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O Terceiro Olho

Alguns filmes precisam ser vistos mais de uma vez. Alguns pela complexidade do enredo, como Amnésia e Clube da Luta. Outros, pelos detalhes que só são percebidos à segunda vista, como O Sexto Sentido e Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças. Ainda há aqueles que pela própria beleza merecem ser constantemente revistos como Magnólia e a trilogia O Poderoso Chefão. Entretanto, há alguns que mesmo assistindo duas vezes, não nos convencem . Entre eles, está O Terceiro Olho.

Simon Cable (Ryan Phillippe) acorda em uma cama de hospital e é informado de que morreu. O médico (Stephen Rea) lhe explica que foi ressuscitado e agora apresenta um quadro de amnésia para fatos recentes. Cable não se lembra de como e por que chegou ao hospital. Ele só tem certeza do ano em que acha que está, 2000, porém o ano corrente informado pelo médico é 2002. Compreender e lembrar o que há nesta lacuna de dois anos de memória é o fio condutor da narrativa de O Terceiro Olho.

A primeira experiência com o filme é bastante frustrante. O enredo é complexo e exige grande atenção do espectador para montar o quebra-cabeça das lembranças de Cable. Há uma sensação deliciosa de angústia nesta montagem. Queremos entender e ajudar o protagonista no seu conflito. Porém, a eficácia de filmes de suspense quase sempre é medida pela satisfação do espectador com a resolução do conflito. Sendo mais didático, O Sexto Sentido não seria tão elogiado se não possuísse um final arrebatador. Neste caso, a resolução do conflito extrapolou a expectativa do público.

O final de O Terceiro Olho é o chute no balde que uma vaca holandesa dá, após a ordenha de 50 litros de leite. O espectador monta o quebra-cabeça, percebe que ainda há peças que não se encaixam e aguarda aquele final que possivelmente o fará refazer todo o jogo. Porém, a narrativa opta por uma fraca saída. [Spoiler - Não leia se não viu o filme] Tudo o que você viu é irrelevante, pois Cable está morto. [Fim Spoiler]

À primeira vista, o filme merecia uma estrela. Resolvi assistir novamente e tentar entender qual foi a intenção do roteirista e diretor. Na segunda vez, pude perceber o encaixe de algumas peças, mas ainda assim o resultado final não consegue sair do previsível.

Há três linhas narrativas: os acontecimentos no ano de 2000, (os no ano de 2002) no ano de 2002 e as lembranças de Cable. Os acontecimentos entre os anos interagem até com algum primor. Saliento a seqüência em que Cable foge por um corredor com as roupas sujas de sangue (ano 2000) e através de corte e movimento de câmera termina a cena limpo no ano de 2002. Percebe-se que há talento na direção Roland Suso Richter, mas este esforço cinematográfico é praticamente em vão, tendo em vista o resultado final da obra.

As lembranças de Cable também são divididas. Uma se encaixa com o fato dele ter assassinado o irmão e a outra supõe que tudo não passou de uma série de acidentes. Essa estrutura fica evidenciada através da cena em que Cable tenta jogar o carro com o irmão de um penhasco e outra em que ele opta por levá-lo ao hospital. A placa de sinalização que mostra a direção do penhasco contrária à direção do hospital tem posição fundamental no roteiro. Percebe-se que Cable está tomando decisões. Posteriormente, sabe-se que ele está escolhendo qual é a melhor lembrança, ou qual a lembrança que ele deseja ter.

[Spoiler - Não leia se não viu o filme] O diálogo de Cable com o irmão esclarece que ele está morto e que as supostas lembranças são apenas a junção de fragmentos de memória do acidente com personagens marcantes da sua vida. Entretanto, ele pede ao irmão mais uma chance. Isso me levou a crer que ele é um espírito errante que não deseja assumir o que fez e monta essas lembranças à procura de uma melhor. Assim, a narrativa entra em loop, reinicia, recomeçando do ponto em que o médico informa que ele morreu, mas foi ressuscitado. Cable repetirá até encontrar o que deseja, se é que ele quer encontrar. [Fim Spoiler]

A resolução do filme é uma cópia rasteira da narrativa cíclica (loop) usada em Amnésia. Apesar do fim, sabemos que aquela estória vai continuar a se repetir. O Terceiro Olho tem lá seu grau de tensão, um jogo de quebra-cabeça eficiente, mas peca em não ambicionar ser mais do que uma mera cópia de Amnésia. Seu destino: o esquecimento numa prateleira de locadora, também conhecida como a morte cinematográfica. Terrível coincidência, não?

[Não deixe de conferir – Nada a declarar.]


O Terceiro Olho (2003)
Direção: Roland Suso Richter
Elenco: Ryan Phillippe, Sarah Polley, Piper Perabo, Stephen Rea, Robert Sean Leonard.

Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com

8 comentários:

  1. Cara, q desgraça..

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  2. Eu estou louca com esse filme! É realmente muito complexo. Sinceramente merece estar entre os melhores filmes da minha vida! Já tem mais de uma hora que assisti esse filme e estou até agora tentando colocar as coisas no lugar. E seu post só me ajudou a eu ficar mais confusa ainda! Acho que vou assistir novamente! Até eu conseguir montar ele na minha cabeça! Mais tarde eu volto aqui pra desabafar, ou talvez para xingar mais um pouco, porque eu estou em crise. Até.

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  3. Eu concordo que esse é o pior dos filmes do gênero, mas acho que merece ser visto, principalmente por quem gosta de suspense. Infelizmente o final é fraco.

    Sua análise do filme é muito boa.

    ABS

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  4. Odiei o filme pelo final e sua explicação

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. eu já tinha entendido o filme, mas o que não me explicava era: como uma pessoa morta pode passar os acontecimentos do filme? Vendo seu post entendi isso, espírito? Adorei o filme! Mesmo já tendo entendido o final, pretendo assistir várias outras vezes.

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  7. Gente o filme não tem segredo, tem o uso do QI .. É tipo uma cobra mordendo o próprio rabo .. Agora vcs assistem mais uma vez e note o que eu tô falando !

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  8. E a Ana? Onde ela se encaixa nessa história?

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