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Ponte dos Espiões


Fiz uma pesquisa prévia na minha memória cinematográfica e sei que posso errar, afinal, não vi todos os filmes já lançados sobre o tema, mas para mim Ponte dos Espiões é o melhor filme sobre espionagem já realizado pelo cinema. Hitchcock deve estar se remoendo e gritando na tumba: "Blasfêmia, eu sei que você viu Intriga Internacional". Desculpe Alfred, mas Spielberg se superou, de novo. O longa é uma aula de cinema, do roteiro esplêndido, passando pela direção do mestre, uma fotografia linda, um designer de produção espetacular e as atuações certeiras de Tom Hanks e Mark Rylance. Ponte dos Espiões é uma obra de arte digna de ser estudada durante anos nas escolas de cinema pelo mundo.

A carreira Spielberg sempre foi marcada entre o cinema pipoca "espetaculoso" e a tentativa de abordar temas mais adultos. A crítica aceitava, um tanto de nariz torcido, obras lindas como A Cor Púrpura e Império do Sol até que um dia se curvou ao pungente A Lista de Schindler. Mais recentemente cavalgou trôpego em seu Cavalo de Guerra, mas foi liberto e salvo por Lincoln. Mas já fazia algum tempo, desde 1998 com O Resgate de Soldado Ryan, que o diretor não chutava a porta e bradava: "Aqui é Spielberg, pô!!". Ponte dos Espiões poderia ser um filme lento e arrastado sobre um advogado que é esculhambado por defender um espião russo durante a Guerra Fria e que acaba virando um negociador em uma Berlim sendo dividida por um muro. Nas mãos do "Mister ET, telefone, minha casa" vira um do filmes mais elegantes dos últimos anos.
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Tom Hanks é Tom Hanks e o sujeito além de trazer todo know-how técnico que a personagem necessita, ele lhe confere alma. O longa é um debate sobre direitos. Não falo estritamente sobre advocacia ou leis. Todos nós temos direitos, ainda que você pertença ao time adversário ou ao outro lado da guerra. James Donovan (Hanks) era um humanista que defendia fazer o que é correto. O estupendo roteiro de Matt Charman e os irmãos Coen vai deixando um rastro de pequenas pegadas mostrando onde está a trilha do correto e pincela, de forma oposta, como a sociedade americana nem sempre segue por esse caminho. Qual a diferença de se eliminar um judeu que era visto como prejudicial à sociedade nazista, de um espião russo visto da mesma forma pelos americanos? Ambos mereciam morrer só por estarem do lado oposto? Se analisarmos friamente, o absurdo muro de Berlim só caiu em 1989, isso tem menos de 30 anos. Não é preciso ir tão distante, pois as torturas em nome da caça aos terroristas realizadas em Guantánamo foram encerradas antes de ontem, só em 2009, por um tal Barack Obama.

Ponte dos Espiões é uma aula de cinema, mas é primeiro uma lição de como lhe dar com quem está do outro lado. Os americanos trocaram dois por um na ponte que unia as Alemanhas Oriental e Ocidental e saíram em vantagem. Mas qual é a vantagem de vivermos divididos ao meio, mas habitando a mesma casa, o velho e bom planetinha Terra? As coisas não mudaram tanto de 1957 pra cá. Só trocaram os espiões de carne e osso, por computadores, não é Snowden? Estamos precisando de mais gente como James Donovan para atuar como "facilitadores/negociadores" e assim dar solução a assuntos que se arrastam por anos aqui no planetinha azul. Enquanto isso não acontece é bom agradecer Steven Spielberg e sua trupe por nos lembrar e inspirar com essas histórias.

Ps.: Há uma mensagem subliminar para espiões nessa resenha. Após lida, destrua o dispositivo.



Ponte dos Espiões (2015)
Direção: Steven Spielberg
http://www.imdb.com/title/tt3682448/

  Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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