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Missão Impossível 3

A terceira aventura do agente Ethan Hunt (Tom Cruise) é indiscutivelmente o melhor filme da série Missão Impossível. Grandes e elaboradas seqüências de ação continuam sendo a maior atração. Entretanto, elas não soam descartáveis ou exibicionistas como nos episódios anteriores. O que antes era um espetáculo desconexo de seqüências com uma trama fajuta por trás agora é um agradável quebra-cabeça que o espectador monta e se sente recompensado por todas as peças se encaixarem.

Ethan Hunt está prestes a se casar e parece interessado em deixar a agência de espionagem e ter uma vida normal. Entretanto, seus serviços são solicitados para resgatar uma amiga, também funcionária da agência, que foi seqüestrada. O resgate não sai como planejado. Hunt descobre que a amiga estava investigando um mercador de armas que está fechando um negócio muito perigoso para a segurança mundial.

Embora a trama seja batida e até simplista, alguns elementos são muito bem implementados. A seqüência inicial é o momento mais marcante do filme. Ali já é apresentado o problema que Hunt terá que resolver. Com uma arma apontada para a cabeça da esposa de Hunt, Owen Davian (Philip Seymour Hoffman) ameaça matá-la se Hunt não informar onde está o pé-de-coelho. Ambos estão aprisionados e imobilizados. Owen conta até dez e Hunt não lhe diz nada. No dez, Owen atira e o filme começa.

Além do impacto da seqüência, o espectador entra na trama com algumas informações e alguns questionamentos - quem é Owen Davian? Por que prenderam Hunt e a garota? Quem é essa garota? O que é pé-de-coelho? Por que Hunt não disse nada? Será que a garota morreu mesmo? Missão Impossível 3 já é ousado ao começar com um modelo narrativo muito mais atraente do que o dos filmes anteriores. Desta maneira, o espectador assume o papel de investigador juntamente com Hunt, porém, ele já sabe que o herói terá sérios problemas até chegar novamente àquela cena.

Os louros de Missão Impossível 3 devem ser creditados à direção de J. J. Abrams, hoje mundialmente conhecido por ser um dos criadores da série LOST. Abrams demonstra que é possível realizar bons filmes de ação sem abusar dos exageros e cair excessivamente no senso comum. Ele conseguiu transformar uma trama simples em um espetáculo atraente e que entretém. Não é uma direção fantástica, mas sim pontual. O diferencial de Abrams está em dar ênfase e sensibilidade aos detalhes.

Quando construíram a personagem de Ethan Hunt para o primeiro filme da série, de certa forma ele seguia um pouco o modelo 007 - James Bond. Bonitão, esperto, que resolve todas as missões, escapa da morte no último instante e conquista a mocinha. Na verdade, a série de TV que deu origem ao filme já seguia este modelo. Particularmente acho um modelo ultrapassado e desgastado com o qual, hoje, os espectadores estabelecem pouca empatia. O roteiro de Missão Impossível 3, do trio Alex Kurtzman, Roberto Orci e J.J. Abrams, acertou em lapidar o protagonista.

O primeiro ponto é o relacionamento afetivo. Hunt se casa e demonstra amar a esposa. Um dos fatores fundamentais para o bom funcionamento de um filme é a empatia com o protagonista. Por que eu gosto dele? Por que eu torço por ele? O que o motiva também me motivaria? São perguntas simples, mas que fazem diferença. Se há um casal e a relação afetiva entre eles é bem trabalhada, não há como o espectador ficar indiferente. O grande clichê do cinema – o mocinho salvar a mocinha –, se bem construído, torna o filme mais forte. Como a esposa de Hunt morre no início, cada cena em que eles estão juntos exerce uma força ainda maior.

Outro ponto do roteiro que foi bem reestruturado foi a vulnerabilidade de Hunt. O antigo agente “fodão” que resolve tudo sem ao menos ganhar um arranhão, deu lugar a um homem de carne e osso que também falha em suas missões. Mais humano, Hunt sente a morte da amiga seqüestrada, lamenta não pode dizer a verdade sobre seu trabalho à noiva e percebe melhor o impacto das traições. Embora não seja primorosa, a atuação de Tom Cruise é eficiente. Ele não é um ator ruim, falta-lhe é mais coragem de escolher bons papéis.

Quem merece um parágrafo especial é Philip Seymour Hoffman. Espanta-me a tamanha versatilidade deste fantástico ator. Em mais uma ótima atuação ele consegue conferir ao papel aquilo que um vilão precisa provocar – medo. Da voz pausada aos gritos esbravejantes, ele é o vilão que todo diretor anseia em possuir. A surra que ele dá em Hunt é memorável. Parece coincidência, mas a melhor atuação da carreira de Cruise foi justamente com Hoffman em Magnólia. Dizem que atuar ao lado dos bons acaba influenciando.

As seqüências de ação são muito bem realizadas, o que já é quase um padrão em grandes produções. Efeitos especiais bem feitos, montagem acelerada, o som quase explodindo e etc. A diferença está no grau de tensão impregnado à parte destas seqüências. Na perseguição de helicópteros sobre um campo de energia eólica, o que mais aflige o espectador é se Hunt conseguirá usar o desfibrilador a tempo de salvar a amiga. A perseguição e os mísseis são meros adereços. Grande parte desta tensão se deve à trilha sonora de Michael Giacchino, que utiliza com primor sons de violino. Ele também é responsável pela trilha da série LOST.

Embora tenha uma trama com surpresas e viradas um tanto quanto previsíveis, Missão Impossível 3 agrada ao espectador. É um excelente exemplar de entretenimento que não ousa demais, mas também não é descartável. J. J. Abrams estréia bem no cinema e dá indícios de ser o sangue novo de que o cinema de entretenimento necessita. Resta saber se Tom Cruise e o estúdio responsável ficaram satisfeitos com a bilheteria do filme, pois infelizmente, este é o fator que anda medindo a competência e o sucesso de uma obra cinematográfica e o respectivo diretor.


Missão Impossível 3 (Mission: Impossible 3 - 2006)
Direção: J. J. Abrams
Elenco: Tom Cruise, Ving Rhames, Keri Russell, Philip Seymour Hoffman, Laurence Fishburne, Billy Crudup, Jonathan Rhys Meyers.

Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com

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