Esquadrão Suicida
Esquadrão Suicida até seria um filme legal, se tivesse sido realizado no fim da década de 1990 ou começos dos anos 2000. O problema é que as adaptações de HQs passaram por uma chacoalha profunda desde Batman Begins, em 2005, e Homem de Ferro, em 2008. Se a proposta é fazer um filme sobre um grupo de vilões, no mínimo a produção tem que ter cenas fortes e suas gotículas de sangue, mas não é o que acontece aqui. Ok, esses filmes evitam sangue para fugirem da censura e cativarem plateias mais jovens. Contudo, ao menos a trama deveria ser mais árida e discutindo o que faz de alguém um vilão? E é possível um vilão tornar-se um herói? Tristemente, Esquadrão Suicida passa muito longe de debater tais temas.
O filme não é horrível, mas é um tanto bagunçado. Do tal esquadrão temos um foco excessivo no Pistoleiro (Will Smith) e na Arlequina (Margot Robbie), fato de serem atores mais reconhecidos, e a abordagem dos demais integrantes fica muito desequilibrada. Não sei o que Katana faz nesse filme [ela não serve para nada], Amarra surge do nada só para ter a cabeça explodida e a personagem mais instigante, Diablo, não é aprofundado como poderia. Ou seja, são vários integrantes e você sai do filme sem saber muito sobre eles.
Chegamos então ao Coringa, de Jared Leto, que é esteticamente interessante, mas lhe falta um terreno para trabalhar. Pense comigo leitor: Você tem um dos vilões mais famosos da história, O Coringa (o único personagem de HQ premiado com um Oscar pela antológica performance do saudoso Heath Ledger), e ele não é o antagonista primário do filme. Tem algo de muito errado na cabeça do pessoal da DC. Sendo Coringa um mero coadjuvante, resta-lhe um ceninha aqui, uma outra gargalhada ali, um flashback acolá, portanto é pouco espaço para o talento de Leto explorar as insanas possibilidades do Coringa. Ao longo da montagem percebe-se uma falta de timing para as inserções de Coringa na história da Arlequina e você fica se perguntando: pra que mesmo foi feita essa cena, afinal, não acrescenta nada útil a narrativa?
Fica nítido que a DC não sabia bem o que fazer com Esquadrão Suicida e deu toda liberdade para que o diretor e roteirista David Ayer (Marcados para Morrer) fizesse algo intrigante como em suas obras anteriores. A questão é que o fraco roteiro, sem profundidade e bons conflitos, faz do longa apenas mais um filme de ação qualquer. Em tempos de Capitão América: Guerra Civil, o que se vê em Esquadrão Suicida dá até um pouco de vergonha alheia. Poxa, você tem um interessante embate entre Rick Flag e o Pistoleiro sobre fazer a coisa certa e discutir valores como hombridade, mas o filme se deixa levar pelo escapismo estético. Ayer está mais preocupado em preencher nosso olhos e nosso ouvidos (com um boa trilha, mas que não encaixa) a nos confrontar com conceitos. A velha mania de achar que o público, incluindo a mulecada, não tem capacidade intelectual de debater temas mais complexos e ainda assim se divertir vendo um filme.
Mas o erro principal é o vilão, digo vilã, digo, sei lá o que era aquilo. Desde 1977, com Star Wars, o cinema aprendeu que um filme extraordinário depende muito de vilão formidável. Quais as chances de Esquadrão Suicida ser um baita filme com essa escolha infeliz de vilã? Pior, os efeitos especiais na tal cena da magia no meio da cidade são deploráveis. Mas vamos lá, ver o lado positivo [esforce-se]: temos a perspectiva de um derivado com a Arlequina e quem sabe tirar mais do Coringa, de Jared Leto e, com muito esforço, é possível pensar lá na frente em um confronto do Pistoleiro com o Batman [essa é um aposta muito difícil]. Ah, quase me esqueço, quem se salva no elenco é Viola Davis que constrói uma Amanda Waller que, certamente, será bem aproveitada no universo cinematográfico da DC.
Esquadrão Suicida não é um desastre, afinal tendo custado 175 milhões de dólares e arrecadado 745 milhões, a DC e a Warner ficaram felizes com o resultado. Mas dói saber que Capitão América: Guerra Civil arrecadou 1.153.000 bilhões de dólares. A DC está perdendo em tudo, em conceito, em ousadia e até no dinheiro. É preciso entender rápido fenômenos como Deadpool, que custo menos de um terço (58 milhões de dólares) e faturou mais (782 milhões dólares), e tinha censura 18 anos, contra a censura 13 anos de Esquadrão Suicida. Comparar filmes já é ruim, sobre aspectos financeiros é ainda pior, mas o estúdios precisam ter a epifania que as velhas fórmulas já não funcionam mais. Contratar Will Smith para catapultar a produção prejudicou mais do que ajudou o filme. E olha que o cara está bem no filme, mas o Pistoleiro pendeu em demasia o filme para o seu lado.
CENA Pós-Créditos - Temos Amanda Waller com Bruce Wayne, na qual ele começa sua empreitada para formar a Liga da Justiça. Quem sabe temos um Esquadrão Suicida versus Liga da Justiça no futuro?
Esquadrão Suicida(2016)
Direção: David Ayer
http://www.imdb.com/title/tt1386697/
Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
-
Post a Comment