Faroeste Caboclo
"Não tinha medo o tal João de Santo Cristo..." dava-se início a jornada narrada pelo trovador candango Renato Russo que ganhou uma boa adaptação cinematográfica, mas longe do brilhante lirismo da canção. Se ao adaptar um livro o cinema fica, quase sempre, um passo atrás, não era de ser diferente na música. A saga do triângulo amoroso regado a cocaína e maconha de João, Maria Lúcia e Jeremias talvez tenha sido um passo muito ousado do diretor estreante René Sampaio. O longa tem sua falhas, mas vale pela tentativa rara de adaptar a narrativa de uma canção para dentro da telona.
Logo no início já percebemos a gramática western sendo trabalhada, com planos fechados nas armas e nos olhos, remetendo aos clássicos de Sergio Leone. Sim, fica muito claro, isso aqui é um filme de bang, bang, um faroeste brasileiro. O começo do longa é fascinante e a expectativa vai só aumentando. A escolha de Fabrício Boliveira para viver João de Santo Cristo é muito acertada, pois no olhar dele você sente a dor e a frieza que o protogonista passa. Já a Maria Lúcia (Isis Valverde) e Jeremias (Felipe Abib) soam menores e menos impactantes do que deveriam. Jeremias é um vilão sem graça e inexpressivo, o que não caracteriza para o espectador uma grande ameaça para o mocinho, João. Ainda assim a jornada é coerente e, mesmo sabendo como toda aquela história vai acabar, afinal quem já escutou a música o sabe, o espectador assiste ansioso. Uma pena que o roteiro derrapa onde justamente deveria ser mais forte.
Ao fim da canção Renato Russo diz: "E João não conseguiu o que queria, Quando veio pra Brasília com o diabo ter, Ele queria era falar com o presidente, Pra ajudar toda essa gente que só faz, sofrer...", Faroeste Caboclo, o filme, não consegue transmitir essa intenção proposta pelo líder da Legião Urbana. A tragédia operística de João e Maria Lúcia retrata o esforço de milhões de outros Joãos e Marias, que no esforço de tentar encontrar um caminho, acabam espremidos e massacrados pelo sistema social. A criminalidade, para muitos, é a ultima porta aberta, e todo bandido quer encontrar sua Maria Lúcia, sua paz, sua salvação. O longa perde muito tempo com cenas amorosas entre o casal apaixonado e não aprofunda tentando explorar essa máquina brasileira de moer gente miserável.
Ao fim, Faroeste Caboclo é um bom filme que mostra a triste e trágica jornada de João de Santo Cristo, mas infelizmente, só enxerga a superfície de sua carne açoitada pelo mundo. O maior problema do longa é não conseguir mostrar as cicatrizes da alma dele e, assim, muitos espectadores perceberem quantos Joãos viveram ou vivem nas favelas da Rocinha, do Alemão, na Pedreida Padro Lopes, entre outras. Uma pena, não é Renatão?
Faroeste Caboclo (2013)
Direção: René Sampaio
http://www.imdb.com/title/tt1869416/
Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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Logo no início já percebemos a gramática western sendo trabalhada, com planos fechados nas armas e nos olhos, remetendo aos clássicos de Sergio Leone. Sim, fica muito claro, isso aqui é um filme de bang, bang, um faroeste brasileiro. O começo do longa é fascinante e a expectativa vai só aumentando. A escolha de Fabrício Boliveira para viver João de Santo Cristo é muito acertada, pois no olhar dele você sente a dor e a frieza que o protogonista passa. Já a Maria Lúcia (Isis Valverde) e Jeremias (Felipe Abib) soam menores e menos impactantes do que deveriam. Jeremias é um vilão sem graça e inexpressivo, o que não caracteriza para o espectador uma grande ameaça para o mocinho, João. Ainda assim a jornada é coerente e, mesmo sabendo como toda aquela história vai acabar, afinal quem já escutou a música o sabe, o espectador assiste ansioso. Uma pena que o roteiro derrapa onde justamente deveria ser mais forte.
Ao fim da canção Renato Russo diz: "E João não conseguiu o que queria, Quando veio pra Brasília com o diabo ter, Ele queria era falar com o presidente, Pra ajudar toda essa gente que só faz, sofrer...", Faroeste Caboclo, o filme, não consegue transmitir essa intenção proposta pelo líder da Legião Urbana. A tragédia operística de João e Maria Lúcia retrata o esforço de milhões de outros Joãos e Marias, que no esforço de tentar encontrar um caminho, acabam espremidos e massacrados pelo sistema social. A criminalidade, para muitos, é a ultima porta aberta, e todo bandido quer encontrar sua Maria Lúcia, sua paz, sua salvação. O longa perde muito tempo com cenas amorosas entre o casal apaixonado e não aprofunda tentando explorar essa máquina brasileira de moer gente miserável.
Ao fim, Faroeste Caboclo é um bom filme que mostra a triste e trágica jornada de João de Santo Cristo, mas infelizmente, só enxerga a superfície de sua carne açoitada pelo mundo. O maior problema do longa é não conseguir mostrar as cicatrizes da alma dele e, assim, muitos espectadores perceberem quantos Joãos viveram ou vivem nas favelas da Rocinha, do Alemão, na Pedreida Padro Lopes, entre outras. Uma pena, não é Renatão?
Faroeste Caboclo (2013)
Direção: René Sampaio
http://www.imdb.com/title/tt1869416/
Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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