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Terra dos Mortos

A volta do pai dos zumbis, George A. Romero, ao gênero que o consagrou quase vira uma obra-prima, pena que escorrega no final. O diretor tornou-se referência após a realização dos três clássicos do horror: A Noite dos Mortos-Vivos (1968), O Despertar dos Mortos (1978) e O Dia dos Mortos (1985). Romero em Terras dos Mortos tem a ousadia (tá faltando "de") estabelecer os zumbis como protagonistas e direcionar a simpatia do espectador a eles.

Você deve estar pensando: calma aí, eu nunca me simpatizo pelo zumbi, e sim pela mocinha loira e peituda que sai correndo gritando. Romero articula com eficiência a narrativa de forma que os prejudicados ou inferiores são os zumbis. Como nós, espectadores, temos tendência a torcer pelo lado mais fraco, logo percebemos que estamos torcendo pelos comedores de cérebro.

A narrativa começa em uma cidade onde já existem mortos-vivos e a sociedade já compreende o problema e como erradicá-lo. Os zumbis vagam em uma parte isolada da cidade. Cercas elétricas, rios e o exército impedem a aproximação deles. Essa divisão é bem explorada e torna-se uma analogia eficiente às divisões sociais do mundo atual.

Após o pesadelo da sociedade nos três filmes anteriores de Romero, neste ela compreende as limitações dos zumbis. Eles são muito lentos, são facilmente distraídos com iluminação e fogos de artifício e basta destruir a cabeça para poder matá-los. Diante disso, eles são presas fáceis ao instinto assassino dos homens. Porém, um dos zumbis gradualmente percebe que a ausência de inteligência é que os torna vítima. Eles começam a pensar e organizar-se contra os humanos. Será que os zumbis leram as obras de Karl Marx ou essa analogia à revolução foi intencionalmente inserida por Romero?

Terra dos Mortos aparenta ser um filme de zumbis intelectuais. O roteiro é muito mais complexo do que um simples exemplar de horror cheio de sustos. A ausência destes sustos pode desagradar aos fãs mais fervorosos da obra de Romero. O diretor parece ter compreendido que o cinema de horror mudou e repetir o que ele já havia realizado só acrescentaria mais um filme em seu currículo. A ousadia dele me agradou plenamente, mesmo que o resultado final não fosse tão eficaz.

Ressalto uma cena em que os zumbis estão nos limites da cidade, porém separado por um rio. Eles temem cair no rio, pois de alguma forma ainda acreditam que são humanos e podem morrer afogados. O líder dá o primeiro passo, cai n’água e percebe que não pode morrer afogado, afinal, já está morto. Pequenas cenas como esta demonstram o potencial cinematográfico de Romero. Os zumbis não se falam, mas compreendemos as situações pelas imagens. A atuação dos atores e o posicionamento de câmera constroem cenas bem eloqüentes.

A presença de atores conhecidos como John Leguizamo e Dennis Hopper pouco acrescentam. O conflito chave entre os humanos é pouco atraente, se compararmos à narrativa dos zumbis. Com isso, o filme acaba perdendo força. Particularmente, torci muito para que os zumbis entrassem logo no shopping e devorassem quem estivesse por lá. Embora não seja a melhor seqüência, ela é bastante comentada pela semelhança com o fraco Madrugada dos Mortos.

Os zumbis finalmente chegam à cidade e promovem novamente o pesadelo. Tive pena dos humanos que não conseguiam fugir, pois as cercas elétricas que defendiam a cidade agora os impediam de sair dela. Aquilo que o protege um dia pode estar contra você. Será que essa cena diz: cuidado com George W. Bush?

Chegado ao clímax uma pergunta recai: como é que esse filme vai acabar? Simplesmente não acaba. O final é bem estranho, para não dizer fraco. Até que caberia um gancho para uma possível continuação, mas nem isso fica claro.[Spoiler – Não leia se não quiser saber o fim do filme] Essa escorregada compromete a compreensão da mensagem, se é que existe uma. O zumbis saem da periferia, promovem a revolução, mostram para os homens que podem se organizar e assim serem temidos e depois voltam para casa de barriga cheia. Seria esta a mensagem? Não sei, faltou alguma coisa neste final.[Fim Spoiler]

Terra dos Mortos é um filme corajoso de um diretor veterano que tentou evoluir o cinema de horror. Escorregou, mas deu um importante passo. Ficou devendo os sustos que os espectadores pagam para ter, mas mostrou que até zumbis podem ser mais politizados e organizados que nós, os vivos.

[Não deixe de conferir: O trabalho de direção de arte de Douglas Slater – um mestre do horror; O DVD possui extras interessantes, em particular o de efeitos especiais]


Terra dos Mortos (2005)
Direção: George A. Romero
Elenco: Simon Baker, John Leguizamo, Dennis Hopper, Asia Argento.

Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com

2 comentários:

  1. minha opinião
    http://movietvaddicted.blogspot.com/2005/10/crtica-land-of-dead.html
    Qto ao final, está a ser feita a continuação da "viagem" dos protagonistas, por isso o final deste filme é mais um fechar de um capitulo abrindo novas possibilidades para o proximo que será mesmo o final!...

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  2. George Romero devia ter dado uma pista maior no filme que Terra dos Mortos é um capítulo. Ficou como cara de - se for bem ganha continuação, senão fica no limbo mesmo.
    Não deu para engolir. O Filme é muito bacana e ficaria excelente se ficasse claro que aquilo é apenas o começo da revoluçào... faltou coragem e peito.

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