Um Amor para Recordar

Finalmente um filme ruim neste blog

Ultimamente tenho realizado bons comentários sobre ótimos filmes. Acho que um bom filme acaba nos envolvendo a escrever algo no mesmo patamar. Mas, como a vida não é dotada só de maravilhas e o cinema também, vamos falar mal de algo. O filme em questão é Um Amor para Recordar. Após um dia cansativo de estudos vou para a casa da namora assistir a um filme. Ela escolheu na locadora e veio toda contente me mostrar. Vamos conferir. Ao fim da jornada eu não parava de rir, ao ver literalmente uma novela mexicana nos moldes cinematográficos.
A trama é simplista. O garoto popular da escola se envolve com a garota CDF, que usa o mesmo suéter há uns 10 anos e canta no coral da igreja. Gradativamente ele vai se apaixonando, contrariando seus valores e o grupo de amigos em que se identifica. Quando finalmente ele vence os conflitos dentro de si e entrega-se a paixão, descobre que a amada possui uma doença incurável e ela morre. The end. Já vi uns 20 filmes assim, mas nem por isso uma estória não possa ser recontada com um novo frescor. Minha esperança se afunda em um roteiro previsível e atuações fracas. A piada recorrente e cansativa que os amigos fazem sobre o suéter verde só não é mais engraçada com a previsibilidade do protagonista dar um outro suéter para a amada. Claro que a cor do novo suéter é rosa, como era previsto.
Respeito a opção melodramática que o filme adota, que até funciona. Ao menos todas as mulheres da república onde minha namorada mora choraram arduamente com o final previsível. O pior é querer fundir melodrama e poesia. “O amor é como o vento, não se pode ver, mas se pode sentir”. Essa é a principal frase do relacionamento entre os protagonistas.
Mas pode ser pior. Como diz o velho ditado, não há nada tão ruim que não possa ser piorado. A linda ex-sereia Daryl Hannah, que recentemente fez Kill Bill, está horrenda no papel de mãe do protagonista. Péssima atuação além do mau gosto da produção com as perucas da personagem. Outro nome que aparece é de Peter Coyote, como pai do protagonista. Totalmente sem sal. Fica notório que não citei o nome dos dois atores que protagonizaram este filme. Respeito é claro. Para se chegar ao sucesso em Hollywood, os atores se submetem a coisas horrendas. Não quero queimá-los, Mandy Moore e Shane West. Ops, escapuliu.
Escrever sobre esse filme foi algo importante para perceber o abismo que é o gosto das pessoas. Esse filme é venerado, como se pode ver nas críticas dos leitores nos sites Cineminha e Adoro Cinema. Nem sempre o cinema bem realizado agrada ao público. Este que é fraco, nos aspectos cinematográficos, cai no gosto das pessoas por causa do formato novelesco, que no Brasil funciona há várias décadas.
Fica difícil creditar algo a um filme onde o que deveria ser o ápice dramático, a morte da garota, faz-se um “fade in” em branco com o off: “E assim ela morreu”. Destrói qualquer impacto que por ventura o filme tentou criar para aquele momento. Convenhamos que um filme que se chama Um Amor para Recordar, já deixa demasiadamente explicito que um dos dois protagonista deve morrer ou se distanciar para sempre. Pois se é pra recordar, deve ser recordar de algo que já se foi. É cinema mastigado, pronto pra engolir. Troféu Ed Wood do Ano.

Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com