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O Segredo de Brokeback Mountain

Se não houvesse tanta repressão social em relação à homossexualidade, menos pessoas teriam suas vidas perdidas em casamentos sem sentido e sem amor. Em O Segredo de Brokeback Mountain, Alma (Williams), a esposa de Ennis (Ledger), descobriu, acidentalmente, que se casara com um gay e se divorciou depois de anos, mas poderia ter sido enganada por toda uma existência. Penso na quantidade de pessoas nessa mesma situação. Se as relações homossexuais fossem permitidas sem preconceito e se os indivíduos não tivessem internalizado repressões contra seus próprios desejos por alguém do mesmo sexo, não só os gays como muita gente que se envolve e forma família com eles teriam destinos mais felizes.

Ennis e Jack, dois cowboys, se conhecem ao serem colegas de trabalho na Montanha Brokeback. Desenvolvem um forte sentimento acrescido de uma grande atração um pelo outro. Após o término desse trabalho, tomam, cada um, um caminho e vivem em locais diferentes. Ennis se casa com Alma, moça simples, e tem duas filhas. Jack casa-se com Lureen, uma jovem rica e, juntos, têm um garoto. Ennis e Jack encontram-se, entre longos intervalos de tempo, em Brokeback, o belo lugar onde se conheceram.

O filme centra-se na bonita relação de amor entre os dois personagens a ponto de fazer o público se esquecer de que ambos são homens. Trata-se de um relacionamento como outro qualquer, com paixão, carinho e conflitos. É possível ver a transformação pessoal de Ennis, talvez fruto da convivência com Jack. Ennis é tão contido que, praticamente, fala de boca fechada. É um sujeito reservado, quieto, que tem dificuldades de se entregar de forma plena, provavelmente pela forte repressão imposta pelo pai. Em vários momentos, usa o trabalho como desculpa para se furtar ao contato social e familiar. Já nos momentos finais do filme, hesita em comparecer ao casamento da filha Alma Jr., mas decide participar desse momento, apesar de por seu emprego em risco, o que consiste numa grande mudança em seu posicionamento.

A direção de Ang Lee mostra-se segura e competente. O Segredo de Brokeback Mountain conta com a belíssima fotografia do mexicano Rodrigo Prieto (Alexandre, 21 gramas, Frida, Amores Brutos) e com a ótima direção de arte de Laura Bellinger, ambientando com perfeição a trama no universo country norte-americano. Há diversos planos maravilhosos das paisagens locais.

Ennis e Jack são muito bem interpretados por Heath Ledger e Jake Gyllenhaal. Anne Hathaway e Michelle Williams, conhecidas por seus papéis adolescentes em O Diário da Princesa e na série televisiva Dawson’s Creek, respectivamente, aparecem com força e maturidade em excelentes trabalhos. Hathaway exibe sua incomparável beleza (antes de tornar-se uma perua ultra-loira, é claro).

O Segredo de Brokeback Mountain aborda a homossexualidade em um símbolo americano de virilidade – o cowboy. Pode se pensar tal escolha como uma afronta aos moldes de masculinidade de um país, mas a verdade é que simplesmente há gays em toda parte. Mostrando que não estão restritos aos meios artísticos ou ao mundo underground, o filme de Ang Lee quebra estereótipos e traz a noção, ainda pouco aceita, de que os homossexuais não são, necessariamente, femininos. Passando-se nas décadas de 60 e 70 numa comunidade pouco tolerante, as atrocidades e os atos de violência contra os gays, simplesmente por assim o serem, surgem com recorrência e provocam, no espectador, um sentimento de revolta. Contudo, sinto falta de filmes corriqueiros nos quais os personagens simplesmente sejam gays e que isso não seja uma bandeira, uma militância ou mesmo um tema central. Quantas comédias românticas existem em que os protagonistas não sejam heterossexuais? Quantos dramas ou suspenses são produzidos com personagens homossexuais? É evidente que os filmes que tratam a questão como denúncia são de fundamental importância e têm grande função social. Só espero que um dia eles não sejam mais tão necessários e se possa fazer arte e ficção com gays sem que isso chame tamanha atenção. Ou sem que sejam coadjuvantes engraçadinhos e estereotipados. O fato de serem gays não deveria importar, mas atualmente isso parece ser impossível, infelizmente. Sendo assim, ao menos, somos agraciados com belas e sensíveis obras como O Segredo de Brokeback Mountain.

O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain, 2005)
Direção: Ang Lee
Elenco: Heath Ledger, Jake Gyllenhaal, Anne Hathaway, Michelle Williams.


Mariana Souto - souto_mariana@yahoo.com.br

9 comentários:

  1. Rapaz, esse tal de Rodrigo Prieto é mesmo bom: a fotografia de "A Última Noite", filme que adoro, é também dele.
    Esse oscar (melhor fotografia) vai ser o mais previsível de todos neste ano (mais do que melhor filme).
    A propósito, vcs sabem se o SBT já confirmou a transmissão do Oscar. E se já confirmou, quem vão ser os apresentadores?
    Um abraço, Marcos

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  2. Mariana,
    Não gostei dessa sua crítica.
    Depois conversamos...
    É só para pontuar...
    Beijos

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  3. Ok, espero seus argumentos.
    Beijo.

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  4. Opa, o blog está ficando democrático. o Fábio discordou da crítica de Mariana.

    Eu particularmente, também não gostei. É fato. Ela escreve melhor do que eu, e tem uma sensibilidade para pontuar certo elementos de um filme, que eu adoro. Compare minha crítica de Crash e a dela.

    Tia Mariana(uso o tia sempre para sacanea-la)
    Sinto que você foi um pouco superficial. Prendeu-se demais a homesexualidade nos últimos paragrafos, mas no primeiro acerta em cheio - "menos pessoas teriam suas vidas perdidas em casamentos sem sentido e sem amor."

    Você uma crítica meio modelada demais. Fala um pouco do enredo, comenta quesitos técnicos, valoriza atuações e explana sua opinião sobre o tema. Sua explanação, que tanto valorizo, ficou aquém do brilhantismo habitual.
    Acho válido os usuários nào gostarem. Eu escrevi PARIU onde era para ser PAREO. Fiquei com vergonha, mas é bom. Mostra-nos que sempre há mais um degrau a subir. Simbora amiga.
    Gil

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  5. Será que alguém pode responder às minhas perguntas do comentário anterior?
    Ficarei grato.
    Marcos

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  6. Olá Marcos,

    Até o momento não foi confirmado pelo SBT a transmisssão do OSCAR, mas caso venha a acontecer, provavelmente os apresentadores serão o tradicional Rubens e a modelo Analice Nicolau (os mesmos apresentadores do globo de ouro)

    Abcs

    Ivão Caixão

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  7. Marcos,

    Já foi confirmado - A Globo vai transmitir dia 5 de março. A cobertura do terá a transmissão de Renato Machado e os comentários de José Wilker.

    Então, será bem chato. Wilker assisti muito cinema, mas não tem o felling de crítico. É muito pacional. Odeia um filme e torce para que ele não ganhe nada. O Rubens Edwald deve transmitir pelo telecine, como habitual.

    A Globo poderia optar por uma dobradinha muito melhor - Jô Soares e Maria Gabriela. Ambos amam cinema e conhecem bem. Daria um ar diferente. Seria a oportunidade de lançar um outro crítico na TV - Pablo Villaça, Kleber Medonça, Celso Sabatine, etc.

    Mas, como diria Renato Russo, É mais do mesmo.

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  8. Bom, acontece! Nem sempre a gente escreve do jeito que gostaria... Mas é sempre bom receber o retorno do nosso trabalho e ouvir críticas construtivas! Melhores textos virão!
    Abraços,
    Mariana :)

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  9. Cara Mariana,

    você disse que sente falta de filmes correiqueiros envolvendo gays. Isso é verdade. Sempre que eles aparecem, ou é pra fazer graça, chacota, ou para dramas pesados. Exceções a parte é o ótimo "Banquete de casamento" também de Ang Lee. Se ainda não assistiu, corra.

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