LavourArcaica
Uma obra difícil, mas que vale a pena pelo teor reflexivo
Quando assisti Lavoura Arcaica em meados 2001, ou foi em 2002, não tinha a sensibilidade cinematográfica para avaliar o valor e a eficiência do filme. Um ritmo lento e muito cadenciado me assustou. Lançado em DVD, pude verificar que os anos amadureceram o filme, ou melhor, eu me amadureci para o filme. Portanto devo assistir Lavoura Arcaica uma vez por ano. Cada dia que você vive, cada aprendizado que tem ao longo da vida, parece ser exposto a questionamento neste intrigante filme do diretor Luiz Fernando Carvalho.
O filme é uma poesia de 2 horas e 45 minutos, parafraseando a critica de Pablo Villaça do site Cinema em Cena. O filme pode ser uma viagem chatíssima para alguns espectadores. O filme relata sobre a vida de André (Selton Melo), um jovem aprisionado em seus desejos e tenta fugir do seio familiar e de toda a tradição ligada à comunidade em que vive. O choque entre liberdade e tradição é o pilar dessa complexa obra. Os valores familiares são questionados através de uma atuação impar de Selton Melo (Lisbela e O Prisioneiro). A contradição dos desejos, muitas vezes sexuais, e toda a tradição em que foi criado, explodem em choques emocionais, que Selton Melo expressa buscando nos mais intrisecos dos sentimentos. Em algumas cenas podem-se ver ao mesmo tempo lágrimas, risos e dor. Há uma enorme expressividade nas atuações, que podem aparentar atuações de teatro.
A princípio Lavoura Arcaica é um filme imperdível. Mas quando espectador tenta explorar o texto do filme, que é extremamente poético, percebe que a tarefa é muita mais árdua. O texto rebuscado assusta. As frases ferem os espectadores mais compenetrados. Algumas frases podem não dizer nada, aparentemente, mas nota-se que cada palavra escolhida para o filme tem sua intencionalidade junto ao espectador. Algumas talvez não sejam devidamente decodificadas, pela ainda escassa bagagem de conhecimentos do espectador. Fidelíssimo ao texto do livro homônimo de Raduan Nassar, o diretor Luiz Fernando Carvalho realizou uma obra cultuada por muitos cinéfilos do Brasil.
Um problema que vejo é que o filme peca pelo excesso. É muito bom, mas é muito difícil. Para absorver toda a beleza do filme, receio que os anos de experiência sejam necessários. Lavoura Arcaica é mais que um filme é um exercício poético-filosófico. Quando se discute sobre o filme, numa dessas rodas de bar, vê-se que cada um tem uma visão, que raramente comunga com a de outro. Só essa especificidade reflexiva que o filme promove já vale a locação. Quem deseja explorar o cinema e as possibilidades que a sétima arte pode conceber, Lavoura Arcaica é obrigatório. Curisoso é um filme tão incomum com este ser pouco comentado. Merece mais atenção. O DVD duplo justifica a espera de 4 anos, apesar do acabamento estético do menus aquém do que a obra merecia. Vamos melhorar Europa Filmes.
Ps.: Esse filme é a cara do meu amigo João Paulo Valadares. Lembrou-me o curta metragem Humanamente Mefisto.
Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
Quando assisti Lavoura Arcaica em meados 2001, ou foi em 2002, não tinha a sensibilidade cinematográfica para avaliar o valor e a eficiência do filme. Um ritmo lento e muito cadenciado me assustou. Lançado em DVD, pude verificar que os anos amadureceram o filme, ou melhor, eu me amadureci para o filme. Portanto devo assistir Lavoura Arcaica uma vez por ano. Cada dia que você vive, cada aprendizado que tem ao longo da vida, parece ser exposto a questionamento neste intrigante filme do diretor Luiz Fernando Carvalho.
O filme é uma poesia de 2 horas e 45 minutos, parafraseando a critica de Pablo Villaça do site Cinema em Cena. O filme pode ser uma viagem chatíssima para alguns espectadores. O filme relata sobre a vida de André (Selton Melo), um jovem aprisionado em seus desejos e tenta fugir do seio familiar e de toda a tradição ligada à comunidade em que vive. O choque entre liberdade e tradição é o pilar dessa complexa obra. Os valores familiares são questionados através de uma atuação impar de Selton Melo (Lisbela e O Prisioneiro). A contradição dos desejos, muitas vezes sexuais, e toda a tradição em que foi criado, explodem em choques emocionais, que Selton Melo expressa buscando nos mais intrisecos dos sentimentos. Em algumas cenas podem-se ver ao mesmo tempo lágrimas, risos e dor. Há uma enorme expressividade nas atuações, que podem aparentar atuações de teatro.
A princípio Lavoura Arcaica é um filme imperdível. Mas quando espectador tenta explorar o texto do filme, que é extremamente poético, percebe que a tarefa é muita mais árdua. O texto rebuscado assusta. As frases ferem os espectadores mais compenetrados. Algumas frases podem não dizer nada, aparentemente, mas nota-se que cada palavra escolhida para o filme tem sua intencionalidade junto ao espectador. Algumas talvez não sejam devidamente decodificadas, pela ainda escassa bagagem de conhecimentos do espectador. Fidelíssimo ao texto do livro homônimo de Raduan Nassar, o diretor Luiz Fernando Carvalho realizou uma obra cultuada por muitos cinéfilos do Brasil.
Um problema que vejo é que o filme peca pelo excesso. É muito bom, mas é muito difícil. Para absorver toda a beleza do filme, receio que os anos de experiência sejam necessários. Lavoura Arcaica é mais que um filme é um exercício poético-filosófico. Quando se discute sobre o filme, numa dessas rodas de bar, vê-se que cada um tem uma visão, que raramente comunga com a de outro. Só essa especificidade reflexiva que o filme promove já vale a locação. Quem deseja explorar o cinema e as possibilidades que a sétima arte pode conceber, Lavoura Arcaica é obrigatório. Curisoso é um filme tão incomum com este ser pouco comentado. Merece mais atenção. O DVD duplo justifica a espera de 4 anos, apesar do acabamento estético do menus aquém do que a obra merecia. Vamos melhorar Europa Filmes.
Ps.: Esse filme é a cara do meu amigo João Paulo Valadares. Lembrou-me o curta metragem Humanamente Mefisto.
Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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