Trem para Busan
Trem para Busan deveria ser mais um filme de zumbis em que um grupo de pessoas tenta desesperadamente se salvar, alguns morrem e muitos poucos chegam vivo até o fim da jornada. Esse inusitado longa sul-coreano traz não só toda gramática que envolve o gênero, mas acerta em cheio no ritmo vibrante que lembra um filme de aventura, estilo blockbuster, e pincela com um bom contexto dramático. Desde Extermínio não vejo algo tão delicioso no gênero.
O roteiro faz a escolha certa, para se alinhar ao ritmo alucinante proposto, ao optar por zumbis raivosos e corredores, ao estilo Extermínio. Contudo dá um quê diferente a eles com a questão da luminosidade, o que me remeteu as criaturas horrendas de Abismo do Medo. Você notou as duas referências a dois clássicos modernos do horror? Calma, tem mais.
Trem para Busan começa lento e mostrando a relação distante de pai e filha, que pode soar chato para nosso olhar doutrinado do cinemão hollywoodiano, mas aguarde, essa camada dramática será muito proveitosa lá na frente. Pai e filha embarcam em um trem e é lá dentro que toda a trama se desenrola. Já vimos algo parecido no fraco remake Quarentena 2, em que a trama se desenrola, em grande parte, dentro de um avião. Mas aqui o belo roteiro, do também diretor estreante Sang-ho Yeon, lida muito bem com a relação e o conflito entre os passageiros em busca da autopreservação. É nesse ponto que o longa se distingue dos demais da linhagem zumbi, no aspecto dramático. Em 1968, quando o mestre dos mortos, George Romero, lançou A Noite dos Mortos Vivos ele trouxe um filme de drama, travestido de terror, para refletir quem são realmente os monstros do nosso mundo. O tal holocausto zumbi está acontecendo faz anos e Romero está avisando isso desde de 1968. Há quem diga que Romero foi o pioneiro no mundo zumbi, mas em 1932 já tínhamos o pouco conhecido e que você deveria correr atrás para ver, White Zombie. Trem para Busan usa esse microcosmos do trem para refletir sobre o comportamento humano diante da eminente morte. Perceba o tratamento dos personagem executivos, incluindo o protagonista, com a questão do egoísmo e como isso pode ser nocivo para a sobrevivência do grupo.
Quando percebo que há uma limitação espacial para o filme, no caso a trama acontece em grande parte dentro do trem, normalmente é em função de restrição econômica. Se não tem muita grana, restringe o raio de ação das personagens. Mas aqui, dinheiro não me parece o problema, com as enormes cenas de ação, incontáveis figurantes e bons efeitos especiais. Foi sim uma escolha narrativa e que me deixou sorridente, não pela ousadia, pois já se viu o mesmo dentro de um shopping em Madrugada dos Mortos, mas pela forma sútil como a trama nos conduz trem a dentro e estabelece uma boa conexão entre o público e os dramas dos personagens. Olha que Trem para Busan é muito melhor que o remake de Madrugada dos Mortos dirigido pelo hoje homem forte da DC, Zack Snyder, e dá um banho no megalomaníaco Guerra Mundial Z.
Se a Coréia do Sul já nos deu o ótimo O Hospedeiro, o instigante Loucura, agora temos em Trem para Busan o melhor filme de zumbi em anos no cinemão. Ele é um filme obrigatório para quem surfa na atual onda zumbi depois do sucesso de Walking Dead.
Trem para Busan (2016)
Direção: Sang-ho Yeon
http://www.imdb.com/title/tt5700672/
Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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