The Science of Sleep
Após o avassalador Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças muito se esperava do novo trabalho de Michel Gondry. A busca incansável pelo o inusitado marcou a carreira de Gondry nos vídeos clipes que idealizou e dirigiu. (procure no youtube, indico Army of Me, da Björk) Agora, com The Science of Sleep, ele parece ter achado de vez o cinema que deseja.
Aparentemente o filme começa como todo bom romance francês. Um casal, quase verossímil, que se conhece através de uma situação casual, diálogos um tanto maluquinhos, uma situação de conflito que os impede de ficarem juntos e aquele charme que só Paris consegue dar aos filmes. Esta é a primeira camada [ou layer] do longa. As outras são confeccionadas com a deliciosa insanidade talentosa de Gondry.
Stéphane Miroux (Gael García Bernal) é um jovem excêntrico com um leve distúrbio da realidade. Apaixonado por Stéphanie (Charlotte Gainsbourg), ele não mede esforços para se aproximar da garota, cuja imaginação se assemelha a dele. Entretanto, quanto mais apaixonado, mais Stéphane funde o mundo real ao mundo idealizado por ele nos sonhos.
Para muitos The Science of Sleep vai soar como uma maluquice quase sem sentidos [basta conferir o final do filme]. De certa forma é isso que Gondry deseja despertar. O que para muitos soa insano, para Stéphane é apenas sonho. E no fundo, todos nós desejamos que um dia nossos sonhos tornem-se reais. Não os insossos desejos de consumo, mas aqueles mais estranhos que se escondem no subconsciente.
Gondry dosa com inteligência a medida ao qual nós devemos usufruir dos sonhos. Os sonhos impulsionam Stéphane a procurar a garota, que por sua vez, simpatiza-se com ele. Os sonhos nutrem uma possibilidade de amor. Entretanto, este impulso precisa ser gradualmente dosado pela realidade. Como Stéphane não consegue frear este impulso, o sonho torna-se pesadelo. O filme demonstra com elegância que este pulso que move, e sempre moveu a humanidade, a busca do sonho [desejo, vontade], também pode ser a razão da falência.
Esteticamente The Science of Sleep é praticamente uma instalação de artes plásticas. A mente de Stéphane cria interessantes situações surreais, que são realizadas com o primor característico de Gondry. Entretanto, em se tratar deste diretor, até se esperava mais maluquices audiovisuais. É estranho perceber, que alguns dos recursos usados no longa, já foram vistos em outros trabalhos do diretor, por exemplo, a mão gigante, que também é usada no clip de Everlong, do Foo Figthers.
O caráter surreal, que é visto como insanidade, de The Science of Sleep gera certo espanto e medo por parte dos poucos espectadores. O longa é uma obra eficiente e bacana, que propicia aos espectadores uma experiência cinematográfica um tanto atípica para circunstâncias atuais do cinema. Não difere muito do cinema desconcertante e estranho realizado por Michael Haneke (A Professora de Piano, Caché), mas está a uma distância bem significativa do clássico surreal, O Cão Andaluz, de Buñuel.
O maior mérito da obra de Gondry é a metáfora que constrói homenageando a indústria dos sonhos que é o cinema. A cena em que Stéphane apresenta a máquina que vai um segundo ao passado ou ao futuro, me parece uma homenagem clara a desconstrução da realidade que o cinema propicia. Num segundo a personagem está de um lado da tela, no outro, ele já aparece, como que por mágica, do outro lado. O que hoje conseguimos facilmente com efeitos especiais e montagem, um dia alimentou os sonhos de um dos gênios do cinema, George Méliés. Uma homenagem sutil e adequadamente colocada no filme.
Gondry consegue um resultado inferior ao longa anterior, mas demonstra que consegue sobreviver autoralmente, sem a sombra dos excelentes roteiros de Charlie Kaufman. The Science of Sleep irá gerar inúmeras discussões entre os defensores e os detratores da obra. Independente disso, o longa é uma obra necessária em um mercado cada dia mais previsível e empacotado.
The Science of Sleep (The Science of Sleep - 2006)
Direção: Michel Gondry
Elenco: Gael García Bernal, Charlotte Gainsbourg, Alain Chabat, Miou-Miou, Pierre Vaneck, Emma de Caunes, Aurélia Petit.
Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
Aparentemente o filme começa como todo bom romance francês. Um casal, quase verossímil, que se conhece através de uma situação casual, diálogos um tanto maluquinhos, uma situação de conflito que os impede de ficarem juntos e aquele charme que só Paris consegue dar aos filmes. Esta é a primeira camada [ou layer] do longa. As outras são confeccionadas com a deliciosa insanidade talentosa de Gondry.
Stéphane Miroux (Gael García Bernal) é um jovem excêntrico com um leve distúrbio da realidade. Apaixonado por Stéphanie (Charlotte Gainsbourg), ele não mede esforços para se aproximar da garota, cuja imaginação se assemelha a dele. Entretanto, quanto mais apaixonado, mais Stéphane funde o mundo real ao mundo idealizado por ele nos sonhos.
Para muitos The Science of Sleep vai soar como uma maluquice quase sem sentidos [basta conferir o final do filme]. De certa forma é isso que Gondry deseja despertar. O que para muitos soa insano, para Stéphane é apenas sonho. E no fundo, todos nós desejamos que um dia nossos sonhos tornem-se reais. Não os insossos desejos de consumo, mas aqueles mais estranhos que se escondem no subconsciente.
Gondry dosa com inteligência a medida ao qual nós devemos usufruir dos sonhos. Os sonhos impulsionam Stéphane a procurar a garota, que por sua vez, simpatiza-se com ele. Os sonhos nutrem uma possibilidade de amor. Entretanto, este impulso precisa ser gradualmente dosado pela realidade. Como Stéphane não consegue frear este impulso, o sonho torna-se pesadelo. O filme demonstra com elegância que este pulso que move, e sempre moveu a humanidade, a busca do sonho [desejo, vontade], também pode ser a razão da falência.
Esteticamente The Science of Sleep é praticamente uma instalação de artes plásticas. A mente de Stéphane cria interessantes situações surreais, que são realizadas com o primor característico de Gondry. Entretanto, em se tratar deste diretor, até se esperava mais maluquices audiovisuais. É estranho perceber, que alguns dos recursos usados no longa, já foram vistos em outros trabalhos do diretor, por exemplo, a mão gigante, que também é usada no clip de Everlong, do Foo Figthers.
O caráter surreal, que é visto como insanidade, de The Science of Sleep gera certo espanto e medo por parte dos poucos espectadores. O longa é uma obra eficiente e bacana, que propicia aos espectadores uma experiência cinematográfica um tanto atípica para circunstâncias atuais do cinema. Não difere muito do cinema desconcertante e estranho realizado por Michael Haneke (A Professora de Piano, Caché), mas está a uma distância bem significativa do clássico surreal, O Cão Andaluz, de Buñuel.
O maior mérito da obra de Gondry é a metáfora que constrói homenageando a indústria dos sonhos que é o cinema. A cena em que Stéphane apresenta a máquina que vai um segundo ao passado ou ao futuro, me parece uma homenagem clara a desconstrução da realidade que o cinema propicia. Num segundo a personagem está de um lado da tela, no outro, ele já aparece, como que por mágica, do outro lado. O que hoje conseguimos facilmente com efeitos especiais e montagem, um dia alimentou os sonhos de um dos gênios do cinema, George Méliés. Uma homenagem sutil e adequadamente colocada no filme.
Gondry consegue um resultado inferior ao longa anterior, mas demonstra que consegue sobreviver autoralmente, sem a sombra dos excelentes roteiros de Charlie Kaufman. The Science of Sleep irá gerar inúmeras discussões entre os defensores e os detratores da obra. Independente disso, o longa é uma obra necessária em um mercado cada dia mais previsível e empacotado.
The Science of Sleep (The Science of Sleep - 2006)
Direção: Michel Gondry
Elenco: Gael García Bernal, Charlotte Gainsbourg, Alain Chabat, Miou-Miou, Pierre Vaneck, Emma de Caunes, Aurélia Petit.
Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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