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O Espelho

De tempos em tempos é fundamental no cinema que os realizadores ousem e deem uma oxigenada em alguns gêneros. O cinema de horror talvez seja o que mais necessita essa permanente readequação, afinal, é muito fácil cair no lugar comum e fazer o óbvio. O Espelho vai te fisgar pelos bons sustos, uma trama envolvente e bem costurada, um ótimo trabalho de montagem, mas o melhor mesmo é perceber que - é possível fazer um filme de horror esteticamente exuberante e deixar o espectador salivando durante todo o tempo de exibição.

Não há nada de tão extraordinário no longa dirigido por Mike Flanagan. É um caso simples de um espelho na qual dois irmãos tentam provar que ele é mal assombrado e responsável pela morte dos seus pais. Não é uma ideia original, contudo, Mike Flanagan consegue renovar um conceito que já foi explorado no péssimo Espelhos do Medo, e obtém um resultado surpreendente. Portanto, mais importante que a originalidade é trabalhar de forma eficiente a sua ideia. O que difere o simples do simplista é o esforço do realizador na lapidação, do bruto até o diamante.

Perceba essa lapidação na ótima trilha sonora, composta por The Newton Brothers, que é utilizada para ambientar a angústia dos personagens e não como uma muleta previsível dos filmes de horror, que segundos antes de pregar sustos no espectador, a trilha quase nos ensurdece. Soa óbvio demais. É só entrar o violino chorando, lá vem o susto. O Espelho não nega as convenções do gênero, mas trabalha arduamente para não cair no lugar comum e soar clichê. É nesse ponto que o longa é tão saboroso.

O maior mérito está na estrutura do roteiro e a montagem impecável do filme. Rendo-me a elogiar Mike Flanagan, que além de dirigir, é o editor e o roteirista. Ao contar a história do casal de irmãos, a montagem propicia que o espectador acompanhe ao mesmo tempo as ações atuais, quanto o flashback contando o que ocorreu no passado deles e dos pais. Não é nenhuma novidade essa brincadeira com a temporalidade da narrativa, mas sua utilização é importante para incrementar a tensão da trama. Gradativamente, a trama fica mais intensa e o passado e o presente se misturam ainda mais. Em uma cena a jovem ruivinha corre pela casa, no outro take, ela já adulta se encontra vivenciando a mesma coisa. Essas sutilezas e truques muitas vezes são utilizadas para que o diretor exercite seu ego e diga: olha como eu sou fodão. Em O Espelho essas traquinagens cinematográficas são utilizadas para enriquecer um conceito fundamental do filme, a ilusão. O que estamos vendo é realmente real, ilusão, flashback, é o que? O espectador fica tão perdido quanto os protagonistas, afinal, estamos dentro da casa também e igualmente assombrados.

Para um gênero em que é muito difícil ter obras espetaculares, veja que são raros que recebem cinco estrelas aqui, filmes como O Espelho trazem além de frescor, muita esperança aos aficionados pelo cinema de horror. A safra de 2013 já teve boas surpresas com o ótimo Invocação do Mal e o bom Mama. Espero que essas assombrosas surpresas continuem nos assustando.



O Espelho (Oculus - 2013)
Direção: Mike Flanagan
http://www.imdb.com/title/tt2388715/

Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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