Soldado Anônimo
A estréia de Sam Mendes no cinema foi arrebatadora com Beleza Americana. Na época, ainda imaturo sobre a arte cinematográfica disse: “Com um roteiro desse até eu ganhava o Oscar”. Um bom diretor começa pela escolha de bons roteiros. O segundo trabalho foi o elegante a Estrada para a Perdição. Soldado Anônimo, seu novo filme, explora a psique e o comportamento de jovens durante a formação militar e a guerra do Iraque.
Após perder o período de matrículas para a faculdade, o jovem Swofford (Jake Gyllenhaal– Donnie Darko) sem maiores perspectivas, ingressa no serviço militar. Já no início, o roteiro acerta em explorar a inocência juvenil em contra partida as responsabilidades do exército. O desleixo ao perder a matrícula, algo até natural na juventude, acaba mudando para sempre a forma com que ele verá e viverá o mundo. A inocência juvenil também rende seqüências engraçadas como a conversa de Swofford, sentado numa privada, com o sargento Staff (Jamie Foxx - Ray). Mas o papel do exército é construir homens, soldados, e assim vagarosamente a jovialidade vai dando lugar a homens frios e problemáticos.
O começo é magnífico e sinaliza um grande filme. O batismo violento de Swofford no batalhão chamado “chatice” é um cartão de visita assustador para a realidade dos ambientes militares. O que a princípio parece ser um grande ataque ao tratamento e a lavagem cerebral que as forças armadas impõem aos soldados, acaba seguindo um ritmo mais moderado do que visceral.
Com a guerra do Iraque os soldados têm a oportunidade de por em prática todo o treinamento. A vontade de matar é explorada com elegância através da menção ao clássico Apocalipse Now, de Francis Ford Copolla. A ânsia de matar acaba se tornando tédio em meio ao deserto. Incumbidos de proteger campos de petróleo, o batalhão não entra em combate. Literalmente não há ninguém para se matar. A insatisfação dos soldados parece jorrar pela tela do cinema. É comum que alguns espectadores achem o filme chato nesse momento, mas é para ser chato mesmo. Essa queda no ritmo, escolha do roteiro e do diretor, tem seus méritos, mas invariavelmente abala o impacto sobre os espectadores.
Com o ritmo lento, alguns detalhes incoerentes da trama acabam vindo à tona. O desrespeito da tropa ao sargento Staff durante a gravação de uma matéria para a TV poderia estar explorando ainda o lado inconseqüente e infantil dos soldados, mas soou-me inverossímil. Mesmo que o excesso de tédio tivesse diluído a hierarquia militar na cabeça dos soldados, a cena parece deslocada demais da realidade. Em seguida os soldados são punidos sob uma forte chuva, no deserto. Chuva no deserto? Isso aí, e também não consegui entender. O ponto final foi à chuva de petróleo que cai sobre os soldados. Eles ficam indiferentes mesmo sabendo que andavam e estavam encharcados de um produto altamente inflamável. A falta de conexão com a realidade abala ainda mais a força da narrativa.
É preciso ressaltar a fotografia de Roger Deakins que dá um tom levemente sufocante ao deserto. Opta por não lavar em demasia as imagens e vigora as linhas e cores da paisagem desértica. No entanto, seria mais oportuna uma fotografia mais incômoda, algo que salientasse ainda mais o tédio e a solidão do deserto. As escolhas de Sam Mendes pecam pelo excesso do belo. A fotografia dos campos de petróleo em chamas durante a noite é lindíssima, mas pouco agrega a narrativa. Servem apenas para um dialogo clichê entre o sargento Staff Swofford. O primor visual e estético marca a carreira de Sam Mendes, mas em Soldado Anônimo se excede. Não adianta estar belo, é preciso ver se aquele belo se encaixa no que o filme necessita.
Mesmo com seus problemas, há momentos magníficos no filme. O distanciamento dos soldados das namoradas ou esposas gera desconfiança de infidelidade. Solidão, masturbação e incertezas constroem um dos melhores momentos do longa, ao som de Something in the Way, do Nirvana. Canção melancólica do ícone suicida, Kurt Cobain, para uma juventude americana tão desajustada. Jake Gyllenhaal e Peter Sarsgaard tem atuações firmes e demonstram talento, que no futuro vão lhes render ainda melhores trabalhos.
O maior problema de Soldado Anônimo é não ter decidido que caminho seguir: Um retrato sobre a guerra do Iraque ou a destruição psíquica e emocional de jovens inseridos nas forças armadas. Tentaram agregar os dois e não conseguiram aprofundar em nenhum deles. A guerra do Iraque ainda terá um filme que consiga condensar com eficácia as atrocidades que aconteceram e ainda acontecem. Talvez seja preciso um maior distanciamento temporal do fato, para que melhores análises sejam feitas. Sam Mendes deu um passo importante apontando o caminho, mas ainda falta muito à trilhar para construir algo realmente relevante nesse tema ainda atual.
Soldado Anônimo (2005)
Direção: Sam Mendes
Elenco: Jake Gyllenhaal, Peter Sarsgaard, Jamie Foxx.
Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
Após perder o período de matrículas para a faculdade, o jovem Swofford (Jake Gyllenhaal– Donnie Darko) sem maiores perspectivas, ingressa no serviço militar. Já no início, o roteiro acerta em explorar a inocência juvenil em contra partida as responsabilidades do exército. O desleixo ao perder a matrícula, algo até natural na juventude, acaba mudando para sempre a forma com que ele verá e viverá o mundo. A inocência juvenil também rende seqüências engraçadas como a conversa de Swofford, sentado numa privada, com o sargento Staff (Jamie Foxx - Ray). Mas o papel do exército é construir homens, soldados, e assim vagarosamente a jovialidade vai dando lugar a homens frios e problemáticos.
O começo é magnífico e sinaliza um grande filme. O batismo violento de Swofford no batalhão chamado “chatice” é um cartão de visita assustador para a realidade dos ambientes militares. O que a princípio parece ser um grande ataque ao tratamento e a lavagem cerebral que as forças armadas impõem aos soldados, acaba seguindo um ritmo mais moderado do que visceral.
Com a guerra do Iraque os soldados têm a oportunidade de por em prática todo o treinamento. A vontade de matar é explorada com elegância através da menção ao clássico Apocalipse Now, de Francis Ford Copolla. A ânsia de matar acaba se tornando tédio em meio ao deserto. Incumbidos de proteger campos de petróleo, o batalhão não entra em combate. Literalmente não há ninguém para se matar. A insatisfação dos soldados parece jorrar pela tela do cinema. É comum que alguns espectadores achem o filme chato nesse momento, mas é para ser chato mesmo. Essa queda no ritmo, escolha do roteiro e do diretor, tem seus méritos, mas invariavelmente abala o impacto sobre os espectadores.
Com o ritmo lento, alguns detalhes incoerentes da trama acabam vindo à tona. O desrespeito da tropa ao sargento Staff durante a gravação de uma matéria para a TV poderia estar explorando ainda o lado inconseqüente e infantil dos soldados, mas soou-me inverossímil. Mesmo que o excesso de tédio tivesse diluído a hierarquia militar na cabeça dos soldados, a cena parece deslocada demais da realidade. Em seguida os soldados são punidos sob uma forte chuva, no deserto. Chuva no deserto? Isso aí, e também não consegui entender. O ponto final foi à chuva de petróleo que cai sobre os soldados. Eles ficam indiferentes mesmo sabendo que andavam e estavam encharcados de um produto altamente inflamável. A falta de conexão com a realidade abala ainda mais a força da narrativa.
É preciso ressaltar a fotografia de Roger Deakins que dá um tom levemente sufocante ao deserto. Opta por não lavar em demasia as imagens e vigora as linhas e cores da paisagem desértica. No entanto, seria mais oportuna uma fotografia mais incômoda, algo que salientasse ainda mais o tédio e a solidão do deserto. As escolhas de Sam Mendes pecam pelo excesso do belo. A fotografia dos campos de petróleo em chamas durante a noite é lindíssima, mas pouco agrega a narrativa. Servem apenas para um dialogo clichê entre o sargento Staff Swofford. O primor visual e estético marca a carreira de Sam Mendes, mas em Soldado Anônimo se excede. Não adianta estar belo, é preciso ver se aquele belo se encaixa no que o filme necessita.
Mesmo com seus problemas, há momentos magníficos no filme. O distanciamento dos soldados das namoradas ou esposas gera desconfiança de infidelidade. Solidão, masturbação e incertezas constroem um dos melhores momentos do longa, ao som de Something in the Way, do Nirvana. Canção melancólica do ícone suicida, Kurt Cobain, para uma juventude americana tão desajustada. Jake Gyllenhaal e Peter Sarsgaard tem atuações firmes e demonstram talento, que no futuro vão lhes render ainda melhores trabalhos.
O maior problema de Soldado Anônimo é não ter decidido que caminho seguir: Um retrato sobre a guerra do Iraque ou a destruição psíquica e emocional de jovens inseridos nas forças armadas. Tentaram agregar os dois e não conseguiram aprofundar em nenhum deles. A guerra do Iraque ainda terá um filme que consiga condensar com eficácia as atrocidades que aconteceram e ainda acontecem. Talvez seja preciso um maior distanciamento temporal do fato, para que melhores análises sejam feitas. Sam Mendes deu um passo importante apontando o caminho, mas ainda falta muito à trilhar para construir algo realmente relevante nesse tema ainda atual.
Soldado Anônimo (2005)
Direção: Sam Mendes
Elenco: Jake Gyllenhaal, Peter Sarsgaard, Jamie Foxx.
Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
Ola, gostei da critica do filme, principalmente como voce abordou a falta de respeito dos soldados e como isso não é punido severamente, como deve ser a realidade. Mas achei alguns comentarios feitos por voce um pouco sem sentido.
ResponderExcluirA chuva no deserto é totalmente possivel, chove-se muito pouco no deserto, mas de qualquer maneira, cove-se de vez em quando, e como os soldados ficar mais de meio ano lá é completamenbte plausivel q tenha chovido naquele dia
Também não achei nada de mais na cena da chuva de petroleo. Ainda mais que era impossivel escapar disso. Eh póssiveçl ver que essa chuva esta em todo local.
Acho q é isso, a critica está boa, só alguns pontos q não concordei
Grande Arthur
ResponderExcluirPensei muito antes de postar esse comentário da chuva, mas a praga me encomodou mesmo no cinema. Eventualmente chove sim, pesquisei depois de postar a critica, mas seria mais interessante a narrativa questionar esse fato raro no deserto. Um boa piada em relação a chuva no deserto demonstraria ao espectador quanto tempo eles ficaram entediados na guerra. Através de seu questiomento, conseguimos anexar algo a mais na crítica. Obrigado.
A chuva de petróleo me encomodou também. Acho qeu Sam Mendes queria fazer alguma metáfora com aquilo, mas até hoje estou tentando entender. Essa eu admito que é frescura minha.
Continue divergindo conosco, assim estamos aprendendo ainda mais.
Abraço