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Tudo Acontece em Elizabethtown


Tudo Acontece em Elizabethtown mostra o percurso do jovem Drew após ser demitido por uma grande companhia na qual trabalhava com afinco há 8 anos. Como se não bastasse o prejuízo de $972milhões de dólares (!) que causou à empresa e o completo fiasco de sua invenção, recebe toda a reprovação e pena nos olhares de seus colegas. Como se isso fosse pouco, sua namorada o dispensa. E como se isso ainda não fosse suficiente, ele recebe a notícia de que seu pai Mitch faleceu! Todos os eventos provocam uma reviravolta no personagem, como era de se esperar a qualquer mortal acometido por tantas tragédias em um curto espaço de tempo, mas que, no entanto, não mobilizam nem uma sobrancelha sequer de Orlando Bloom. Até mesmo ao cogitar um suicídio, o personagem se mostra impassível. Sabe-se que pessoas lidam de formas diferentes com seu sofrimento e com o luto, variedades estas exemplificadas no filme através do comportamento hiperativo da mãe e do choro da irmã de Drew. Sabe-se também que há pessoas que, num primeiro momento, não percebem a dimensão do que lhes aconteceu e continuam com a mesma disposição emocional anterior e somente mais tarde, quando “a ficha cai”, eles desmoronam em pranto e dor. E foi com esse último pensamento que tentei absolver Orlando Bloom de sua atuação uniforme, imaginando sempre que, ao final do filme, o momento “queda da ficha” aconteceria e todo o seu comportamento anterior seria justificado (mas não admirável, pois a fórmula "personagem que nada expressa e se mantem forte durante toda a história mas ao final passa por uma terrível catarse" já está um tanto quanto batida). Mas não! Nada disso! Drew tem a mesma expressão do início ao fim do filme, o que sugere uma simples falta de competência e talento de seu intérprete. Poderia até ser que a intenção do diretor fosse mostrar um jovem que não tivesse se dado conta de sua infelicidade ou que estivesse segurando seus sentimentos ou ainda que fosse simplesmente frio e seco, mas a insistente tentativa de suicídio no filme torna todas essas possibilidades incoerentes. Ninguém tenta se matar com aquela cara.

Quando a atuação de um protagonista prima pela mediocridade, o filme sofre graves conseqüências. Como se envolver no enredo, acompanhar e até torcer por uma figura para a qual a expressão e o carisma mandaram lembrança? Talvez Cameron Crowe tenha se valido apenas da fofura de Orlando Bloom. Aponto também falhas na construção do roteiro que não destaca nenhuma qualidade ou elemento cativante na personalidade de Drew. Por que haveríamos de admirá-lo? Tudo o que sabemos é que ele fracassou em seu emprego - mas nem por isso se torna um loser cativante como os encarnados por Paul Giamatti -, cultiva a oleosidade de seu cabelo e não havia sido muito próximo de seu pai nos últimos anos já que estava se dedicando à empresa. É possível perceber que suas lembranças com o pai são apenas da infância e todo o tempo que o filho o deixou de lado para investir no trabalho foi em vão. E assim foi desperdiçada uma grande deixa para se trabalhar questões de culpa e sentimento de fracasso de vida. Provável falha também no roteiro e na direção de atores.

Felizmente, o desempenho do ator não consegue afundar o filme que conta com alguns bons recursos. Há Susan Sarandon, maravilhosa especialmente no discurso final. Emociona, com serenidade e sem apelações, ao expor seu sofrimento frente a um público que a odeia, mostrando ser capaz de rir de si mesma. Pontos para o texto e para o singelo número de música e sapateado. Kirsten Dunst também convence como Claire, a garota decidida que traz um pouco de leveza e alegria à fase difícil do personagem. A família do pai Mitch, como um todo, tem boas atuações.

Como em trabalhos anteriores (Quase Famosos, Vanilla Sky), Cameron Crowe faz uma bela seleção musical. A trilha sonora, de destaque, acompanha o filme em seus bons momentos e encanta o espectador. Há também belas imagens e cores vivas, em especial da viagem de Drew e as cinzas do pai seguindo todo o roteiro de Claire, o que foi bastante coerente com sua profissão de aeromoça e, portanto, viajante. A moça tem muito a ensinar a seu par no que diz respeito a formas de lidar com o fracasso e enfrentamento da vida. Enquanto Drew se afunda, Claire é só sorrisos e delicadezas aos raríssimos clientes de sua companhia aérea, em provável via de falência. É dela (na verdade de Crowe, mas enfim) algumas das mais bonitas frases do filme, aconselhando-o a seguir em frente, persistir ao ponto de fazer as pessoas se perguntarem porque ele continua sorrindo. Talvez seja esse o seu próprio lema. Interessante, a moça.

Tudo Acontece em Elizabethtown (2005)
Direção: Cameron Crowe
Elenco: Orlando Bloom, Kristen Dunst, Susan Sarandon, Alec Baldwin.


Mariana Souto - souto_mariana@yahoo.com.br

4 comentários:

  1. Muito Boa Crítica. O ponto levantado merece ser analisado, se realmente Bloom afunda o filme. Não vi, mas gerou um certa curiosidade sobre a performace de Kirstem Dunst.

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  2. Não é que afunda o filme, mas que atrapalha, atrapalha!

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  3. Olá Mariana,

    Confesso que gostei bastante do filme. Encaro-o como uma história de reencontro, de auto-conhecimento. Sabe aqueles momentos em que o mundo desaba e que nada daquilo em que acreditávamos parece paupável?Discordo, pois, um pouco da crítica. O filme como um todo é extremamente agradável... Concordo que Orlando Bloom deixou a desejar em sua atuação. Mas Kirsten Dunst está encantadora. Além disso, a história segue um trilho encantador e demonstra-se desnecessária a citada "queda da ficha". Depois conversamos mais sobre o filme... Não achei excelente, mas gostei muito... De qualquer modo, a crítica está muito bem escrita. Parabéns!

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  4. Gostei do seu comentário! Crítica é para isso mesmo, levantar questões e cada um pode concordar ou não... Eu fiquei desconcentrada pela péssima atuação do Bloom e talvez tenha falado muito sobre isso na crítica, mas achei o filme interessante e agradável sim. Também gostei do resultado como um todo. Acho que vale a pena ser assistido.

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