Header Ads

O Bom Pastor

A definição mais apropriada para O Bom Pastor, novo filme dirigido por Robert De Niro, é elegância. O filme que tem a estréia prevista para o dia 17/03 nas telas brasileiras esbanja bom gosto, boas atuações e traz um roteiro primoroso que apresenta uma página singular da história americana. O longa narra a criação da Central Intelligence Agency (CIA) através do olhar e da vida de um dos seus colaboradores, Edward Wilson (Matt Damon). A inteligência e discrição de Edward propiciam uma carreira na CIA, o que se mistura com a história da própria vida.

Em sua segunda incursão assumindo a batuta de diretor, a primeira foi no bom Desafio no Bronx, de 1993, De Niro realiza um belíssimo trabalho em que busca alinhar cuidadosamente todos os elementos que compõem um filme. Começa pelo excelente roteiro de Eric Roth que adota uma narrativa não-linear que torna a estória mais intricada e instigante. Dosa pontualmente as pistas e os conflitos ao longo da trama, tornando o filme mais atraente e sem nunca perder a atenção do espectador, apesar dos 167 minutos de duração. A cena final da carta demonstra claramente como as peças que formam a estória estão brilhantemente encaixadas.

O filme prima por uma elegância estética invejável. A direção de arte, figurino, maquiagem e fotografia se encontram com uma suavidade ímpar, méritos da direção de De Niro. Está tudo no tom certo, sem excessos ou exibicionismo. Os planos são tão discretos quanto o protagonista, mas que transmitem informações com inteligência, relatando a cena como ele deve ser dita. O ligeiro frescor das cenas do ínico do longa vão se tornando mais frias e rígidas, acompanhando assim a trajetória do protagonista.

A discrição, que é a característica preponderante de todos elementos do filme, inclusive da personalidade de Edward, se faz também presente na trilha sonora. Porém, ela é o ponto inicial da seqüência mais virtuosa de O Bom Pastor, em que se explora toda a angústia e suspense da trama através de um solo de violino. Uma união maravilhosa e rara de quase todos elementos do filme – trilha, atuação, roteiro e a montagem dos planos.

Diante de uma equipe deste gabarito Matt Damon desenvolve a melhor atuação da carreira. A evolução dos trabalhos que ele vem apresentado está em uma agradável crescente, mas em O Bom Pastor é preciso ratificar – o rapaz tem um baita potencial. Edward é uma personagem tímida e contida em suas ações. Suas demonstrações comportamentais quase todas residem no olhar. De Niro aponta a câmera para o olhar de Damon, e ele apresenta um trabalho digno de indicação ao Oscar. O restante do elenco, repleto de estrelas, apenas alicerça a atuação de Damon. Vale salientar a pequena participação de Joe Pesci e o arrebatador diálogo que ele tem com Edward. Que saudades de Joe Pesci na telona.

Todo aspirante a conspirador, no qual me incluo, sabe ou supõe de algo escuso que envolva a CIA.[reza a lenda que o tráfico de drogas mundial é gerido pela CIA] O longa apresenta a origem e o que motivou a criação da agência. O filme traz uma discussão salutar sobre a disparidade entre a concepção de uma idéia e a realização da mesma. A CIA foi criada para um objetivo até coerente, mas que ao longo do tempo pode ter se desvirtuado. Interessante é que através do ato de Edward tentar proteger o filho e a família, o longa constrói um paralelo entre o que o pai fez pelo filho e o que CIA faz pelos EUA. A coerência com que a estória de Edward se funde com a da CIA é o segredo da eficiência e força do filme.

Infelizmente, e estranhamente, O Bom Pastor não ganhou a visibilidade digna do seu primor cinematográfico e do nome De Niro atrás das câmeras. Isso se explica, pois o longa cutuca, mesmo que com elegância, em uma importante entidade da democracia americana. A seqüência do interrogatório e tortura do agente russo, em que há uma crítica voraz a Guerra Fria, comprovam a acidez e o claro posicionamento dos realizadores sobre o tema. De Niro demonstra que sabe e quer fazer bons filmes, seja atuando ou dirigindo. As incursões equivocadas dos seus últimos projetos provam que parecem faltar equipe e boas oportunidades a altura desta estrela.


O Bom Pastor (Good Shepherd, The - 2006)
Direção: Robert De Niro
Elenco: Matt Damon, Angelina Jolie, Alec Baldwin, Tammy Blanchard, Billy Crudup, Robert De Niro, Keir Dullea, Michael Gambon, Martina Gedeck, William Hurt, Timothy Hutton, Gabriel Macht, Joe Pesci, John Turturro..

Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com

Nenhum comentário

Tecnologia do Blogger.