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O Regresso

O Regresso pode ficar associado com a alcunha de "o filme que deu o Oscar para Leonardo DiCaprio" (ah, sim, vai dar), mas seria reduzi-lo, pois o longa é maior que isso. Uma espécie de Náufrago no meio da floresta gelada, também o apequenaria. Um "filme vingança" com um espetacular diretor no comando? Também seria diminuí-lo. O Regresso é um filme tão vigoroso e intenso, que posso me equivocar, mas não vejo algo tão pungente na lista do Oscar de melhor filme, desde Beleza Americana (2000) e O Resgate do Soldado Ryan (1998). Ou seja, o filme é uma pedrada no espectador.

Vamos começar por DiCaprio, que de longe, é a sua melhor atuação na carreira. Com poucas falas e muita expressividade não só vemos, mas vivenciamos as agruras que sua personagem, Hugh Glass, tem que passar para chegar ao seu objetivo. Não vou dar spoiler nenhum, afinal o longa tem uma força tão bacana, que o impacto dele só deve funcionar uma vez, na primeira apreciação. É óbvio que teremos que ver duas vezes, pois há tanta coisa linda e bem realizada nessa produção, que muito deve nos escapar. Mas quem nunca não solta a nossa mão é DiCaprio, digo, Glass, que nos faz arrastar junto dele sobre o chão duro e coberto por neve. Cada gemido de dor dele, não se assuste se você gemer junto. Se a atuação dele em O Lobo de Wall Street já tinha nos deixado boquiabertos, se prepare para esse feito.

Não é só o trabalho de DiCaprio que nos causa espanto, mas como uma história tão simples, de caçadores que precisam voltar depressa para casa no cenário pós-Guerra Civil Americana, pode render uma deliciosa e enérgica narrativa sobre sobrevivência, dor e vingança. O poder artístico de um artista é tornar o simples, incomparável, sensacional e espetacular. É nesse ponto que é preciso se curvar ao talento da direção de Alejandro Iñárritu. Se na temporada passada ele ampliou seus horizontes no estranho e complexo Birdman, aqui ele parece voltar às suas raízes de Amores Brutos, em que a doçura e o amargo não são tão fáceis de distinguir, mas a combinação produz um sabor único. O Regresso é um filme feroz e, por vezes, violento. Mas como o espectador está dentro do filme, ao lado de Glass, ele salienta pra si mesmo: "eu faria o mesmo". O trabalho de direção de Iñárritu é encantador, vide os pequenos planos sequências que mostram muito da narrativa em tão pouco. Ele realiza essa maravilha com o primor cinematográfico que os só mexicanos andam fazendo em Hollywood, vide Alfonso Cuarón no recente Gravidade e também em Filhos da Esperança.

É claro, para uma boa trama é sempre fundamental ter um bom vilão. Eles só escalaram Tom Hardy, ou seja, quais a chances de dar errado? Fitzgerald (Hardy) é um vagabundo, salafrário, que dá vontade de matar aos poucos, tamanho o ódio que o espectador tem por ele. Some então: dois ótimos atores, uma baita direção, fotografia impecável e um roteiro bem amarrado com um ritmo surreal. O resultado é um filme indo de encontro à perfeição e que ainda, consegue pontuar de modo sutil e sem ser pedante, como a América precisa preservar as comunidades indígenas. Ainda que o filme soe "perfeitinho" de cabo a rabo, eu sempre cobro que eles tenham algo mais, tenham alma. O Regresso esbanja alma ao mostrar um homem que devia estar morto, mas se levanta para ir cobrar aquilo que lhe devem e só ele deve conquistar.



O Regresso (2015)
Direção:  Alejandro González Iñárritu
http://www.imdb.com/title/tt1663202/

  Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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