Clube da Lua
Cineastas brasileiros contemporâneos bem que podiam se inspirar nos argentinos. Falta aos nossos filmes a elaboração da temática da classe média em decadência, das dificuldades, sonhos e dúvidas de pessoas comuns, gente como a gente. Os filmes nacionais costumam girar em torno de alguns pólos, como fome, miséria, seca. Temas obviamente muito pertinentes a serem tratados, mas que poderiam ter companheiros mais variados. A outra opção possível são os filmes da Globo, com atores da rede, cara de novela e temas muito levianos. Há outros poucos no meio do caminho, mas, em geral, falta ao cinema nacional filmes com os quais o espectador médio possa se identificar – e isso os argentinos têm de sobra.
Clube da Lua conta a história dos sócios de um clube em vias de falência, centralizando-se na figura de Román, membro vitalício, e seu núcleo familiar. Não só a instituição como todas as famílias e membros vinculados estão em graves dificuldades financeiras, mas têm o desejo de manter o Clube de Avellaneda vivo por questões afetivas. Fundado há 70 anos, tornou-se o símbolo de uma época de alegria e fartura. O clube funciona também como símbolo de todo um país em crise, gerando um forte sentimento de melancolia pelo tempo das vacas gordas. O espectador é levado a ter essa mesma sensação, pois conhece o maravilhoso clima festivo das décadas passadas.
Já nos créditos iniciais percebemos o talento do diretor, que apresenta a feira no ano de 1959 com muita alegria, cores e dinamismo, criando uma atmosfera com um toque felliniano. Juan José Campanella constrói um prólogo de encher os olhos. A montagem faz o contraste com os tempos atuais, apresentando o Luna de Avellaneda agora vazio, escuro e feio. A luta para salvá-lo é também a luta contra a decadência de uma comunidade. O objetivo maior dos sócios é manter sua dignidade intacta, apesar de não terem dinheiro sequer para consertar um telhado quebrado ou pagar um dentista para o filho. O clube pode até ser vendido, mas a alma e a dignidade dos personagens, não.
Clube da Lua transmite uma imensa sensação de realidade. È extremamente representativo da classe média e de suas questões: a falta de comunicação dentro das famílias, as confusões amorosas, a preocupação com as contas a pagar, a iminência de um divórcio. Até mesmo peculiaridades como a “TV a gato” estão presentes. Os atores têm cara de gente; não há nenhum galã ou beldade. Brad Pitt ou Angelina Jolie ficariam completamente deslocados nesse contexto de pessoas de carne e osso. Em momentos finais, Román se defronta com questões como “O que você fez da sua vida?”, “Aonde chegou?” postas pelo filho, mas que são perguntas típicas que pessoas de meia-idade se fazem. É o momento de reavaliar a vida, as prioridades. E de sofrer, caso as coisas não tenham saído como nos sonhos da juventude.
Os personagens do filme estão às voltas com o fato de que a vida é dura. Ô, se é. Mas com todas as dificuldades, conseguem manter um alto nível de integridade de caráter. Tudo bem, você não venceu na vida, não tem um emprego invejável, seu casamento perdeu a graça e você não tem um tostão. Mas há esperança. O que Campanella mostra é que a saída é pelo humor, pelas amizades verdadeiras, pela dignidade – eu ainda acrescentaria: pela arte e pela capacidade de sublimar as agruras da vida transformando-as em matéria-prima para uma bela obra.
O humor se revela nos afiados diálogos e até em situações difíceis, como a falta de dinheiro. Román não pode comprar um perfume e acaba usando uma fragrância que espanta quem está por perto. Em outra cena, gostaria de levar flores para sua esposa e com o que tem, recebe a resposta de que só pode comprar sementes. Se está difícil chegar à felicidade pelos meios estabelecidos socialmente (bom emprego, estabilidade financeira, bom casamento, família unida), o que se pode fazer é procurar beleza nos detalhes e rir de si mesmo. Como diz Amadeo, “Deus está nos detalhes”. Por ser uma tarefa mais difícil, talvez seja até mais sublime extrair felicidade de coisas ínfimas e pequenos momentos do que por acontecimentos grandiosos. São estratégias de felicidade de um povo em crise - e nisso, os latinos são craques.
Clube da Lua conta a história dos sócios de um clube em vias de falência, centralizando-se na figura de Román, membro vitalício, e seu núcleo familiar. Não só a instituição como todas as famílias e membros vinculados estão em graves dificuldades financeiras, mas têm o desejo de manter o Clube de Avellaneda vivo por questões afetivas. Fundado há 70 anos, tornou-se o símbolo de uma época de alegria e fartura. O clube funciona também como símbolo de todo um país em crise, gerando um forte sentimento de melancolia pelo tempo das vacas gordas. O espectador é levado a ter essa mesma sensação, pois conhece o maravilhoso clima festivo das décadas passadas.
Já nos créditos iniciais percebemos o talento do diretor, que apresenta a feira no ano de 1959 com muita alegria, cores e dinamismo, criando uma atmosfera com um toque felliniano. Juan José Campanella constrói um prólogo de encher os olhos. A montagem faz o contraste com os tempos atuais, apresentando o Luna de Avellaneda agora vazio, escuro e feio. A luta para salvá-lo é também a luta contra a decadência de uma comunidade. O objetivo maior dos sócios é manter sua dignidade intacta, apesar de não terem dinheiro sequer para consertar um telhado quebrado ou pagar um dentista para o filho. O clube pode até ser vendido, mas a alma e a dignidade dos personagens, não.
Clube da Lua transmite uma imensa sensação de realidade. È extremamente representativo da classe média e de suas questões: a falta de comunicação dentro das famílias, as confusões amorosas, a preocupação com as contas a pagar, a iminência de um divórcio. Até mesmo peculiaridades como a “TV a gato” estão presentes. Os atores têm cara de gente; não há nenhum galã ou beldade. Brad Pitt ou Angelina Jolie ficariam completamente deslocados nesse contexto de pessoas de carne e osso. Em momentos finais, Román se defronta com questões como “O que você fez da sua vida?”, “Aonde chegou?” postas pelo filho, mas que são perguntas típicas que pessoas de meia-idade se fazem. É o momento de reavaliar a vida, as prioridades. E de sofrer, caso as coisas não tenham saído como nos sonhos da juventude.
Os personagens do filme estão às voltas com o fato de que a vida é dura. Ô, se é. Mas com todas as dificuldades, conseguem manter um alto nível de integridade de caráter. Tudo bem, você não venceu na vida, não tem um emprego invejável, seu casamento perdeu a graça e você não tem um tostão. Mas há esperança. O que Campanella mostra é que a saída é pelo humor, pelas amizades verdadeiras, pela dignidade – eu ainda acrescentaria: pela arte e pela capacidade de sublimar as agruras da vida transformando-as em matéria-prima para uma bela obra.
O humor se revela nos afiados diálogos e até em situações difíceis, como a falta de dinheiro. Román não pode comprar um perfume e acaba usando uma fragrância que espanta quem está por perto. Em outra cena, gostaria de levar flores para sua esposa e com o que tem, recebe a resposta de que só pode comprar sementes. Se está difícil chegar à felicidade pelos meios estabelecidos socialmente (bom emprego, estabilidade financeira, bom casamento, família unida), o que se pode fazer é procurar beleza nos detalhes e rir de si mesmo. Como diz Amadeo, “Deus está nos detalhes”. Por ser uma tarefa mais difícil, talvez seja até mais sublime extrair felicidade de coisas ínfimas e pequenos momentos do que por acontecimentos grandiosos. São estratégias de felicidade de um povo em crise - e nisso, os latinos são craques.
Clube da Lua (Luna de Avellaneda, 2004)
Direção: Juan José Campanella
Elenco: Ricardo Darín, Eduardo Blanco, Mercedes Morán, Valeria Bertuccelli, Silvia Kutika.
Post a Comment