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Turistas

Publicidade e marketing são elementos fundamentais de uma das fases mais difíceis da realização cinematográfica – a distribuição. A obra é feita para ser vista, e para tal, é preciso que as pessoas [consumidores] saibam que ela exista. Curiosamente, este é o ponto em que o cinema brasileiro peca. Fazem-se bons filmes, mas o grande público nem sabe que ele existe. Veja como teste: você já assistiu ao documentário A Margem da Imagem ou ao excelente filme de Beto Brant, Ação entre Amigos? Turistas é um filme bobinho e despretensioso, que graças à divulgação [mesmo involuntária] da Embratur, grande parte dos brasileiros sabem que existe, e possivelmente vão assistir.

O longa, supostamente de terror, explora um grupo de jovens estrangeiros que viajam pelo Brasil em busca de diversão. Após um acidente, o grupo descobre as belezas e delicias de uma cidade praiana. Bebidas, músicas, mulheres, sexo e o mar. Tudo que só o Brasil pode oferecer aos gringos. Porém, há algo de estranho, tanto no ar, quanto nas bebidas.

A discussão que houve em torno de Turistas, que o filme prejudicaria o turismo no país, é uma bobagem. Inicialmente ele seria ambientado na Guatemala, mas devido à infra-estrutura cinematográfica e as locações brasileiras optaram por rodar aqui. Portanto, já há algo positivo em relação ao Brasil, pois ele é o primeiro filme norte-americano inteiramente rodado no país. Segundo, todas atrocidades vinculadas ao país, de certa forma, acontecem com turistas. Nenhum turista acordou roubado após tomar uma caipirinha com boa noite Cinderela? Ou, nenhum turista foi saqueado na Van enquanto trafegava na linha vermelha?

Hipocrisias à parte, Turistas é uma versão melhorada [ou digo, menos ruim] da mesma trama apresentada em O Albergue. Muda-se o país, e coloca uma pitada a menos de violência gratuita para temperar. Embora soe mais agradável, mesmo diante de uma narrativa frouxa e sem ânimo, os amantes do novo terror gore-pop ficarão desapontados com as poucas cenas de sofrimento, afinal, o gore-pop se alimenta do sofrimento na tela e na platéia. No fundo, o filme tenta ser e proporcionar a angustia sentida em Wolf Creek - Viagem ao Inferno, mas passa longe.

Entretanto, não se pode dizer que Turistas é péssimo. Apesar das fraquezas, o longa apresenta um perigo relevante para atual juventude “baladeira”. Uma bebida alterada por drogas ou soníferos pode resultar em estupro, assalto, seqüestro e morte. Os turistas do filme são utilizados como peças ingênuas para o jogo que pretende a trama. Perceba a ingenuidade, quase estupidez, dos turistas ao seguirem Kiko(Agles Steib) para a fatídica cabana no meio da selva. Se há alguma crítica no filme, essa deve ser a burrice dos turistas e não as mazelas brasileiras.

Evidencio dois pontos: a engraçada e equivocada estilização da precariedade brasileira através do ônibus da abertura do filme e a salada de idiomas que a personagem Kiko faz usando o inglês e o português. De tão ruim, acaba ficando bom.

Turistas é um terrorzinho light de fim de semana, daqueles para se assistir com a família e, meia hora depois, nem se lembrar dele. Amedrontante é perceber a fragilidade da Embratur diante de uma questão tão patética. O que acontece na trama do filme poderia ocorrer em qualquer lugar do mundo, basta beber a bebida errada. Chers, ou melhor, saúde.





Turistas (Turistas - 2006)
Direção: John Stockwell
Elenco: Josh Duhamel, Melissa George, Olivia Wilde, Desmond Askew, Beau Garrett, Max Brown, Agles Steib, Miguel Lunardi.

Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com

2 comentários:

  1. Filmes internacionais rodados aqui no Brasil sempre são polêmicos e Turistas não fugiu à regra. Foi motivo de piadas e grosserias, inclusive. Não curto muito o gênero, então acho hipócrita malhar o filme. A pergunta que fica é: o que leva o governo brasileiro (e principalmente o ministério do audiovisual) a permitir que essa tipo de filme se realize?

    (http://claque-te.blogspot.com): A Rainha, de Stephen Frears.

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  2. Caro Roberto,

    De certa forma, acredito que eles queria incentivar a produção de mais longas [gringos] aqui, e assim, fomentar a indústria interna do cinema. Perceba que boa parte do corpo técnico do filme é brasileiro.

    Se só aceitarmos filmes bacanas, que falem bem da gente, não vamos ter nada. Veja o caso do recente boom de filmes ambientados na África [Hotel Ruanda, O Jardineiro Fiel, O Último Rei da Escócia]. Nenhum pega leve com o continente/país.

    Primeiro eles batem, depois eles descobrem as belezas. Só espero que também queiram usar nossas belezas para ambientar os filmes - como foi o caso da Nova Zelândia ao ser temporariamente a Terra Média da Trilogia O Senhor Dos Anéis.

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