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Expresso do Amanhã

Expresso do Amanhã era um dos filmes mais esperados da temporada, sobretudo em função da estréia hollywoodiana do ótimo diretor sul coreano Joon-ho Bong e o curioso conceito pós-apocalítico na qual foi baseada a obra, a graphic novel francesa "Le Transperceneige." Tudo isso levou-me a pensar: deve vir algo bom aí. Infelizmente, não veio.

O longa é bastante ambicioso já em sua trama, quando a humanidade é quase extinta por causa de uma intervenção ambiental mal sucedida e os poucos sobreviventes do planeta habitam um trem. Divididos em classes sociais, os melhores ficam nos vagões dianteiros e os que restaram, no último vagão. Claro que essa situação culmina em revolta e mortes.

Sou fascinado pelo cinema realizado por Joon-ho Bong, que me assombrou na obra prima Memórias de um Assassino e depois manteve o gabarito alto com O Hospedeiro e Mother - A Busca Pela Verdade. É perceptível o cuidado estético e olhar diferente do diretor nas cenas, mas o grande problema é que a história não empolga. O espectador assiste tudo de fora e não se envolve. Ele não consegue ser um dos sobreviventes a seguir Curtis (Chris Evans). Mesmo sem o envolvimento emocional necessário, o filme poderia propiciar reflexões existenciais pertinentes, mas o discurso não tem a força de um 1984, por exemplo. Curiosamente, John Hurt, que é o protagonista da adaptação cinematográfica de 1984, tem um papel crucial em  também Expresso do Amanhã. O longa lembra demais 1984, mas poderia ir além. A discussão sobre o equilíbrio ambiental, contexto base da trama, não é tão aproveitado como poderia. Ok, eu entendi a ironia em, eles matam peixes para fazer sushi na mesma proporção que matam pobres do último vagão para manter o equilíbrio populacional do trem. Mas eu fiquei esperando por mais. Por algo que WALL-E conseguiu dizer em seu ato final, explorando praticamente o mesmo tema.

Em sua conclusão, surge o criador do trem (Ed Harris), como numa espécie de Mágico de Oz, explicando toda aquela jornada de duas horas. Soou-me bastante frustrante. Ali estava posto o cenário para um diálogo profundo e impactante, mas que não acontece. Nesse momento todas as fragilidades do roteiro se despedaçam e não resta outra solução para o espectador a não ser pular do trem. Ops, e não é que a história faz o mesmo.

Expresso do Amanhã tropeça na pretensão de sua trama e perde espectadores a cada vagão que Curtis e seu grupo ultrapassa. Um dos grande erros da trama é mostrar quem de fato é Curtis, o líder que o espectador está seguindo, só no final do longa. Nem vou comentar o uso ineficiente da ministra, personagem caricata interpretada por Tilda Swinton. No fundo a polêmica sobre as duas versões do filme, a briga entre o diretor e a Weinstein Company, prejudicaram muito o lançamento da obra pelo mundo. Longe de mim proteger o Weinstein, que não são as flores mais cheirosas de Hollywood, mas talvez eles viram o mesmo que eu vi. Melhor, eles também não viram. Não creio que os tais 20 ou 25 minutos adicionais possam salvar Expresso do Amanhã da decepção. Seguindo a mesma frustração do compatriota Chan-wook Park, que também tropeçou em Segredos de Sangue, acho melhor que ambos voltem para Seul, pois os ares de Hollywood não os fizeram bem.

Verei a versão maior no futuro e atualizo a resenha.



Expresso do Amanhã (Snowpiercer - 2013)
Direção: Joon-ho Bong
http://www.imdb.com/title/tt1706620/

Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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Um comentário:

  1. Sua resenha está ok, mas vou discordar da tua opinião sobre Segredos de Sangue.
    Segredos de Sangue é um bom filme, diferentemente de Snowpiercer que é apenas razoável.

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