Cinema, Aspirinas® e Urubus
Cinema, Aspirinas® e Urubus dispõe das maravilhosas atuações de seus protagonistas. Peter Ketnath está muito bem, mas é mesmo João Miguel que merece destaque. O personagem é o grande responsável pelo humor da trama. Tanto seu texto como a maneira de proferi-lo, fazendo uso de um sotaque típico, divertem a história. Pontos para o roteiro, mas também para o intérprete. A relação que se desenvolve entre os companheiros é muito bem trabalhada, perceptível no momento em que ambos se interessam pela mesma moça e se entreolham.
A fotografia abusa dos contrastes, estourada nas cenas diurnas. Já nas noturnas, a pele curtida de sol dos personagens é ressaltada pelo trabalho com velas e pouca iluminação. Contudo, Mauro Pinheiro Jr. carrega nos escuros e, às vezes, encobre a fisionomia e as expressões dos atores. Os contrastes exagerados são notáveis entre ambientes internos ou sombras de árvores extremamente escuros e os locais ao ar livre, tão claros que o céu chega a ter uma tonalidade branca e a terra algo próximo do bege, o que não é exatamente agradável aos olhos. A fotografia estourada, uma provável opção cinematográfica, inspira a alta temperatura e a aridez do Nordeste brasileiro. Entretanto, se a intenção era mostrar uma paisagem seca, há escolhas melhores que não perdem de vista a estética. O sertão aparece com mais beleza em filmes fotografados por Walter Carvalho, como Abril Despedaçado e Central do Brasil e nem por isso deixa de transmitir um aspecto de secura e miséria. A direção de arte de Marcos Pedroso é competente, conferindo ao filme um bonito visual de época – estamos aqui em 1942, em plena 2ª Guerra Mundial.
O som do filme e a dicção de alguns personagens, além de um sotaque às vezes de difícil compreensão, fazem com que algumas falas sejam perdidas. Tentei entender o nome “Ranulpho” ao longo de toda a projeção e só consegui tirar a dúvida lendo os créditos finais.
Cinema, Aspirinas® e Urubus começa num ritmo lento, com longos planos da viagem de Johann. É provável que o objetivo do diretor tenha sido o de mostrar a monotonia da jornada do alemão antes de Ranulpho aparecer em sua vida e tornar-se seu companheiro. O filme não levanta bandeiras, evitando ser apelativo com a questão da seca e da fome, presentes no dia-a-dia de tantos brasileiros. A temática é tratada, mas de forma completamente natural. A relação entre os parceiros é, realmente, o que há de melhor no filme, que figura entre os melhores e mais agradáveis nacionais do ano.
Cinema, Aspirinas® e Urubus (2005)
Direção: Marcelo Gomes
Elenco: João Miguel, Peter Ketnath, Hermilda Guedes.
Mariana, concordo com tudo o que vc falou, principalmente no que diz respeito à fotografia do sertão e ao áudio do filme (também perdi vários diálogos).
ResponderExcluirGostei muito do filme mas, ao contrário da maior parte da crítica nacional, preferi o outro grande filme nacional lançado este ano: Cidade Baixa.
Gostaria de ler sua crítica a respeito
Grande abraço!
Marcos Chaves
Marcos,
ResponderExcluirobrigada pelo comentário :) Quanto à "Cidade Baixa", não consegui ver a tempo e já saiu de cartaz aqui em BH, infelizmente. Fica para mais tarde, então!
Abraços,
Mariana
Olá meus queridos, Mariana e marcos.
ResponderExcluirGostei da Critica da Mariana, nem sei se vou postar a minha, pois a dela abrange bem. Mas qeuro pontuar algumas coisas:
Gosto muito da Fotografia. Uma fotografia árida e demasiadamente estourada. Acho que nos remete um pouco ao cinema Novo de Glauber. Usar a fotografia como item narrativo é bem dificil, e no filme, ele funciona bem. O incomodo que é aquela imagem lavada, mostra-nos o quão dificil deve ser viver no sertão. Não gosto muito desse excesso do "belo" que o cinema em geral visa. Adorei esse novo caminho desbravado por este filme.
Tem uns lances ótimo sobre a participação do Brasil na Guerra. No rádio podemos verificar os ataques que barcos e navios brasileiros sofreram de submarinos nazistas. Adorei, pois é um página da estoria do Brasil na Guerra muito pouco comentada. O roteiro ambienta bem o Brasil de 1942. O Roteiro ganha a nota 10 ao ligar ao agrande exodo para Amazonia na epoca, quando os nordestinos iam para os seringuais fazer boracha para os Americanos. Maravilha. O final do filme acaba soando triste, pois o alemão Jahoan, estaria fadado a morte, pois na amazonia milhares de nordestinos foram vitimados pela malária. A muito no filme, que está além do que está impresso na pelicula.
Abraços
Gilvan, acho que deveria postar sua crítica. É um novo olhar.
ResponderExcluirSobre a fotografia, é uma questão difícil de se avaliar. Eu gosto quando a fotografia do filme é trabalhada de forma a transmitir alguma idéia. Mas também gosto do cuidado com a estética. Adoro filmes bonitos. Penso ser possível fazer filmes belos que comuniquem sensações ruins. Não que o filme seja feio, de forma alguma. Bom, acho que isso é pessoal.
Abordar a participação do Brasil na 2a Guerra é um mérito do filme, sim.
Abraços,
Mariana :)
É isso aí galera! O bom é ouvir pontos de vistas distintos...
ResponderExcluirGilvan (meu bom companheiro na arte de admirar PTA), vc viu Cidade Baixa? Não é porque sou baiano não, mas o filme é muito bom, mostra a real vida daquela gente da cidade baixa, muito diferente da minha aqui da cidade alta, mas não menos repleta de paixões, medos, ambições, etc...
Sou fanzão desse filme.
Mais uma vez, adoro este blog de vocês!
Grande abraço!