Amor
Em uma sociedade que banalizou o uso da palavra amor, o cineasta Michael Haneke (A Fita Branca e Caché) se atreve a sintetizar esse sentimento em um película com poucos mais de duas horas. A ousadia que sempre foi sinônimo do cinema realizado pelo diretor está escondida nos poros de Amor, mais uma obra prima do cineasta. Claro que sendo um filme de Haneke, ele vai incomodar muita gente. Ele nos mostra o que de verdade é o amor, e saímos do cinema relutando e dizendo para nós mesmo: eu não quero acreditar que aquilo é amor.
Imagine-se velhinho, sentado à mesa com sua velhinha, comendo e proseando. Todo casal se imagina envelhecer junto e compartilhar os momentos. Mas a idade madura tem seus desafios, e um acidente vascular cerebral (AVC) muda completamente a vida do casal protagonista Georges e Anne. Porém, não muda um milímetro o amor entre eles. Sempre hábil ao mostrar os pequenos e singelo atos da vida, Haneke calmamente vai apresentado o carinho e ternura de Georges para com Anne, ajudando-a em todas as tarefas. A dinâmica do casal explora sentimentos como a gratidão, o arrependimento, a teimosia, o medo e a felicidade. Está tudo ali na tela, como se fosse uma partitura musical de Mozart, cada nota do amor no lugar onde precisa estar. Muitos casais vão se debulhar em lágrimas ao se enxergar no esforço e dedicação de Georges com Anne. Fico imaginando quantas pessoas no mundo se dedicam quase que exclusivamente ao outro, seja por enfermidades ou mesmo idade avançada, tudo isso em nome do amor. O ser humano tem seus defeitos, mas convenhamos, tem alguns que dão orgulho.
Destaca-se a atuação do casal interpretado por Jean-Louis Trintignant (Georges) e Emmanuelle Riva (Anne), que dão aula de interpretação. A eterna musa de Haneke, Isabelle Huppert, tem uma participação pequena como a estranha e distante filha do casal. Aos poucos essas pitadas de estranhezas vão aparecendo na história e, pra quem conhece a obra de Haneke, logo suspeita que algo vai acontecer. E o diretor coloca o dedo na ferida e guina radicalmente a ideia do filme, com um ato que vai gerar boas discussões nas mesas de bares e cafés. Não vou dizer o que é ocorre, claro, mas a questão que fica: Por amor, você faria qualquer coisa? Muitos vão dizer sim, afinal, isso é uma resposta óbvia para essa pergunta clichê. Refaço a pergunta: Você teria coragem e amor bastante para agir como Georges?
Amor é uma provocação muito bem intencionada de Haneke para discutir o que de fato é esse nobre e tão falado sentimento. Muitos espectadores vão sair "fulos" da vida do cinema, não concordando com o caminho narrativo escolhido pelo filme. Haneke não faz cinema para agradar, mas para debater, provocar algo no espectador que por vezes nem ele sabe que tem dentro de si. Amor é um belíssimo conto romântico, e como a mais célebre história de amor da literatura mundial, Romeu e Julieta, de Shakespeare, nem tudo no amor é lindo e acaba com um final feliz.
Amor (Amour - 2012)
Direção: Michael Haneke
http://www.imdb.com/title/tt1602620/
Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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Imagine-se velhinho, sentado à mesa com sua velhinha, comendo e proseando. Todo casal se imagina envelhecer junto e compartilhar os momentos. Mas a idade madura tem seus desafios, e um acidente vascular cerebral (AVC) muda completamente a vida do casal protagonista Georges e Anne. Porém, não muda um milímetro o amor entre eles. Sempre hábil ao mostrar os pequenos e singelo atos da vida, Haneke calmamente vai apresentado o carinho e ternura de Georges para com Anne, ajudando-a em todas as tarefas. A dinâmica do casal explora sentimentos como a gratidão, o arrependimento, a teimosia, o medo e a felicidade. Está tudo ali na tela, como se fosse uma partitura musical de Mozart, cada nota do amor no lugar onde precisa estar. Muitos casais vão se debulhar em lágrimas ao se enxergar no esforço e dedicação de Georges com Anne. Fico imaginando quantas pessoas no mundo se dedicam quase que exclusivamente ao outro, seja por enfermidades ou mesmo idade avançada, tudo isso em nome do amor. O ser humano tem seus defeitos, mas convenhamos, tem alguns que dão orgulho.
Destaca-se a atuação do casal interpretado por Jean-Louis Trintignant (Georges) e Emmanuelle Riva (Anne), que dão aula de interpretação. A eterna musa de Haneke, Isabelle Huppert, tem uma participação pequena como a estranha e distante filha do casal. Aos poucos essas pitadas de estranhezas vão aparecendo na história e, pra quem conhece a obra de Haneke, logo suspeita que algo vai acontecer. E o diretor coloca o dedo na ferida e guina radicalmente a ideia do filme, com um ato que vai gerar boas discussões nas mesas de bares e cafés. Não vou dizer o que é ocorre, claro, mas a questão que fica: Por amor, você faria qualquer coisa? Muitos vão dizer sim, afinal, isso é uma resposta óbvia para essa pergunta clichê. Refaço a pergunta: Você teria coragem e amor bastante para agir como Georges?
Amor é uma provocação muito bem intencionada de Haneke para discutir o que de fato é esse nobre e tão falado sentimento. Muitos espectadores vão sair "fulos" da vida do cinema, não concordando com o caminho narrativo escolhido pelo filme. Haneke não faz cinema para agradar, mas para debater, provocar algo no espectador que por vezes nem ele sabe que tem dentro de si. Amor é um belíssimo conto romântico, e como a mais célebre história de amor da literatura mundial, Romeu e Julieta, de Shakespeare, nem tudo no amor é lindo e acaba com um final feliz.
Amor (Amour - 2012)
Direção: Michael Haneke
http://www.imdb.com/title/tt1602620/
Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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