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Caiu do Céu

Alô, leitores do Cinesequencia. Estive um pouco sumido, mas já estou de volta. Alguns amigos comentaram o excelente trabalho da “Dama da Crítica”, Mariana Souto. Realmente, os textos da garota estão cada dia melhor. Estou com uma série de críticas atrasadas. Então, vamos.

O mais recente filme do diretor Danny Boyle, Caiu do Céu, comprova o talento e a grande fase em que ele encontra-se. Conhecido pelos filmes Trainspotting, A Praia, Extermínio e Cova Rasa, Boyle sempre foi cultuado pelos cinéfilos mais “descolados”. Vinculado a um cinema mais “cult”, o diretor demonstra amadurecimento e sensibilidade neste drama/aventura.

Damian é um garoto de nove anos com um apreço incomum pela história de santos. Fé e imaginação possibilitam a ele conversar com Santo Agostinho, São José, entre outros santos, que ocasionalmente lhe ajudam a resolver um pequeno problema: o que fazer com uma sacola cheia de dinheiro que caiu do céu?

A uma semana da conversão da moeda inglesa para o euro, Damian e o irmão precisam gastar as milhares de libras dentro da sacola. Caridoso, Damian deseja ajudar os pobres e distribuir dinheiro. São desenvolvidas situações bem engraçadas com a imagem de garotinho de nove anos distribuindo dinheiro. Em especial, a doação que ele faz a um grupo de mórmons, numa piada bem azeda e crítica a esta doutrina.

O irmão, poucos anos mais velho, já compreende a importância do dinheiro para o mundo e deseja gastá-lo. Embora explore a ganância do garoto, as situações são igualmente engraçadas. O conflito dos irmãos é nítido - um quer doar o dinheiro e o outro quer usá-lo. Porém, ambos nunca chegam ao choque. O roteiro deixa bem claro que se não fossem crianças esse conflito geraria conseqüência mais árduas. Isso se comprova quando, no terceiro ato, os adultos tomam conhecimento da existência do dinheiro e de como a sacola caiu do céu.

Não se pode dizer que Caiu do Céu é uma obra-prima, mas convém salientar que o filme tem a medida em todos os seus elementos. Oferece boas risadas, possui momentos de tensão, drama e lágrimas ao final podem até acontecer. Agrada ao cinéfilo mais exigente e ao mero espectador que deseja um bom entretenimento. Chegar nesse denominador comum é, a meu ver, a tarefa mais difícil em uma realização cinematográfica.

O trabalho de direção de Boyle e a sensibilidade do roteiro de Frank Cottrell Boyce direcionam o espectador a uma identificação com Damian. Talvez só não se identifique com ele o espectador que não deseja um mundo melhor, mais justo e com a renda melhor distribuída. Alexander Nathan Etel interpreta o garoto, que além de talentoso e carismático, tem uma face de anjo. O roteiro explora nos espectadores um pouco do Damian, um garoto bom e puro, que um dia esteve em cada um, e que ainda está de alguma forma.

Caiu do Céu é uma crítica sutil ao capitalismo e à utilização que o homem faz do capital. Não nos converte a doar todo o dinheiro que temos para uma instituição de caridade, mas nos ajuda a refletir sobre qual a importância do dinheiro em nossas vidas e se estamos usando-o corretamente. Estranho é perceber que, para matar a sede de um vilarejo, seja na África ou no nordeste brasileiro, é preciso de alguns poucos dólares para furar um poço. Enquanto isso, milhões escoam pelo valerioduto, programas nucleares e armamentistas, entre outras bobagens caríssimas. Que vontade de ser como Damian.

PS.: Danny Boyle sempre teve bom gosto ao anexar a edição e o ritmo da trilha sonora, vide Trainspotting. A seqüência do assalto ao som da banda Muse é muito bem executada.


Caiu do Céu ( Millions, 1997)
Direção: Danny Boyle
Elenco: Alexander Nathan Etel, Lewis Owen McGibbon, Leslie Phillips, James Nesbitt, Daisy Donovan.

Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com

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