Dias de glória
Como iniciativa de retratar para o mundo algo de que não se tem o devido conhecimento, “Dias de glória” tem grande relevância. Já como peça cinematográfica, nem tanto.
O filme de Rachid Bouchareb conta a história de quatro soldados de colônias na África que lutam na 2ª Guerra Mundial em defesa da França, país no qual sequer tinham pisado, mas que tratavam como seu. Os franceses, de outro lado, eram resistentes a compartilhar sua nação com os estrangeiros, a quem consideravam inferiores. Os soldados passam por diversos tipos de preconceito, numa situação em que deveriam ser exaltados como heróis que davam a vida por essa causa.
“Dias de glória” tem uma importante premissa, já que situações como essa aconteceram aos montes na história da humanidade, mas sem muito destaque. O próprio Brasil entrou na 2ª Guerra, uma disputa que não era sua. Índios e escravos podiam dar aula sobre isso. Através do filme, temos a oportunidade de ver a dimensão não só do que é estar numa guerra, mas ainda sofrer preconceito por parte de quem você está defendendo.
As atuações, premiadas em Cannes, ajudam a sensibilizar o espectador, que tem empatia pelos soldados. O filme é bem dirigido, bem fotografado e tem bons efeitos. Cumpre sua função de denúncia, provoca reflexões, aborda várias questões sobre a hierarquia do exército, submissão, as outras profissões na guerra (jornalistas, médicos), coragem, medo, a defesa de ideais como liberdade, fraternidade e igualdade, racismo. Mas são muitos ingredientes para pouco sal. Não que seja panfletário, mas talvez se perca em sua prioridade de sensibilização para uma questão importante e tenha se esquecido de ser mais arte.
Provavelmente com um roteiro mais aprofundado nos personagens e seus históricos, o público poderia se envolver mais afetivamente. Dos quatro protagonistas, o único que aparece em seu contexto de vida é Said, com dois minutos de cena com sua mãe. A partir daí, já estamos em plena guerra - com um pouquinho de várias questões e um tiquinho de vários personagens.
Esse recorte para diversos objetos é simbolizado através das nuvens que passam sobre os territórios. O filme é dividido em “capítulos”, ou localidades e datas, cada um iniciando sempre com a sombra de uma nuvem atravessando uma vista aérea de determinado lugar. A sombra sai para que olhemos agora para aquele local e entremos um pouco em sua história. Logo depois, outra terra se descortina.
Pena que o fim, aos moldes de “O Resgate do Soldado Ryan”, revele terras já exploradas.
Dias de glória (Indigènes, 2006)
Direção: Rachid Bouchareb
Elenco: Jamel Debbouze, Samy Naceri, Roschdy Zem, Sami Bouajila, Bernard Blancan.
Mariana Souto - marianasouto@gmail.com
O filme de Rachid Bouchareb conta a história de quatro soldados de colônias na África que lutam na 2ª Guerra Mundial em defesa da França, país no qual sequer tinham pisado, mas que tratavam como seu. Os franceses, de outro lado, eram resistentes a compartilhar sua nação com os estrangeiros, a quem consideravam inferiores. Os soldados passam por diversos tipos de preconceito, numa situação em que deveriam ser exaltados como heróis que davam a vida por essa causa.
“Dias de glória” tem uma importante premissa, já que situações como essa aconteceram aos montes na história da humanidade, mas sem muito destaque. O próprio Brasil entrou na 2ª Guerra, uma disputa que não era sua. Índios e escravos podiam dar aula sobre isso. Através do filme, temos a oportunidade de ver a dimensão não só do que é estar numa guerra, mas ainda sofrer preconceito por parte de quem você está defendendo.
As atuações, premiadas em Cannes, ajudam a sensibilizar o espectador, que tem empatia pelos soldados. O filme é bem dirigido, bem fotografado e tem bons efeitos. Cumpre sua função de denúncia, provoca reflexões, aborda várias questões sobre a hierarquia do exército, submissão, as outras profissões na guerra (jornalistas, médicos), coragem, medo, a defesa de ideais como liberdade, fraternidade e igualdade, racismo. Mas são muitos ingredientes para pouco sal. Não que seja panfletário, mas talvez se perca em sua prioridade de sensibilização para uma questão importante e tenha se esquecido de ser mais arte.
Provavelmente com um roteiro mais aprofundado nos personagens e seus históricos, o público poderia se envolver mais afetivamente. Dos quatro protagonistas, o único que aparece em seu contexto de vida é Said, com dois minutos de cena com sua mãe. A partir daí, já estamos em plena guerra - com um pouquinho de várias questões e um tiquinho de vários personagens.
Esse recorte para diversos objetos é simbolizado através das nuvens que passam sobre os territórios. O filme é dividido em “capítulos”, ou localidades e datas, cada um iniciando sempre com a sombra de uma nuvem atravessando uma vista aérea de determinado lugar. A sombra sai para que olhemos agora para aquele local e entremos um pouco em sua história. Logo depois, outra terra se descortina.
Pena que o fim, aos moldes de “O Resgate do Soldado Ryan”, revele terras já exploradas.
Dias de glória (Indigènes, 2006)
Direção: Rachid Bouchareb
Elenco: Jamel Debbouze, Samy Naceri, Roschdy Zem, Sami Bouajila, Bernard Blancan.
Mariana Souto - marianasouto@gmail.com
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