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Elefante Branco

O cinema argentino vem se destacando ano após ano, sobretudo, nas histórias escolhidas por seus realizadores, que atingem universalmente os espectadores, mas sem perder a assinatura latino-americana. Símbolo desse alvorecer cinematográfico dos hermanos é retratada na face do ator Ricardo Darín. Se tem Darín no elenco, pode embarcar e curta o filme. É isso que eu digo desde 2000, quando conferi o sensacional Nove Rainhas. Elefante Branco é a segunda parceria de Darín com o diretor Pablo Trapero, que trabalharam antes no ótimo Abutres. Se no longa anterior Trapero discorria sobre submundo sujo do trânsito e o seguro contra acidentes, nesse filme ele aperta ainda mais a ferida mostrando a omissão da política e da igreja diante dos problemas sociais.

Ambientado na periferia de Buenos Aires, o longa mostra o árduo esforço do padre Julián (Ricardo Darín) para transformar um hospital inacabado, chamado vulgarmente de Elefante Branco, em um conjunto habitacional para os moradores nos arredores da paróquia. Para realizar essa empreitada o padre irá precisar de muito mais que fé e apoio da comunidade, ele terá que lidar com a preguiça burocrática da política e as mazelas que mais crescem na sociedade, o tráfico de drogas e a violência.

Padre Julián é um homem como qualquer um, com seus medos, anseios e vícios, que não tem nada de celestial só pelo fato de ser um sacerdote. Ele segue os preceitos cristãos ao perseguir por anos ums melhor qualidade de vida para seus fiéis. Curioso é que, Trapero faz questão de mostrar, vez ou outra, as celebrações de missa na pequena igreja, que está, sempre, com poucas pessoas. Ainda que moradores não retribuam comparecendo à paróquia, Padre Julián permanece trabalhando por eles. O longa espreme um pouco mais essa nunce humana dos padres, ao sugerir uma relação amorosa, mas o que acaba não gerando um resultado tão satisfatório para narrativa.

Trapero é mais feliz ao retratar como o esforço das pessoas em realizar o bem, em ajudar o próximo, fatalmente vai minguando diante da morosidade e do descaso dos poderosos. São eles que decidem. Mesmo que a sociedade se junte e proteste, o máximo que acontece é a polícia aparecer e pessoas saírem feridas. A cena da reunião de Julián com os chefes da igreja, pedindo para agilizar as obras é de encher de ódio o espectador. Engraçado é constatar que esse drama argentino podia muito bem ser aqui no Brasil. Temos favelas até piores, obras gigantescas inacabadas e esquecidas, e um sistema político que não consegue promover melhorias à população. Dói ainda mais, nas cenas finais, ver um monte de sacerdotes, ditos seguidores dos preceitos cristãos, que  ficam reclusos e meditando, enquanto podiam estar na rua contribuindo da mesma forma que o Padre Julián. Trapero nos questiona: que cristianismo é esse? Convenhamos, há algo errado acontecendo no mundo e filmes como Elefante Branco são essenciais para nos dar aquela acordada. Uma pena que o argentinos não devam conhecer o mestre Rui Barbosa, que em 1914 já dizia: "De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto."



Elefante Branco (Elefante Blanco - 2012)
Direção: Pablo Trapero
http://www.imdb.com/title/tt2132324/
Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com

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