam prejudicadas.
Não há dúvidas que o cinema digital [as imagens são armazenadas em HDs e não mais em películas] vem ao longo dos anos caminhando gradativamente e conquistando espaço e colaboradores. Atrelado a isso, o bluescreen, que já era um instrumento recorrente na construção de efeitos especiais, agora ocupa quase que completamente o quadro de uma cena. Em 300, com exceção dos atores, o figurino e alguns elementos de cena, o resto é praticamente bluescreen, ou seja, efeitos especiais. Esta nova onda que começou com Capitão Sky e o Mundo de Amanhã, o japonês Casshern, e ganhou força através do excelente Sin City - A Cidade do Pecado, parece ter chamado a atenção de vez dos estúdios. Um filme muito mais barato [não gasta com cenários, locações e milhares de figurantes] e que pelos atuais números da bilheteria de 300, parece ser bem mais lucrativo.
Apesar de demonstrar um grande passo para o futuro do cinema, 300 também desperta certa temeridade, em que o primor técnico das produções sobrepuja a qualidade da estória. Isso nos remete a “Era Blockbuster” iniciada por Spielberg e Lucas através de Tubarão e Star Wars na década de 1970. Entretenimento fácil que rende milhões. No caso de 300, entretenimento mais barato que rende muito mais milhões.
O longa é um entretenimento eficientíssimo, digno de um tarde de domingo com um bom balde de pipoca. Porém, faltou força na mensagem. A luta dos 300 soldados espartanos é uma grata metáfora do sacrifício e a dedicação que é preciso fazer para manter o que se tem e buscar novas conquistas. Resta saber se os milhares de espectadores conseguiram perceber esta mensagem, um tanto quanto à deriva no mar dos bons efeitos especiais.
300 (300 - 2007)
Direção: Zach Snyder
Elenco: Gerard Butler, Lena Headey, David Wenham, Dominic West, Vincent Regan, Michael Fassbender, Rodrigo Santoro, Andrew Tiernan, Andrew Pleavin, Tim Connolly, Marie-Julie Rivest, Tyler Max Neitzel, Tyrone Benskin..
Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
300 é um banquete visual. O resultado que a direção de Zach Snyder (Madrugada dos Mortos) consegue da convergência dos cenários digitais, a iluminação e o contraste com os personagens reais, impressiona. Os efeitos sobrepostos ao corpo das personagens reais, como as argolas no rosto do Deus-Rei Xerxes (Rodrigo Santoro), são eficientes. Apropriando da estética HQ e abusando um pouco dos planos em que alterna a velocidade durante as cenas de combates, Snyder encontra um tom vibrante que condiz com a personalidade dos espartanos. Não é real, mas também não é completamente um HQ. Embora utilize a mesma técnica de Sin City - A Cidade do Pecado e Capitão Sky e o Mundo de Amanhã, a paleta de cores fotográfica é mais rica, e foge, às vezes, dos tons mais escuros, que normalmente auxiliam a esconder o efeito inserido na cena. Esta tonalidade estética é o ponto alto do filme.
Apesar de encher os olhos, o longa derrapa um pouco no roteiro. Nada que comprometa a estória, mas que acaba enfraquecendo o impacto da conclusão da trama. Embasado na luta e superação do povo livre contra o tirano, o roteiro falha em não argumentar melhor as motivações da batalha, e assim mover o espectador a se identificar mais a fundo com o drama dos espartanos. A mesma temática é utilizada com maior profundidade e destreza em filmes como Coração Valente e a Trilogia Senhor dos Anéis. Entretanto, cabe salientar o bom e espinhoso diálogo entre Leônidas (Gerard Butler) e Xerxes.
Não há como avaliar a atuação de Rodrigo Santoro, pois seu corpo e voz foram modificados digitalmente para a construção da personagem. Nos momentos em que aparece, limita-se a fazer algumas caras e falar vagarosamente. Mais importante é a presença deste talentoso ator como antagonista de um blockbuster como 300. As demais atuações, sobretudo de Gerard Butler, como Leônidas, são demasiadamente impostadas. O raríssimo traço de naturalidade nas atuações só se mostra quando um dos espartanos perde o filho durante o combate. Porém, é evidente que com tamanha avalanche visual e diálogos sem grande densidade, as atuações saiam prejudicadas.
Não há dúvidas que o cinema digital [as imagens são armazenadas em HDs e não mais em películas] vem ao longo dos anos caminhando gradativamente e conquistando espaço e colaboradores. Atrelado a isso, o bluescreen, que já era um instrumento recorrente na construção de efeitos especiais, agora ocupa quase que completamente o quadro de uma cena. Em 300, com exceção dos atores, o figurino e alguns elementos de cena, o resto é praticamente bluescreen, ou seja, efeitos especiais. Esta nova onda que começou com Capitão Sky e o Mundo de Amanhã, o japonês Casshern, e ganhou força através do excelente Sin City - A Cidade do Pecado, parece ter chamado a atenção de vez dos estúdios. Um filme muito mais barato [não gasta com cenários, locações e milhares de figurantes] e que pelos atuais números da bilheteria de 300, parece ser bem mais lucrativo.
Apesar de demonstrar um grande passo para o futuro do cinema, 300 também desperta certa temeridade, em que o primor técnico das produções sobrepuja a qualidade da estória. Isso nos remete a “Era Blockbuster” iniciada por Spielberg e Lucas através de Tubarão e Star Wars na década de 1970. Entretenimento fácil que rende milhões. No caso de 300, entretenimento mais barato que rende muito mais milhões.
O longa é um entretenimento eficientíssimo, digno de um tarde de domingo com um bom balde de pipoca. Porém, faltou força na mensagem. A luta dos 300 soldados espartanos é uma grata metáfora do sacrifício e a dedicação que é preciso fazer para manter o que se tem e buscar novas conquistas. Resta saber se os milhares de espectadores conseguiram perceber esta mensagem, um tanto quanto à deriva no mar dos bons efeitos especiais.
300 (300 - 2007)
Direção: Zach Snyder
Elenco: Gerard Butler, Lena Headey, David Wenham, Dominic West, Vincent Regan, Michael Fassbender, Rodrigo Santoro, Andrew Tiernan, Andrew Pleavin, Tim Connolly, Marie-Julie Rivest, Tyler Max Neitzel, Tyrone Benskin..
Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
Post a Comment