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Django Livre

Tarantino está numa empreitada interessante na qual vem realizando filmes em diferentes gêneros. Aguardava-se ansiosamente por seu flerte com o faroeste, cujo diretor é um aficionado, sobretudo com o western spaghetti, realizado entre as décadas de 1960 e 1970, por diretores italianos. Django Livre é um filme irregular, apesar de momentos divertidos, e funciona mais como uma bela homenagem ao gênero.

Tarantino é inegavelmente um ótimo escritor de diálogos e os melhores momentos do longa são as conversas, em que se destaca a sequência do jantar na casa de  Calvin Candie, interpretado com enorme competência por Leonardo DiCaprio. O papo sedutor de Dr. Schultz (Christoph Waltz) também angaria pontos a narrativa e a atuação acertada do oscarizado ator austríaco segue o mesmo modelo de Bastardos Inglórios. Mas quem deveria mesmo se destacar, Django (Jamie Foxx), acaba soando bem menor do que deveria. O roteiro de Tarantino não ajuda ao criar um protagonista excessivamente sisudo, unidimensional e que não esboça mudança, mesmo diante da sua amada. O filme perde muito por ter um mocinho com uma história um tanto sem graça.

Como a história não é magistral, Tarantino se agarra naquilo que ele faz melhor, entreter o espectador. Muito sangue, cenas de ação, tiroteios e personagens falando mais que pobre na chuva. Contudo, apesar de ótimas sequências, a história do casal de negros separados parece não fisgar o espectador. Mesmo os flashbacks que mostram o amor e a separação do casal, eles soam mais curtos do que deveriam. O pior é que mais a frente no longa, o cinéfilo mais crítico verá diversas cenas dispensáveis, cujo tempo poderia ser utilizado para aprofundar os personagens. Convenhamos, Django Livre é um filme sobre o esforço de um homem para encontrar sua amada em que o espectador, ao fim do longa, mal conhece quem é essa amada e o que ela tem para fomentar tamanho esforço do seu amado herói.

Tarantino se preocupa demais em estabelecer uma referência estética magnifica aos saudosos filmes de western spaghetti, algo que ele faz com primor, mas deixa muito de lado as possibilidades narrativas que sua história poderia render, sobretudo em relação a escravidão. Poxa, um escravo pistoleiro que enfrenta à todos por sua amada e promove uma chacina para resgatá-la, isso deveria se tornar uma lenda ou mesmo estabelecer uma nova franquia para filmes. Infelizmente, Tarantino passa bem longe disso. O diretor repete o mesmo erro de  Bastardos Inglórios, que é permeado de ótimas sequências e boas atuações, mas que esconde uma história insossa.

O cinema realizado por Tarantino pode até encher os olhos do espectadores com seu apuro visual, seus diálogos incomuns e o entretenimento "pulp fiction" barato. Mas o certo é que os longas do diretor só conseguem atingir a retina e os tímpanos, nunca tendo como alvo nossos corações e nossas mentes. Três dos seus últimos filmes, a bilogia Kill Bill, Bastardos Inglórios e Django Livre, tem como foco o conceito de vingança, mas que se empalidecem diante do impacto do avassalador Old BoyAo que tudo indica, você cinéfilo nunca sairá transformado após conferir um filme de Tarantino. Talvez ele nem se importe com isso, mas isso certamente vai me distanciando de sua obra. Assim como Tarantino, Pedro Almodóvar se preocupa em estabelecer uma assinatura nos seu trabalho e tem realizado, recentemente, um passeio por diversos gêneros, mas seus filmes são bem mais inquietantes. O que me pergunto é: o que Tarantino está procurando?

Quer uma prova de quanto Tarantino anda perdido: na cena final em que Django tem Stephen (Samuel L. Jackson) na mira de seu revolver, essa era uma hora muito oportuna para um diálogo afiado sobre o papel do negro naquela história até ali contada. O diretor opta apenas em atirar, e Django faz pose de machão... putz, desculpe, isso é um caso simples de roteiro pobre e medroso.



Django Livre (Django Unchained - 2012)
Direção: Quentin Tarantino
http://www.imdb.com/title/tt1853728/

Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com 
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