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Ponto Final - Match Point

Woody Allen surpreende o público com esse excelente novo trabalho. Obviamente, não por ser excelente, qualidade que não falta em sua filmografia, mas por se reinventar e realizar algo completamente diferente do seu usual.
Match Point pode figurar nas categorias de drama ou suspense, fugindo do habitual gênero da comédia. A trama sai de Manhattan, atravessando um oceano para tomar lugar em Londres. Os personagens não são verborrágicos. Woody Allen não aparece como ator, o que geralmente adiciona uma carga cômica aos filmes, e Chris (Jonathan Rhys Meyers) é um protagonista contido, imerso em dilemas pessoais. O filme é marcado por um estilo inglês - elegante, sóbrio e sutil. Quem traz mais calor à trama é justamente a personagem de Scarlett Johansson, uma norte-americana.
Completando a elegância, o diretor insere referências à tragédia grega, citando Sófocles (autor de Édipo Rei, Antígona, entre outras). Woody Allen parece gostar do tema, que já havia sido trabalhado em Poderosa Afrodite, mas de forma bastante diferente. Dessa vez, o desenrolar do núcleo da história é tipicamente trágico e recebe também pitadas de Dostoievski e sua principal obra, Crime e Castigo. Podemos ver Chris lendo o autor russo em alguns momentos. Ópera é mais uma das influências eruditas de Match Point, compondo a trilha sonora e acentuando seu peso dramático.
Chris, o tenista profissional que passa a ser um executivo, envolve-se ao mesmo tempo com Chloe e Nola e vive a dificuldade de tentar conciliar sua vida entre as duas, procurando tomar uma decisão. Parece ter o dom de transformar mulheres interessantes em chatas insuportáveis. Chloe, tão meiga e divertida não pára de falar sobre bebês por um só minuto, exigindo a total atenção do marido. Nola, a sexy aspirante à atriz se torna histérica, demandando a presença exclusiva de Chris. É provável que a falta de posicionamento dele é que faça com que elas mudem de comportamento e se tornem desagradáveis. Para resolver a situação, Chris vislumbra uma solução, um tanto quanto absurda e imprevisível.
Jonathan Rhys Meyers interpreta um Chris comedido e pensativo, por vezes inexpressivo. Para o que o papel exige, ele se sai bem, mas ainda não arrisco dizer se é ou não um ator talentoso. Parece que poderíamos vê-lo seminu nos anúncios da Calvin Klein ou em preto e branco numa propaganda de perfume. Não que isso signifique alguma coisa. Eu apenas não conseguia desvincular sua imagem da de um modelão. Mas, obviamente, há milhões de atores belos e talentosos por aí. E esse é justamente o caso de Scarlett Johansson, que exala tanto sensualidade como competência.
Woody Allen capricha no roteiro bem elaborado e na construção dos personagens. Boas amarras impressionam, como a associação, por meio da rima visual, entre a cena inicial numa quadra de tênis e uma posterior envolvendo uma aliança. Faz brilhar os olhos de quem gosta dos jogos da linguagem cinematográfica e de um roteiro bem articulado. Match Point discute questões como o destino e a sorte e mostra como as pessoas estão completamente vulneráveis aos acontecimentos e ao azar. Os destinos de cada personagem dependem das idas e vindas, das coincidências. Nunca sabemos o que a vida lhes reserva e o diretor brinca com as possibilidades, conseguindo fazer com que o espectador se envolva e se surpreenda com cada acontecimento. A metáfora utilizada é a da partida de tênis; a vida é como um jogo. Quando a bola bate na rede, tudo pode acontecer. O que determina se a bola cai de um lado ou de outro é a sorte – e não há nada que se possa fazer. Por mais que tente, Chloe (Emily Mortimer) não consegue engravidar enquanto que isso acontece a Nola (Johansson), mesmo que ela não tenha planejado. Match Point é um filme de surpresas, não só por nos inquietar a cada reviravolta da trama, mas também pelas inovações em relação ao que esperamos de Woody Allen. Somos surpreendidos duplamente. Woody Allen dá um olé em nossas expectativas em relação a ele e suas obras e à própria história que é aqui contada.


Ponto Final - Match Point (Match Point, 2005)
Direção: Woody Allen
Elenco: Jonathan Rhys-Meyers, Scarlett Johansson, Emily Mortimer, Brian Cox, Matthew Goode.

Mariana Souto - souto_mariana@yahoo.com.br

3 comentários:

  1. Cinema de primeira qualidade. Filmaço!
    E essa Scarlett Johansson então, que delícia...
    Um abraço à todos

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  2. Mto bom filme, e mto boa critica, só faltou qtas estrelas o filme merece (mas voce deve dar 5 estrelas, pela critica, e tb merecidamente, em minha opinião)

    Impressionante como filme a todo momento, e principalmente no final prova a fala inicial, qué melhor ter sorte a ser bom

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  3. Parabéns pelo blog pessoal! É muito bom discutir sobre filmes. Ponto Final com certeza é um desses que merecem uma bela discussão. Visitem meu blog e leiam meu comentário.

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