A Hora Mais Escura
O dia 11 de setembro de 2001 ficou marcado na mente das pessoas como o dia do terrorismo. Esse dia estará sempre associado ao trágico atentando as Torres Gêmeas do World Trade Center e ao nome de Osama Bin Laden. Após 10 anos de uma caçada implacável, que eclodiu até em uma guerra no Afeganistão, os Estados Unidos conseguiu encontrar Bin Laden, matando-o no dia 2 de maio de 2011. A Hora Mais Escura é um relato duro e frio dessa busca por justiça, como acreditam os americanos, mas se olharmos bem, na verdade é uma simples questão de vingança.
O longa dirigido por Kathryn Bigelow (Guerra ao Terror) é quase um documentário narrando a incansável busca de Maya (Jessica Chastain), uma agente da CIA, pelo paradeiro de Bin Laden. No começo a agente sente-se mal com as práticas de tortura dos americanos para conseguir informações com os prisioneiros. O tempo passa, ela não consegue grande progresso com a caçada, e se vê ordenando a tortura e agressões para conseguir o que deseja. Nesse ponto o filme é polêmico ao deixa explícito que, para conseguir matar o chefão da al-Qaeda, foi preciso quebrar alguns ovos, digo, costelas, ossos, narizes e até a personalidade de alguns presos. O roteiro de Mark Boal, nesse ponto, é feliz ao esclarecer os americanos e dizer: não somos tão santos assim.
Mas convenhamos, todo americano que se preze queria ver o tal Bin Laden tostado no micro-ondas. No fundo, o americano conhece ou tem alguém do seio familiar que morreu ou sofreu com os atentados de 11 de setembro. É natural esse tipo de desejo de vingança. A Hora Mais Escura é apenas um relato, quase uma prestação de contas, aos americanos de como tudo aconteceu, ressaltando que o grande inimigo da América só está morto por conta da teimosia de agente Maya.
Como relato o filme é um documento histórico bem feito e que será visto e revisto por anos a fio, para retratar essa página triste da nossa história recente. Mas como narrativa, o longa deixa bastante a desejar. A agente Maya é a força motriz da história. Ela deveria ser a alma do filme. Contudo, como há tanta coisa a ser dita sobre o contexto histórico e as diversas ações para se chegar ao objetivo, mesmo com mais duas horas de meia de duração, há pouco espaço para explorar o que acontece dentro do coração e da mente de Maya. O que a move? O que faz ela seguir lutando, mesmo diante de fracassos e perdas irreparáveis? O roteiro Mark Boal parece se interessar mais pela complexidade dos fatos lá fora, do que o emaranhado de sentimentos dos seus personagens. Veja o descaso blasé dos soldados, que minutos atrás, mataram nada mais nada menos, o maior inimigo dos Estados Unidos. Eles deveriam estar eufóricos e delirando com o feito. Perceba na cena final, tudo aquilo que Maya passou foi finalizado com um comentário bobo, "Você deve ser importante para mandarem um avião desse para lhe buscar sozinha", seguido de choro. Poxa vida, essa mulher enfrentou todo mundo e garantiu que Bin Laden estava dentro daquela casa. Teve que esperar mais de 100 dias para ter a operação aprovada, e Kathryn Bigelow não consegue nem ousar uma liberdade poética para dar um final a altura de sua heroína.
A Hora Mais Escura é um relato contundente da caçada e operação para matar Osama Bin Laden, mas desculpe, é pouco. Um assunto tão importante como esse merecia um aprofundamento melhor. Talvez a pressa para realizar uma adaptação cinematográfica sobre o assunto levou o roteiro a ter uma visão rasa e superficial do assunto. Kathryn Bigelow se concentra em contar a história e não se dedica tanto a refletir sobre o tema, o que o deixa morno. Verdade é que são sempre os vencedores que contam sua versão da história. Osama Bin Laden morto, para os americanos, deve ser motivo de celebração por uma vingança devidamente executada. E para aqueles que chamamos de terroristas, o que a morte do ícone deles representa. Um mártir? Todo cinéfilo sabe que em filme de vingança nenhuma das partes sai vencedora e ambas acabam sangrando. A arte apenas imita a vida.
A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty - 2012)
Direção: Kathryn Bigelow
http://www.imdb.com/title/tt1790885/
Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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O longa dirigido por Kathryn Bigelow (Guerra ao Terror) é quase um documentário narrando a incansável busca de Maya (Jessica Chastain), uma agente da CIA, pelo paradeiro de Bin Laden. No começo a agente sente-se mal com as práticas de tortura dos americanos para conseguir informações com os prisioneiros. O tempo passa, ela não consegue grande progresso com a caçada, e se vê ordenando a tortura e agressões para conseguir o que deseja. Nesse ponto o filme é polêmico ao deixa explícito que, para conseguir matar o chefão da al-Qaeda, foi preciso quebrar alguns ovos, digo, costelas, ossos, narizes e até a personalidade de alguns presos. O roteiro de Mark Boal, nesse ponto, é feliz ao esclarecer os americanos e dizer: não somos tão santos assim.
Mas convenhamos, todo americano que se preze queria ver o tal Bin Laden tostado no micro-ondas. No fundo, o americano conhece ou tem alguém do seio familiar que morreu ou sofreu com os atentados de 11 de setembro. É natural esse tipo de desejo de vingança. A Hora Mais Escura é apenas um relato, quase uma prestação de contas, aos americanos de como tudo aconteceu, ressaltando que o grande inimigo da América só está morto por conta da teimosia de agente Maya.
Como relato o filme é um documento histórico bem feito e que será visto e revisto por anos a fio, para retratar essa página triste da nossa história recente. Mas como narrativa, o longa deixa bastante a desejar. A agente Maya é a força motriz da história. Ela deveria ser a alma do filme. Contudo, como há tanta coisa a ser dita sobre o contexto histórico e as diversas ações para se chegar ao objetivo, mesmo com mais duas horas de meia de duração, há pouco espaço para explorar o que acontece dentro do coração e da mente de Maya. O que a move? O que faz ela seguir lutando, mesmo diante de fracassos e perdas irreparáveis? O roteiro Mark Boal parece se interessar mais pela complexidade dos fatos lá fora, do que o emaranhado de sentimentos dos seus personagens. Veja o descaso blasé dos soldados, que minutos atrás, mataram nada mais nada menos, o maior inimigo dos Estados Unidos. Eles deveriam estar eufóricos e delirando com o feito. Perceba na cena final, tudo aquilo que Maya passou foi finalizado com um comentário bobo, "Você deve ser importante para mandarem um avião desse para lhe buscar sozinha", seguido de choro. Poxa vida, essa mulher enfrentou todo mundo e garantiu que Bin Laden estava dentro daquela casa. Teve que esperar mais de 100 dias para ter a operação aprovada, e Kathryn Bigelow não consegue nem ousar uma liberdade poética para dar um final a altura de sua heroína.
A Hora Mais Escura é um relato contundente da caçada e operação para matar Osama Bin Laden, mas desculpe, é pouco. Um assunto tão importante como esse merecia um aprofundamento melhor. Talvez a pressa para realizar uma adaptação cinematográfica sobre o assunto levou o roteiro a ter uma visão rasa e superficial do assunto. Kathryn Bigelow se concentra em contar a história e não se dedica tanto a refletir sobre o tema, o que o deixa morno. Verdade é que são sempre os vencedores que contam sua versão da história. Osama Bin Laden morto, para os americanos, deve ser motivo de celebração por uma vingança devidamente executada. E para aqueles que chamamos de terroristas, o que a morte do ícone deles representa. Um mártir? Todo cinéfilo sabe que em filme de vingança nenhuma das partes sai vencedora e ambas acabam sangrando. A arte apenas imita a vida.
A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty - 2012)
Direção: Kathryn Bigelow
http://www.imdb.com/title/tt1790885/
Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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