Um Estado de Liberdade

A história da vida de Newton "Newt" Knight (Matthew McConaughey) é importante e merece ser discutida atualmente com tanta intolerância racial em tempos de muros contra mexicanos e Estado Islâmico. Pena que a bela história de Newt não é tão bem embalada e entregue para presente como esse revolucionário merecia.

O longa dirigido por Gary Ross (Jogos Vorazes) é bom, mas tinha muito potencial para ser mais. O grande problema foi tentar condensar a complexa linha histórica da vida de Newt nos 139 minutos de duração do filme. Temos a Guerra Civil Americana, o descontentamento de parte dos confederados, a relação racial com os negros, a abolição da escravidão americana, o surgimento do extremismo racial no sul dos EUA, a criação da Ku Klu Klan e os reflexos raciais que até hoje mostram sua face no sul. É muita coisa para pouco tempo, ou seja, o espectador médio, com baixo conhecimento sobre o período histórico relatado, terá problemas para decodificar tudo isso.

Ainda assim Um Estado de Liberdade é um filme necessário. Ainda que seja complexo, é possível compreender bem as duas facetas do homem que, na revolta contra os confederados tinha os pretos como aliados, mas bastou o conflito acabar, o mesmo que apoiou, agora era contra a abolição da escravidão e do direito a voto dos pretos recém libertos. Portanto, quando interessa, os pretos são amigos, quando não, sapeca Ku Klu Klan neles. É uma reflexão pequena e superficial, mas é um bom passo para debatermos o passado e como ele não mudou tanto de lá pra cá. A sequencia do julgamento do neto de Newt, que é considerado negro pelas leis da época, mostra o quanto havia, e há ainda, de resquícios desse racismo legislado em nossa sociedade. Ou você acha que a lei de prisão especial para quem tem curso superior aqui no Brasil foi feita ao acaso?

Um Estado de Liberdade não está no mesmo nível de 12 Anos de Escravidão, Fruitvale Station: A Última Parada e Raça, mas perceba o quanto o tema racial vendo sendo discutido recentemente nos cinemas. O filme complementa esse excelente debate e, mesmo com todos seus problemas, merece ser visto. No mínimo para conferir mais uma ótima atuação Matthew McConaughey.