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Os Olhos de Julia

Cabe ao ser humano, por vezes, seguir seus instintos. Deixar a racionalidade de lado um pouco, e sentir as coisas. Como cinéfilo procuro novos filmes, novos diretores, novos atores, enxergar culturas de países diferentes. Após conhecer o belo trabalho de estréia do diretor Guillem Morales,em El Habitante Incierto, algo me dizia: investigue esse sujeito, ele tem algo realmente diferente. Fechei os olhos e fui atrás.

Garimpar novos filmes e diretores, diante da infinidade de produções disponíveis atualmente, com o auxílio da internet, funciona muitas vezes como um tiro cego. Dentre milhares de filmes a escolher, eu leio algumas sinopses e de repente sinto - esse aqui tem algo. Muitas dessas descobertas são apenas com base nesse "sentimento", que fica mais moderno chamar de "felling". O segundo longa de Morales, Os Olhos de Julia, toca justamente no quanto devemos sentir o mundo e as pessoas, e não apenas ater-se aos nossos sentidos.

Julia tem um doença degenerativa que afeta a visão, que gradativamente a levará a cegueira. Após a misteriosa morte da irmã, já cega pela mesma doença, ela discorda da hipótese de suicídio e dá início a uma investigação. Cada pista que ela recolhe, cada peça que ela monta, acaba custando-a parte da visão. Ela precisa agir rápido, antes que a escuridão a tome. Mal sabe ela, que é nas sombras que se esconde quem ela procura.

Apesar de vendido como filme de horror, ele é um suspense com bons sustos. Imagine-se cego, meu caro leitor, e escutando passos dentro da sua casa. Tente fugir, mesmo não lembrando qual o caminho da porta. O filme é temperado com uma angústia e uma sensação de desespero, que pouco tenho visto recentemente. A direção de Morales explora novamente a presença do desconhecido dentro de casa. Escolha essa que traz um impacto diferenciado ao espectador, afinal, a história narrada no filme tem toda a possibilidade de vir acontecer. Isso amedronta mais que filmes de fantasmas, monstros ou vampiros. É um temor que você leva para cama após assistir, o que convenhamos, é delicioso.

O filme conta com um trunfo, tornando-o superior ao filme anterior do diretor, El Habitante Incierto, a atuação sensacional de Belén Rueda, conhecida pelos filmes O Orfanato e Mar Adentro. Grande parte da participação e afinidade do espectador com a personagem dá-se na maneira com que o ator ou atriz a conduz. O trabalho de Rueda faz com que não deixemos Julia um minuto se quer, sem a nossa devoção e preocupação. O público masculino irá notar os planos, na qual os decotes no busto da atriz são explorados com bastante intensidade. É preciso louvar também o belíssimo roteiro que nos leva com ritmo e fluidez pela trama, chegando há momentos em que exclamei: Vixe, agora fudeu de vez!!!

Peço que prestem a atenção, no terceiro ato, como o diretor Guillem Morales trabalha com a câmera sem focalizar a face de determinadas personagens, apenas a de Julia. Esse recurso só será abandonado mais tarde, revelando o que Júlia e os espectadores passaram o filme inteiro procurando. Diante de obras como essa retoma-se o debate de que há muito o que se vê no cinema mundial, mas poucos parecem estar enxergando. Talvez estejamos cegos também. Então é hora de voltarmos a sentir, ou seja, assista Os Olhos de Julia.


 
Os Olhos de Julia(2010) 
Direção: Guillem Morales
http://www.imdb.com/title/tt1512685/
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