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Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1

A terceira parte da saga de Katniss Everdeen não tem mais o brio, a coragem e a vivacidade da "heroína tordo" do Distrito 12 apresentada nos dois primeiros longas, Jogos VorazesJogos Vorazes: Em Chamas. Tudo entorno de Katniss é mais cinza, sombrio e o que menos há no ar é esperança. Nesse quesito o filme dirigido por Francis Lawrence é corajoso ao mudar o tom de uma franquia de aventura juvenil, para uma reflexão dramática e árida. A intenção é louvável, mas o resultado não é tão impactante como deveria ser. Curiosamente, Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1, que compartilha a mesma ideia da divisão do último livro em duas partes, sofreu com o mesmo problema: parece que ficou faltando algo. A saga do bruxinho Potter corrigiu bem na parte 2, veremos com Katniss.

Katniss não é mais aquela garota quase invencível, afinal, o cenário agora é de uma guerra, muito maior e mais complexa que os jogos vorazes. O que ela poderia fazer para a causa rebelde? Enfrentar os exércitos de Snow, sem qualquer tipo de treinamento militar e sair vitoriosa? Não soaria verossímil. A garota tordo é muito mais um ícone da resistência do que uma guerreira de trincheiras. O viés publicitário do uso da imagem de Katniss para a causa rebelde é espetacular (elogios a escritora Suzanne Collins), que retrata com sofisticação a atual era da mitificação midiática, em que com um pouco de esmero, luz, câmera e ação, é possível transformar uma pessoa comum em algo muito maior. Apesar de soar moderno, o que não é, a propaganda nazista de Hitler já usava isso na década de 1940. Opa, mas o que detestável bigodinho austríaco tem a ver com a saga Jogos Vorazes? Simples, preste atenção no gesto da Presidenta Alma Coin faz após os seus discursos.

A ousadia temática esbarra na morosidade da trama e na diminuição do impacto no espectador. Como o próprio título do filme diz, é a primeira parte, ou seja, os peões estão sendo posicionados no tabuleiro e a guerra mesmo virá depois. É apenas o começo do fim. Contudo, senti que o filme não conseguiu criar a cumplicidade necessária entre o espectador e a nova empreitada de Katniss. Analisando numa perspectiva publicitária, o longa não conseguiu vender bem a proposta de engamento do público com a causa rebelde. Infelizmente, parte desse insucesso deve-se a Jennifer Lawrence que interpreta Katniss no modo automático, em que algumas vezes o choro dá lágrima solitária da protagonista não retumbou no coração do espectador. Veja como exemplo a visita ao distrito 12, totalmente destruído. Era para ser uma cena devastadora, e não foi. Já na cena do hospital conseguimos sentir a inflamada Katniss dos filmes anteriores. Acerta aqui, perde uma oportunidade ali e vai caminhando.

Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1 é um passo firme e bem realizado, mas que chega apenas na retina, quando poderia chegar mais fundo. A proposta reflexiva entorno dos malefícios da guerra é eficiente, vide a tensa cena do bombardeio enquanto todos se escondem no bunker. Quantas milhares de pessoas não passaram por isso durante tantas guerras no século XX e XXI? Apesar do fraco gancho deixado nas cenas finais, fica a expectativa para segunda e conclusiva parte da franquia, que acredito será tão sombria ou mais que esse capítulo. Ou você acha que depois disso tudo, há alguma chance de um final feliz para Katniss Everdeen? Não se iluda, a odisseia de Jogos Vorazes é muito boa, pena que os longas soem apenas bons.



Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1 (The Hunger Games: Mockingjay - Part 1 - 2014)
Direção: Francis Lawrence
http://www.imdb.com/title/tt1951265/

Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com 
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