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Syriana – A Indústria do Petróleo

Syriana – A Indústria do Petróleo é um claro exemplo de como a indústria cinematográfica mundial, principalmente de Hollywood, vem passando por uma grande transformação. O crescente número de filmes com boas e árduas críticas político-sociais suscita um questionamento: Os cineastas estão tendo mais liberdade para expor críticas em suas obras? Parece uma pergunta ridícula, pois é inerente à arte cinematográfica questionar e auxiliar o progresso do ser humano. Mas desde o começo da geração blockbuster, iniciada na década de 1970, deu-se início a uma mentalidade excessivamente mercantilista no cinema. Um filme podia render milhões a um investidor, desde que agrade os espectadores. (Quem se interessar em conhecer mais a fundo essa revolução da indústria hollywoodiana, tenha como referência o sucesso comercial da série Star Wars de George Lucas e Tubarão de Spielberg. Importante lembrar que essa revolução quase aniquilou a ascensão de nomes importantes do cinema americano como Martin Scorsese e Costas Gravras).
Agradar o público é a palavra chave. O cinema torna-se entretenimento de massas. Este passo da história do cinema, embora importante, carregava uma postura politicamente correta. Vamos falar de coisas boas, primar pela família, saudar nosso país (EUA) e nossos governantes, etc. Com raras exceções, o cinema por muitos anos optou pela omissão. Porém, este cenário foi modificado recentemente com filmes sérios e extremamente críticos. Um dos ícones dessa mudança poderia ser Tiros em Columbine, de Michael Moore, que o realizou com uma coragem pouco vista até então. Avalio o filme como um divisor de águas dessa nova onda de filmes de crítica político-social.
Esses dois parágrafos, que nada falam de Syriana, são fundamentais para entender o ambiente em que o filme foi realizado. A perseguição consumista do “american way of life” pela apática sociedade americana foi abalada após os ataques de 11 de setembro de 2001. A partir de então, o povo americano, sobretudo os cineastas, foi obrigado a refletir sobre sua sociedade, seus valores, pensamentos e o ambiente hostil em que estavam inseridos. Filmes como Syriana – A Indústria do Petróleo seriam inimagináveis de serem realizados há oito ou dez anos atrás. A sensação que fica após assisti-lo é que fomos enganados por anos, quando diziam que os cowboys (americanos) eram os mocinhos.
Dirigido e roteirizado por Stephen Gaghan, roteirista de Traffic, a narrativa acompanha estórias de diversos personagens que, de alguma forma, estão ligadas à indústria do petróleo. Bob (George Clooney) é um agente secreto americano, que após falhar em uma missão, tem sua competência questionada. A falha de Bob suscita o desdobramento para outro personagem, assim, uma outra estória. De uma estória a outra, interligando as informações, percebemos a altíssima complexidade da trama. Apesar da relevância do tema, o jogo perverso do comércio mundial de Petróleo, assistir e encaixar as peças de Syriana é um exercício árduo.
Ao fim da projeção percebemos que toda a atenção e exercício mental devotado ao filme são plenamente recompensados. O roteiro impecável, inspirado no livro See No Evil: The True Story of a Ground Soldier in the CIA's War on Terrorism, de Robert Baer, gradativamente vai apresentando novas informações e aguçando a curiosidade do espectador. Aliado a uma edição firme de Tim Squyres, a direção de Gaghan consegue alinhar as estórias e mostrar o impacto globalizado que o petróleo tem sobre o mundo. Em um diálogo magistral de Jimmy(Chris Cooper) e Bryan(Matt Damon), enquanto estão caçando, Jimmy resumidamente diz: “o PIB dos chineses só não é maior por que eles têm menor acesso ao petróleo. Se tivessem, passariam os EUA”. O que torna esse diálogo maravilhoso é que ambos não estão diretamente ligados à estória onde os chineses se incluem. Portanto, um diálogo de uma das estórias serve de complemento para entender outra. Todas circundam a potencialidade energética do petróleo, cada uma em seu âmbito.
Syriana não fala só de política e comércio, o que pode soar enfadonho a alguns. Política e comércio estão sempre vinculados a interesses e morte. A personagem de Clonney, Bob, é o principal responsável pelo clima de thrilher que o filme por vezes possui. A seqüência final do ataque com míssil e a tortura das unhas, protagonizada por Bob, dão um sabor angustiante e pavoroso para aqueles espectadores menos interessados na trama política. O diretor consegue pautar suspense e ação contrabalançando o ritmo complexo dos diálogos. Ele tem consciência da complexidade da sua obra e busca sempre auxiliar o espectador. Um outro diretor menos competente se perderia sendo apenas panfletário. Mérito inigualável da direção.
Roteiro excelente, direção firme e diálogos primorosos. Embasamento perfeito para grandes atuações. George Clooney realiza uma das melhores atuações da carreira. Chris Cooper desempenha com a força habitual e impressiona, pois seus trabalhos são marcados por um padrão altíssimo de qualidade. Matt Damon está contido, mas bem. Jeffrey Wright está impecável como o advogado que investiga uma possível fusão ilícita de empresas do ramo energético. Ele transmite as emoções pelo olhar. Sou um grande admirador do seu trabalho, desde a série Angels of América. A menção honrosa é a atuação de Mazhar Munir, como Wasim e Alexander Siddig, como príncipe Nasir. A sutileza das duas atuações nos transmite o drama e o fardo que o petróleo é sobre o povo árabe. É sempre bom conhecer novos atores fora do eixo Europa-Hollywood.
A grande virtude do filme está em mostrar todas as faces da indústria do petróleo, sobretudo os detalhes que cercam o mundo árabe, das disputas internas entre herdeiros do Sheik às motivações de um terrorista suicida. Compreender o outro lado, talvez ajude a entender o nosso, no caso, o deles, os americanos. É fascinante como o nome de Bin Laden, filho de um antigo e poderoso Sheik saudita, vem à cabeça imediatamente durante o filme. De onde nasceu tanto ódio? Não creio que seja apenas do conflito étnico-religioso entre mulçumanos e o ocidente. Talvez esse trecho do diálogo do principie Nasir, filho do Sheik, com Bryan diga-nos algo.

“O seu Presidente liga para o meu pai (o Sheik) e diz: ‘Estou com uma alta taxa de desemprego no Texas, no Kansas e em Washington!’. Um telefonema depois e nós estamos roubando de nosso próprio programa social para pagar por aviões superfaturados. (...) Eu aceito a oferta dos chineses, (uma maior oferta), e de repente sou um terrorista, um comunista sem religião”.


Syriana – A Indústria do Petróleo (2005)
Direção: Stephen Gaghan
Elenco: George Clooney, Matt Damon, Alexander Siddig, Jeffrey Wright, Christopher Plummer, Chris Cooper, Amanda Peet, William Hurt, Tim Blake Nelson, Sonnell Dadral, Mazhar Munir, Amr Waked, Max Minghella.

Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com

Um comentário:

  1. Baixar o Filme - Syriana - A Indústria do Petróleo - O capitalismo não existe sem desperdício. E devemos agradecer isso aos EUA - http://mcaf.ee/812jo

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