As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa
Se há algo que me deixa triste ao assistir um filme é sair do cinema com a sensação que o diretor perdera uma grande oportunidade de criar algo louvável. O diretor Andrew Adamson que foi responsável pelos dois filmes do Ogro Shrek, em As Crônicas de Nárnia comete equívocos em demasia e frustra as expectativas em torno da cultuada obra do escritor C. S. Lewis.
O universo criado pelo escritor irlandês C. S. Lewis é retratado com maestria através dos recursos tecnológicos de computação gráfica no filme. Andrew Adamson constrói e manuseia com exuberâncias criaturas como faunos, centauros, minotauros, ciclopes, além de animais que falam. Não há como negar o encanto que o mundo de Nárnia exerce sobre cada espectador, principalmente nos adultos, convidados a voltar a infância. Quando a pequenina e carismática Lúcia (Georgie Henley) entra no guarda roupa e descobre Nárnia, a identificação com a personagem é imediata. Quem nunca quis ir de fato para um outro mundo, o mundo da imaginação e conversar com outros seres? Deste momento em diante o espectador estabelece uma conexão com a magia de Nárnia, mas que infelizmente não se mantém ao longo do filme.
O filme é uma produção dos Estúdios Disney, que ultimamente vem acumulando insucessos de critica no cinema, vide Galinho Chicken e Nem que a Vaca Tussa. Ao que parece os executivos da Disney queriam responder ao sucesso da franquia Harry Potter nos cinemas, ou apenas voltar a morder um bom pedaço do bolo mais lucrativo da industria do cinema: cinema voltado o público infantil. Apesar do começo atraente o filme acumula uma série de incoerências e excede no politicamente correto, marca registrada da Disney. Sempre intencionada em transmitir “bons” valores, a produção chega ao abuso de ter uma seqüência de batalha sem derramar uma gota sequer de sangue. Isso até seria louvável se o aparente Papai Noel não desse as quatro crianças ao invés de presentes, armas para se defenderem na guerra. Guerra com sangue não pode, mas Papai Noel pró-armamentista pode? Para quem prega bons valores a Disney dá péssimo exemplo e dificulta a educação que os pais tentam dar as crianças. Essa seqüência desmantela qualquer expectativa para com o restante do filme. O suposto Papai Noel só aparece para isso no filme. Horrível.
A direção de Andrew Adamson só é competente quando há elementos de CG (computação gráfica) em cena. A composição do Leão Aslam é de encher os olhos. O diretor não ter a mesma competência com atores reais. Os atores que interpretam as quatros crianças são muito limitados. A simpática caçula Lucia é que rouba a cena, mais pela inocência e pureza de seu sorriso. Ela não esta interpretando, sua personagem é apenas a extensão de sua própria simpatia. A Feiticeira Branca não consegue em momento algum gerar temor no espectador. Contudo as más atuações sejam reflexo do fraco roteiro. Papai Noel surge do nada para trazer armas que ajudam as crianças na batalha, o leão morre e ressuscita baseado numa profecia que o espectador conhece superficialmente, o mundo de Narnia descongela-se pelo simples fato das crianças terem chegado, etc. Os erros e bobagens do roteiro acabam minando o filme e ao final o espectador não mais o leva a sério.
O que pesou na balança para que o filme caísse em tanto descrédito foi a ambição dos produtores e da direção em espelhar-se demasiadamente na trilogia Senhor dos Anéis. É plausível entender a influencia que a trilogia de Peter Jackson gerará nos próximos filmes épicos que surgirão. As Crônicas de Nárnia não só se espelham como quase plagiam a Trilogia. A fotografia e os movimentos de câmera em determinadas seqüências são praticamente iguais. Note a seqüência onde as crianças e os castores escondem num buraco fugindo de um trenó. Uma clara referência a seqüência em que os hobbits escondem embaixo de uma ponte fugindo dos Nazgul em A Sociedade do Anel. Até a trilha sonora é parecida, mas é muito mal articulada. Parece não haver uma cena sem trilha sonora no filme. Fica nítida a linha de pensamento: Se tem algo acontecendo, coloca uma trilha. A trilha sonora não confere importância alguma a narrativa do filme. Torna-se um barulho a ser esquecido ao fundo.
Os realizadores do filme não devem ter percebido que na Trilogia do Anel, o vilão Sauron nunca aparece ao longo do filme(Apenas num flashback de quando ele ainda era vivo). Assim mesmo as personagens o temem e conseqüentemente o espectador. Um problema grave da narrativa de As Crônicas de Nárnia é que a vilã, a Feiticeira Branca nunca exerce temor sobre o espectador. As chances que ela tem para matar uma das crianças ela desperdiça adiando. O filme perde força ao deixar evidente demais que no fim vai dar tudo certo e ninguém vai morrer. Claro que sempre vai dar certo, mas o espectador não precisa ficar sabendo tão cedo. Lutando contra Pedro, uma das crianças, a Feiticeira Branca não consegue vencê-lo, mesmo que ele tenha aprendido a manusear uma espada a poucos dias. A Feiticeira não é tão perigosa assim. Não consegue vencer um garoto. A coreografia dessa batalha de espadas e outra pérola do horrível do filme. Será que eles não virão Kill Bill?
A Disney perdeu uma chance promissora de se restabelecer no mercado. Ela precisa entender que as crianças evoluíram e que apesar da ingenuidade e inocência elas tem senso crítico. Elas vão continuar a ver os filmes da Disney, podem lançar o que quiserem. A diferença é que enquanto isso filmes como Harry Potter e Os Incríveis são assistidos duas ou três vezes no cinema, vendem DVDs, games e toda quinquilharia referenciada ao filme. Isso só funciona quando se é sincero com as crianças. Uma geração que joga videogames ultramodernos, que está antenada com o mundo e mesmo com as atrocidades que nele existente não pode ser subestimada. A inocência infantil reside na verdade, algo que falta em As Crônicas de Nárnia. As continuações virão e desejo que sejam melhores, pois o universo de Nárnia bem explorado pode gerar bons filmes. Quem sabe agora com outros diretores e bons roteiristas.
As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa (2005)
Direção: Andrew Adamson
Elenco: Georgie Henley, Skandar Keynes, William Moseley, Anna Popplewell, Tilda Swinton, James McAvoy, Jim Broadbent, James Cosmo, Shane Rangi.
Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
O universo criado pelo escritor irlandês C. S. Lewis é retratado com maestria através dos recursos tecnológicos de computação gráfica no filme. Andrew Adamson constrói e manuseia com exuberâncias criaturas como faunos, centauros, minotauros, ciclopes, além de animais que falam. Não há como negar o encanto que o mundo de Nárnia exerce sobre cada espectador, principalmente nos adultos, convidados a voltar a infância. Quando a pequenina e carismática Lúcia (Georgie Henley) entra no guarda roupa e descobre Nárnia, a identificação com a personagem é imediata. Quem nunca quis ir de fato para um outro mundo, o mundo da imaginação e conversar com outros seres? Deste momento em diante o espectador estabelece uma conexão com a magia de Nárnia, mas que infelizmente não se mantém ao longo do filme.
O filme é uma produção dos Estúdios Disney, que ultimamente vem acumulando insucessos de critica no cinema, vide Galinho Chicken e Nem que a Vaca Tussa. Ao que parece os executivos da Disney queriam responder ao sucesso da franquia Harry Potter nos cinemas, ou apenas voltar a morder um bom pedaço do bolo mais lucrativo da industria do cinema: cinema voltado o público infantil. Apesar do começo atraente o filme acumula uma série de incoerências e excede no politicamente correto, marca registrada da Disney. Sempre intencionada em transmitir “bons” valores, a produção chega ao abuso de ter uma seqüência de batalha sem derramar uma gota sequer de sangue. Isso até seria louvável se o aparente Papai Noel não desse as quatro crianças ao invés de presentes, armas para se defenderem na guerra. Guerra com sangue não pode, mas Papai Noel pró-armamentista pode? Para quem prega bons valores a Disney dá péssimo exemplo e dificulta a educação que os pais tentam dar as crianças. Essa seqüência desmantela qualquer expectativa para com o restante do filme. O suposto Papai Noel só aparece para isso no filme. Horrível.
A direção de Andrew Adamson só é competente quando há elementos de CG (computação gráfica) em cena. A composição do Leão Aslam é de encher os olhos. O diretor não ter a mesma competência com atores reais. Os atores que interpretam as quatros crianças são muito limitados. A simpática caçula Lucia é que rouba a cena, mais pela inocência e pureza de seu sorriso. Ela não esta interpretando, sua personagem é apenas a extensão de sua própria simpatia. A Feiticeira Branca não consegue em momento algum gerar temor no espectador. Contudo as más atuações sejam reflexo do fraco roteiro. Papai Noel surge do nada para trazer armas que ajudam as crianças na batalha, o leão morre e ressuscita baseado numa profecia que o espectador conhece superficialmente, o mundo de Narnia descongela-se pelo simples fato das crianças terem chegado, etc. Os erros e bobagens do roteiro acabam minando o filme e ao final o espectador não mais o leva a sério.
O que pesou na balança para que o filme caísse em tanto descrédito foi a ambição dos produtores e da direção em espelhar-se demasiadamente na trilogia Senhor dos Anéis. É plausível entender a influencia que a trilogia de Peter Jackson gerará nos próximos filmes épicos que surgirão. As Crônicas de Nárnia não só se espelham como quase plagiam a Trilogia. A fotografia e os movimentos de câmera em determinadas seqüências são praticamente iguais. Note a seqüência onde as crianças e os castores escondem num buraco fugindo de um trenó. Uma clara referência a seqüência em que os hobbits escondem embaixo de uma ponte fugindo dos Nazgul em A Sociedade do Anel. Até a trilha sonora é parecida, mas é muito mal articulada. Parece não haver uma cena sem trilha sonora no filme. Fica nítida a linha de pensamento: Se tem algo acontecendo, coloca uma trilha. A trilha sonora não confere importância alguma a narrativa do filme. Torna-se um barulho a ser esquecido ao fundo.
Os realizadores do filme não devem ter percebido que na Trilogia do Anel, o vilão Sauron nunca aparece ao longo do filme(Apenas num flashback de quando ele ainda era vivo). Assim mesmo as personagens o temem e conseqüentemente o espectador. Um problema grave da narrativa de As Crônicas de Nárnia é que a vilã, a Feiticeira Branca nunca exerce temor sobre o espectador. As chances que ela tem para matar uma das crianças ela desperdiça adiando. O filme perde força ao deixar evidente demais que no fim vai dar tudo certo e ninguém vai morrer. Claro que sempre vai dar certo, mas o espectador não precisa ficar sabendo tão cedo. Lutando contra Pedro, uma das crianças, a Feiticeira Branca não consegue vencê-lo, mesmo que ele tenha aprendido a manusear uma espada a poucos dias. A Feiticeira não é tão perigosa assim. Não consegue vencer um garoto. A coreografia dessa batalha de espadas e outra pérola do horrível do filme. Será que eles não virão Kill Bill?
A Disney perdeu uma chance promissora de se restabelecer no mercado. Ela precisa entender que as crianças evoluíram e que apesar da ingenuidade e inocência elas tem senso crítico. Elas vão continuar a ver os filmes da Disney, podem lançar o que quiserem. A diferença é que enquanto isso filmes como Harry Potter e Os Incríveis são assistidos duas ou três vezes no cinema, vendem DVDs, games e toda quinquilharia referenciada ao filme. Isso só funciona quando se é sincero com as crianças. Uma geração que joga videogames ultramodernos, que está antenada com o mundo e mesmo com as atrocidades que nele existente não pode ser subestimada. A inocência infantil reside na verdade, algo que falta em As Crônicas de Nárnia. As continuações virão e desejo que sejam melhores, pois o universo de Nárnia bem explorado pode gerar bons filmes. Quem sabe agora com outros diretores e bons roteiristas.
As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa (2005)
Direção: Andrew Adamson
Elenco: Georgie Henley, Skandar Keynes, William Moseley, Anna Popplewell, Tilda Swinton, James McAvoy, Jim Broadbent, James Cosmo, Shane Rangi.
Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
Gilvan,
ResponderExcluirconcordo com os seus comentários sobre o filme. Sei que fazer adaptações para o cinema de sagas literárias é um grande desafio, mas a obra peca principalmente no desenvolvimento do roteiro. Tudo acaba acontecendo muito rápidamente e há situações que não foram bem contextualizadas. Assim fica difícil se identificar com os personagens, e "Crônicas" acaba falhando nas cenas que deveriam ser os "ápices dramáticos". Mas ainda acho uma diversão razoável por causa do cuidado da produção, dos efeitos, da direção de arte e da simpática Lúcia.
abraços
Guilherme Niffinegger
Sem contar que As Crônicas de Nárnia é uma sequencia encantadora de livros, que retrata o cristianismo na Visão de C S Lewis, grande autor, de grandes livros. Um abraço! Juliana de Oliveira
ResponderExcluirhttp://julianaoliva.blogspot.com
Quem gosta de Narnia visita o blog http://narniasecrets.blogspot.com/
ResponderExcluirLá tem muita coisa legal!