O Albergue
Com o sucesso de bilheteria de Jogos Mortais, os produtores de cinema vislumbraram o crescimento de um novo nicho de público – os admiradores de violência gratuita. É um cinema de horror que deixa de lado os sustos e opta por imagens grotescas e sádicas que fazem o espectador se revirar na poltrona. O Albergue é apenas mais um exemplar mal realizado dessa nova onda.
Três amigos viajam pela Europa à procura de diversão, drogas e mulheres. Em Amsterdan conhecem um garoto que indica uma cidade da Eslováquia como o paraíso das mulheres e do sexo. Eles seguem para a cidade e lá se esbaldam. Porém, o que deveria ser apenas uma aventura de turismo sexual transforma-se em pesadelo. Seduzidos e dopados pelas garotas, eles são vendidos, ainda vivos, para uma organização que promove tortura. Os garotos são mercadorias para o deleite de sádicos que pagam para torturar e matar.
Embora o resultado final seja muito fraco, a premissa do filme é bastante interessante. Pessoas pagam para torturar e matar outras. Portanto, se existe demanda, logo é formado um mercado – o mercado da morte. E de fato, isso existe no mundo real. Hoje, os desejos mais bizarros podem ser realizados desde que haja dinheiro. No aspecto sexual, hoje já se pode quase tudo. Veja a internet que possibilita um harém a todos os simpatizantes da pedofilia. Pode soar nojento e mórbido, mas é a realidade. O Albergue traz à tona esses desejos humanos.
Os três rapazes, dois americanos e um islandês, viajam pela Europa a fim de provarem drogas e mulheres. Vão para a fatídica cidade fascinados pela possível libertinagem das garotas locais. Os desejos que os impulsionam, embora diferentes, mas ainda bizarros, também impulsionam seus algozes. Pode-se até discutir que os desejos sexuais deles são normais, se é que podemos definir assim, e dos torturadores são aberrações. Porém, o melhor diálogo do filme esclarece como a linha entre esses dois tipos de desejo é tênue. Após fugir da tortura, Paxton (Jay Hernandez) refugia-se no vestiário dos torturadores e lá encontra um deles. O torturador explana sobre o prazer de torturar e como o ato sexual deixou de ser interessante depois de já se ter realizado todas as fantasias. “Eu não me lembro nem da cor dos mamilos da mulher com que estava hoje”, diz ele. A cena parece dizer: quando um desejo bizarro cai em desuso, outro aflora.
Curioso é que de certa forma o espectador de filmes como Jogos Mortais e O Albergue também possui um fascínio por morbidez e violência. Pagamos para assistir e sentir o espetáculo ilusório das cenas violentas. A mágica do cinema abastece nossos desejos mais escusos. Quem nunca torceu para o mocinho matar, quem sabe com requintes de crueldade, o bandido? A arte cinematográfica provoca sentimentos que podem ser contrários ao nosso caráter e até soar estranho a nós mesmos. Atire a primeira pedra quem não vibrou com o final atroz de Dogville? O Albergue convida o espectador a ser um voyeur do espetáculo bizarro que o filme apresenta.
Infelizmente, o tema, ou uma discussão sobre o assunto, não é aprofundado ao longo da narrativa. A saída fácil e horror rasteiro tornam a obra um mero exemplar caça-níquel. Convenhamos que há mais cenas de garotas com seios à mostra do que seqüências aterrorizantes. Fiquei mais assustado com os gritos das personagens do que propriamente com as cenas. Então, mesmo mal realizado e com cenas de horror pouco expressivas, por que esse filme fez todo esse barulho quando foi lançado? Simples, Quentin Tarantino bancou o projeto e foi produtor executivo. O Albergue teve uma enorme visibilidade graças ao vínculo do nome de Tarantino, e o que ele diz que é bom, normalmente influencia os espectadores e a mídia.
Eli Roth, responsável pelo roteiro e direção, cometeu as mesmas falhas do seu filme anterior, Cabana do Inferno. Falta-lhe um pouco de maturidade cinematográfica e uma maior ambição no desenvolvimento dos roteiros. Ambos, Cabana do Inferno e O Albergue, possuem idéias muito boas, mas que foram mal desenvolvidas. Não acredito que eles (os roteiristas) achem que os espectadores sejam tão ignorantes a ponto de não entenderem roteiros mais intrincados e de reflexão sobre mazelas humanas. Parece-me que os realizadores de cinema de horror não levam o gênero tão a sério e possivelmente acham que basta entreter o público. Filmes como 8 Milímetros e O Olho que Tudo Vê são bons exemplos de como o mesmo tema pode render muito mais.
Resta saber quantas continuações serão realizadas dessas franquias de horror bizarro. Melhor, resta saber quando é que o público vai enjoar desse segmento. Quando não mais houver demanda, não haverá mais mercado. E que assim seja.
[Não deixe de conferir: A seqüência em que a garota oriental se joga no trilho do trem. Parece uma clara menção ao trash asiático Clube do Suicídio.]
O Albergue (2006)
Direção: Eli Roth
Elenco: Jay Hernandez, Derek Richardson, Eythor Gudjonsson.
Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
Três amigos viajam pela Europa à procura de diversão, drogas e mulheres. Em Amsterdan conhecem um garoto que indica uma cidade da Eslováquia como o paraíso das mulheres e do sexo. Eles seguem para a cidade e lá se esbaldam. Porém, o que deveria ser apenas uma aventura de turismo sexual transforma-se em pesadelo. Seduzidos e dopados pelas garotas, eles são vendidos, ainda vivos, para uma organização que promove tortura. Os garotos são mercadorias para o deleite de sádicos que pagam para torturar e matar.
Embora o resultado final seja muito fraco, a premissa do filme é bastante interessante. Pessoas pagam para torturar e matar outras. Portanto, se existe demanda, logo é formado um mercado – o mercado da morte. E de fato, isso existe no mundo real. Hoje, os desejos mais bizarros podem ser realizados desde que haja dinheiro. No aspecto sexual, hoje já se pode quase tudo. Veja a internet que possibilita um harém a todos os simpatizantes da pedofilia. Pode soar nojento e mórbido, mas é a realidade. O Albergue traz à tona esses desejos humanos.
Os três rapazes, dois americanos e um islandês, viajam pela Europa a fim de provarem drogas e mulheres. Vão para a fatídica cidade fascinados pela possível libertinagem das garotas locais. Os desejos que os impulsionam, embora diferentes, mas ainda bizarros, também impulsionam seus algozes. Pode-se até discutir que os desejos sexuais deles são normais, se é que podemos definir assim, e dos torturadores são aberrações. Porém, o melhor diálogo do filme esclarece como a linha entre esses dois tipos de desejo é tênue. Após fugir da tortura, Paxton (Jay Hernandez) refugia-se no vestiário dos torturadores e lá encontra um deles. O torturador explana sobre o prazer de torturar e como o ato sexual deixou de ser interessante depois de já se ter realizado todas as fantasias. “Eu não me lembro nem da cor dos mamilos da mulher com que estava hoje”, diz ele. A cena parece dizer: quando um desejo bizarro cai em desuso, outro aflora.
Curioso é que de certa forma o espectador de filmes como Jogos Mortais e O Albergue também possui um fascínio por morbidez e violência. Pagamos para assistir e sentir o espetáculo ilusório das cenas violentas. A mágica do cinema abastece nossos desejos mais escusos. Quem nunca torceu para o mocinho matar, quem sabe com requintes de crueldade, o bandido? A arte cinematográfica provoca sentimentos que podem ser contrários ao nosso caráter e até soar estranho a nós mesmos. Atire a primeira pedra quem não vibrou com o final atroz de Dogville? O Albergue convida o espectador a ser um voyeur do espetáculo bizarro que o filme apresenta.
Infelizmente, o tema, ou uma discussão sobre o assunto, não é aprofundado ao longo da narrativa. A saída fácil e horror rasteiro tornam a obra um mero exemplar caça-níquel. Convenhamos que há mais cenas de garotas com seios à mostra do que seqüências aterrorizantes. Fiquei mais assustado com os gritos das personagens do que propriamente com as cenas. Então, mesmo mal realizado e com cenas de horror pouco expressivas, por que esse filme fez todo esse barulho quando foi lançado? Simples, Quentin Tarantino bancou o projeto e foi produtor executivo. O Albergue teve uma enorme visibilidade graças ao vínculo do nome de Tarantino, e o que ele diz que é bom, normalmente influencia os espectadores e a mídia.
Eli Roth, responsável pelo roteiro e direção, cometeu as mesmas falhas do seu filme anterior, Cabana do Inferno. Falta-lhe um pouco de maturidade cinematográfica e uma maior ambição no desenvolvimento dos roteiros. Ambos, Cabana do Inferno e O Albergue, possuem idéias muito boas, mas que foram mal desenvolvidas. Não acredito que eles (os roteiristas) achem que os espectadores sejam tão ignorantes a ponto de não entenderem roteiros mais intrincados e de reflexão sobre mazelas humanas. Parece-me que os realizadores de cinema de horror não levam o gênero tão a sério e possivelmente acham que basta entreter o público. Filmes como 8 Milímetros e O Olho que Tudo Vê são bons exemplos de como o mesmo tema pode render muito mais.
Resta saber quantas continuações serão realizadas dessas franquias de horror bizarro. Melhor, resta saber quando é que o público vai enjoar desse segmento. Quando não mais houver demanda, não haverá mais mercado. E que assim seja.
[Não deixe de conferir: A seqüência em que a garota oriental se joga no trilho do trem. Parece uma clara menção ao trash asiático Clube do Suicídio.]
O Albergue (2006)
Direção: Eli Roth
Elenco: Jay Hernandez, Derek Richardson, Eythor Gudjonsson.
Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
Uma boa ideia mas mal executada, como o Gilvan disse, Eli Roth demonstra amadorismo assim como em Cabana do Inferno. Na nova onda de filmes que explorar a violência gráfica, tentando 'pertubar' o expectador, fica a expectativa de Haute Tension e do Remake de Quadrilha dos sádicos.
ResponderExcluirRevi o filme e percebi que tentaram colocar no circuito blockbuster um exemplar de horror trash. Realmente não ia funcionar. Se este filme fosse divulgado como trash, aposto que faria sucesso entre os admiradores do gênero, pois ele nÀo é de todo ruim, só é mal feito. Trash é igual a mal feito, portanto seria um clássico.
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