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O Grande Hotel Budapeste

Cineastas passam a carreira inteira buscando criar um elo singular com seu público, seja cativando ou perturbando por meios de seus filmes. Alguns se esforçam arduamente à procurar de uma identidade, algo que torne seu trabalho singular, inesquecível, uma assinatura. Goste ou não, Wes Anderson tem um jeito bem saboroso de contar histórias e chega ao ápice de sua curta carreira com o ótimo O Grande Hotel Budapeste.

Claro que não é só senso estético. É o jeito de contar. Uma mesma história narrada por diferentes pessoas podem ter momentos dramáticos ou mesmo cômicos muito distintos. Algumas delas não sabem nem contar piadas, outras só com o silêncio já fazem todos rir. O talentoso diretor Wes Anderson já tinha chamado atenção em com Três É Demais, agradou o público com o ensandecido Os Excêntricos Tenenbaums, mas andou dando umas escorregadas. Em O Grande Hotel Budapeste, Anderson utiliza todo seu arrojo estético para emoldurar a excitante história do concierge M. Gustave (com o sempre estupendo Ralph Fiennes) e seu escudeiro e lobby boy Zero Moustafa (Tony Revolori). O longa é visualmente riquíssimo, como é de praxe em seus trabalhos, mas nunca essas maluquices se encaixaram tão bem com o contexto da narrativa.

Certamente, há de creditar muito pontos a Ralph Fiennes, que esbanja talento, e cospe verborragicamente seu texto, não dando tempo para o espectador ler a legenda, ver as milhões de outras coisas que pipocam na tela, faz uma pausa dramática, zoom na expressão empostada do ator, e o filme segue fervorosamente em um ritmo delicioso e engraçado. Ufa! (pausa para respirar). O cinema de Anderson flerta sempre com o absurdo e é hilária a ironia criada para os filmes de fugas de presídio. Curioso é que, nesse saboroso surrealismo fantástico, a conclusão da trama soa, propositalmente, sem pompa e sem graça. O referido grande hotel chega as mãos do seu atual dono de maneira comum, assim como a vida. Nem sempre o final tem que ser espetacular, pois na vida, nem sempre dá para ser assim. É simples e funciona. Gostei muito dessa escolha para a conclusão da trama, afinal, quantas histórias estão por trás de coisas tão simples.

O Grande Hotel Budapeste é um longa tão encantador que até em sua razão de aspecto (tamanho da tela) há uma brincadeira, que ela muda em função da passagem do tempo. No começo do filme a tela é cheia e tem a razão 1.85:1, curiosamente a data da cena é 1985. Depois ele fica wide, com razão 2.35:1, fazendo um paralelo as mudanças históricas no cinema das décadas de 1950 e 1960. Chegando então a tela curtinha do começo do século, com a razão 1.37:1, na qual o filme se ambienta na década de 1930. É algo tão simples, mas ao mesmo tempo tão sofisticado, que me deixou babando de inveja. Clique e veja mais sobre essa traquinagem cinematográfica.

O Grande Hotel Budapeste merece ser conferido pelos cinéfilos, sobretudo aqueles, como eu, tinha um tanto de preguiça do cinema realizado por Wes Anderson. No fundo, eu pensava que a estética repetitiva me cansava e era utilizada como muleta. Contudo, descobri que eu sou é ávido por boas e eloquentes histórias. Se elas forem pintadas com energia, cores e entonação, uma boa história, pode torna-se excelente. Estética no cinema pra mim é isso, deixa algo bom, ainda melhor. Aguardo ansioso a próxima guloseima criada por Wes Anderson.



O Grande Hotel Budapeste (The Grand Budapest Hotel - 2014)
Direção: Wes Anderson
http://www.imdb.com/title/tt2278388/

Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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