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A Pantera Cor-de-Rosa

Refilmagens são, inevitavelmente, fadadas a sofrerem comparações com suas versões originais. Na maioria das vezes, saem perdendo, nem tanto pela queda da qualidade, mas, em grande parte, por não conseguirem cumprir uma tarefa bastante ambiciosa - superar filmes que foram grandes sucessos e formaram legiões de fãs. Não alcançar esse objetivo não significa que o filme não seja bom ou não tenha vários aspectos positivos. Mas a expectativa em relação a eles é tão alta que se não forem brilhantes, são considerados fracassos. Algo assim acontece em A Pantera Cor-de-Rosa.
Como um filme de comédia do estilo pastelão, o resultado é, definitivamente, acima da média. Mas ao compararmos com a versão de 1963, percebemos algumas deficiências, principalmente no tocante à falta de sutilezas. A Pantera Cor-de-Rosa de Blake Edwards é um filme cômico, mas suave e inteligente. Em alguns momentos, o humor estava em piadas físicas e exageros, mas o tom geral do longa era de uma leveza esperta e charmosa que faz falta nessa versão de Shawn Levy.
Mas vamos deixar as comparações de lado e entrar no filme em si. Algumas piadas deslizam no exagero e soam forçadas, como a que o inspetor encontra sua secretária pela primeira vez. Já outras funcionam muito bem e rendem ótimas risadas, como a cena de pronúncia da palavra "hamburguer". Steve Martin confere ao Inspetor Jacques Clouseau muita humanidade e um certo nível de complexidade incomum nos protagonistas das comédias americanas atuais. Clouseau é solitário, ingênuo e, surpreendentemente, não se dá conta do quão atrapalhado é. Isso só acontece em momentos finais, o que lhe causa visível decepção e compaixão ao espectador. É justamente o fato de não ver suas peripécias e as conseqüências de seus atos que o torna cômico. Enquanto faz uma baliza batendo diversas vezes nos carros próximos, sua expressão é a mais pacífica e tranqüila do mundo. E isso torna a situação improvável, interessante e, portanto, engraçada. O divertido é ver como alguém pode fazer tanta bobeira sem perceber e sair com a cara mais lavada do universo, quase assobiando.
Shawn Levy traz a Pantera para o mundo contemporâneo, dando-lhe ares de modernidade. O tema musical, tão conhecido, recebe batidas eletrônicas que agradam o público. A cena rodada no estádio de futebol é magnífica com seus movimentos de câmera arrojados e visões aéreas. O carro modernoso de Clouseau é simpático, assim como é graciosa sua paixão pela internet (apesar de existir uma cena inteira inútil para brincar com isso). Entretanto, uma provável opção mercadológica traz um apelo pop à trama que não condiz com o charme da série original (ok, comparei de novo, mas eu bem que disse que era inevitável...). A figura de Beyoncé funcionou muito bem de acompanhante de Austin Powers, mas aqui parece trazer um peso pop desconectado do clima do inspetor Clouseau. Não que ela esteja ruim, mas sua simples presença dá uma outra atmosfera ao filme. Já Emily Mortimer está muito bem – e fofa – como a secretária do oficial.
A Pantera Cor-de-Rosa diverte e entretém, apesar de não conseguir superar o trabalho da eficiente dupla Blake Edwards/Peter Sellers. Steve Martin tem uma atuação competente e o filme como um todo é agradável e engraçado. Não é a comédia elegante que os antigos fãs esperam, mas é divertida e leve como os novos espectadores procuram.


A Pantera Cor-de-Rosa (The Pink Panther, 2006)
Direção: Shawn Levy
Elenco: Steve Martin, Kevin Kline, Beyoncé Knowles, Jean Reno, Emily Mortimer, Henry Czerny.


Mariana Souto - souto_mariana@yahoo.com.br

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