Hotel Ruanda
Um filme maravilhoso e obrigatório
Ao final da sessão de Hotel Ruanda tem-se a plena sensação que se assistiu a um daqueles filmes que muda pra sempre sua vida. Consigo comparar essa sensação apenas ao inesquecível A Lista de Schindler de Spielberg.
Hotel Ruanda retrata o terrível cenário de Ruanda durante a guerra civil em 1994. Uma atroz guerra entre duas etnias do país, os tutsi e hutu. O saldo final dessa guerra foi mais de um milhão de mortos. Um genocídio que aconteceu a pouco mais de 10 anos, e que muitos dos espectadores do filme ficam estarrecidos com a ferocidade e o realismo das cenas. Realizado sobre a batuta do desconhecido Terry George (Mães em Luta), Hotel Ruanda impressiona pela dimensão do projeto. Só a direção te tantos figurantes já mostram que Terry George é um grande diretor em ascensão. A direção é bem realizada e sem frescuras. Não há movimentos de câmera impressionantes, seqüências magníficas de direção ou qualquer reflexo ególatra do diretor. A direção entende que a estória que o filme tem que transmitir é mais importante que qualquer outra coisa. O diretor está ali para emprestar sua competência em traduzir a estória e as emoções desta para a tela. Nesse ponto é que Hotel Ruanda se enquadra entre os cinco melhores filmes que já vi.
Don Cheadle é Paul, o gerente de um hotel quatro estrelas, que competente, consegue a simpatia de pessoas influentes através de paparicos ou favorecimentos. O hotel é o abrigo de estrangeiros no mundo negro/africano. Ruanda passa por uma crise onde duas etnias não se entendem, mas são controladas pelo presidente do país. A situação perde o controle com a morte do presidente. Ruanda explode em uma guerra civil descomunal. O hotel de Paul aos poucos vai ser tornando um refúgio para órfãos e sobreviventes da etnia tutsi, que é massacrada na guerra. Don Cheadle tem uma atuação fantástica. Ele dá vida a um negro africano que usa terno e gravata, que de tanto se misturar ao povo branco e estrangeiro, até se acha parecido com eles. Ao explodir a guerra, os estrangeiros e brancos vão embora, e Paul tem que ficar, por que é negro e africano, um hutu.
O filme é muito provocativo e joga na cara do ocidente o quão relapsos somos quantos aos assuntos em relação à África ou mesmo ao oriente. Se você se perguntar, fatalmente nem se lembrará dessa guerra em Ruanda, mesmo com o numero expressivo de um milhão de mortes. Talvez você nem se lembrará dos mais de um milhão que morreram no Sudão ano passado. Para dar essa cutucada no espectador Terry George escalou três peças. Nick Nolte faz o chefe das tropas da ONU em Ruanda. Seguro e eficaz como sempre, ele dá conta do recado. A conversa que ele tem com Paul no bar, explicando que os estrangeiros vão embora, é um tapa na cara das grandes potências. O filme ressalta a importância da ONU nessas guerras civis, através do personagem de Nick Nolte. Mesmo sem muito que fazer, eles estão ali tentando ajudar. O mesmo é acentuado a Cruz Vermelha. Eles estão sempre aonde à necessidade aparece. Outra peça é Jean Reno que interpreta o presidente da rede hoteleira ao qual o hotel pertence. Paul liga para a presidente da rede na Bélgica, dando um relato sobre a situação do hotel e salientando que pode não sair vivo depois daquele telefonema. Uma cena magistral, aonde o profissionalismo quase subserviente de Paul, chega a incomodar. A peça mais relevante sem sombra de dúvida é a do repórter cinematográfico interpretado por Joaquim Phoenix. A explicação que ele dá a Paul sobre como o mundo se comporta após assistir a cenas atrozes como as de Ruanda, faz-nos abaixar a cabeça e reconhecer nossa mediocridade. Porém a maior alfinetada vem da cena de despedida dos estrangeiros do hotel. O choro é inevitável. É com certeza uma das cenas mais emotivas e carregadas da história do cinema. O filme se torna obrigatório, para que o mundo veja essa cena.
Uma estória fantástica e real, conduzida com primor e que nos incomoda por dias. O que mais me incomoda agora é por que um filme dessa magnitude foi tão pouco falado. Indicado a algumas categorias do Oscar, não ganhou nada. Eu particularmente acho melhor que Menina de Ouro que levou o prêmio de melhor filme. Talvez os ataques ferozes feitos contras as grandes potências tenham feito o filme minguar no limbo. O que explica mais de 9 meses de atraso no Brasil com relação ao lançamento do filme. Não só a África é esquecida, mas como qualquer coisa relacionada ao continente. Apesar de reconhecer tamanha mediocridade humana ao assistir o Hotel Ruanda, ficamos felizes ao saber que tudo que Paul fez foi real. Um filme maravilhoso e obrigatório.
Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
Ao final da sessão de Hotel Ruanda tem-se a plena sensação que se assistiu a um daqueles filmes que muda pra sempre sua vida. Consigo comparar essa sensação apenas ao inesquecível A Lista de Schindler de Spielberg.
Hotel Ruanda retrata o terrível cenário de Ruanda durante a guerra civil em 1994. Uma atroz guerra entre duas etnias do país, os tutsi e hutu. O saldo final dessa guerra foi mais de um milhão de mortos. Um genocídio que aconteceu a pouco mais de 10 anos, e que muitos dos espectadores do filme ficam estarrecidos com a ferocidade e o realismo das cenas. Realizado sobre a batuta do desconhecido Terry George (Mães em Luta), Hotel Ruanda impressiona pela dimensão do projeto. Só a direção te tantos figurantes já mostram que Terry George é um grande diretor em ascensão. A direção é bem realizada e sem frescuras. Não há movimentos de câmera impressionantes, seqüências magníficas de direção ou qualquer reflexo ególatra do diretor. A direção entende que a estória que o filme tem que transmitir é mais importante que qualquer outra coisa. O diretor está ali para emprestar sua competência em traduzir a estória e as emoções desta para a tela. Nesse ponto é que Hotel Ruanda se enquadra entre os cinco melhores filmes que já vi.
Don Cheadle é Paul, o gerente de um hotel quatro estrelas, que competente, consegue a simpatia de pessoas influentes através de paparicos ou favorecimentos. O hotel é o abrigo de estrangeiros no mundo negro/africano. Ruanda passa por uma crise onde duas etnias não se entendem, mas são controladas pelo presidente do país. A situação perde o controle com a morte do presidente. Ruanda explode em uma guerra civil descomunal. O hotel de Paul aos poucos vai ser tornando um refúgio para órfãos e sobreviventes da etnia tutsi, que é massacrada na guerra. Don Cheadle tem uma atuação fantástica. Ele dá vida a um negro africano que usa terno e gravata, que de tanto se misturar ao povo branco e estrangeiro, até se acha parecido com eles. Ao explodir a guerra, os estrangeiros e brancos vão embora, e Paul tem que ficar, por que é negro e africano, um hutu.
O filme é muito provocativo e joga na cara do ocidente o quão relapsos somos quantos aos assuntos em relação à África ou mesmo ao oriente. Se você se perguntar, fatalmente nem se lembrará dessa guerra em Ruanda, mesmo com o numero expressivo de um milhão de mortes. Talvez você nem se lembrará dos mais de um milhão que morreram no Sudão ano passado. Para dar essa cutucada no espectador Terry George escalou três peças. Nick Nolte faz o chefe das tropas da ONU em Ruanda. Seguro e eficaz como sempre, ele dá conta do recado. A conversa que ele tem com Paul no bar, explicando que os estrangeiros vão embora, é um tapa na cara das grandes potências. O filme ressalta a importância da ONU nessas guerras civis, através do personagem de Nick Nolte. Mesmo sem muito que fazer, eles estão ali tentando ajudar. O mesmo é acentuado a Cruz Vermelha. Eles estão sempre aonde à necessidade aparece. Outra peça é Jean Reno que interpreta o presidente da rede hoteleira ao qual o hotel pertence. Paul liga para a presidente da rede na Bélgica, dando um relato sobre a situação do hotel e salientando que pode não sair vivo depois daquele telefonema. Uma cena magistral, aonde o profissionalismo quase subserviente de Paul, chega a incomodar. A peça mais relevante sem sombra de dúvida é a do repórter cinematográfico interpretado por Joaquim Phoenix. A explicação que ele dá a Paul sobre como o mundo se comporta após assistir a cenas atrozes como as de Ruanda, faz-nos abaixar a cabeça e reconhecer nossa mediocridade. Porém a maior alfinetada vem da cena de despedida dos estrangeiros do hotel. O choro é inevitável. É com certeza uma das cenas mais emotivas e carregadas da história do cinema. O filme se torna obrigatório, para que o mundo veja essa cena.
Uma estória fantástica e real, conduzida com primor e que nos incomoda por dias. O que mais me incomoda agora é por que um filme dessa magnitude foi tão pouco falado. Indicado a algumas categorias do Oscar, não ganhou nada. Eu particularmente acho melhor que Menina de Ouro que levou o prêmio de melhor filme. Talvez os ataques ferozes feitos contras as grandes potências tenham feito o filme minguar no limbo. O que explica mais de 9 meses de atraso no Brasil com relação ao lançamento do filme. Não só a África é esquecida, mas como qualquer coisa relacionada ao continente. Apesar de reconhecer tamanha mediocridade humana ao assistir o Hotel Ruanda, ficamos felizes ao saber que tudo que Paul fez foi real. Um filme maravilhoso e obrigatório.
Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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