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O Gângster

Pelo alvoroço criado pela mídia especializada em cinema, O Gângster, mais novo filme do diretor Ridley Scott (Alien – 8º Passageiro, Gladiador), estava facilmente cotado para os grandes prêmios da temporada. O longa segue à risca a receita – como ganhar o Oscar em três fascículos: 1- Trama intrigante com viés político apropriada para situação atual; 2 – Diretor renomado que pela estrada já merece uma estatueta; e 3 – Protagonistas interpretados por dois astros (e também bons atores). No entanto, esqueceram de temperar com sal. O espectador sai do cinema com a sensação de um bom filme, mas com um gostinho borrachudo lá no fim língua.

O longa é um filme interessantíssimo, que nos prende com a carregada trama e o típico clima policial. A personagem de Denzel Washington, Frank Lucas, é um sujeito até carismático, apesar da sua falta de escrúpulos. Em uma cena, alguns [eu admito] torcerão para que ele mate, e rápido, um negão metido. Ele ainda garante matar os parentes, primos e irmãos, que interferirem o atrapalharem seus negócios. O negócio em questão é heroína. Pura, sem adicionais e vendida abaixo do preço comum de mercado. Heroína asiática que chega aos guetos e mansões depois de cruzar o mundo dentro de caixões de soldados americanos mortos no Vietnã. Convenhamos, só essa premissa já vale uma conferida no filme? Porém, uma idéia sensacional, não necessariamente se converte em um filme sensacional.

O longa é muito bem feito, o que demonstra a firmeza e o tato, de longo anos de Scott. No fim é que aparecem os tropeços. O ponto crucial que diminui o impacto do longa é a ausência de uma explicação por parte das Forças Armadas Americana sobre o caso. Putz, tinha heroína na bunda dos heróis da nação, e eles não explicam nada? Preso, Frank Lucas delata vários policias inseridos no sistema de tráfico de drogas em troca da diminuição da pena. Tudo bem, mas não dá pra entender que uma pessoa tão firme e convicta, como apresentada ao longo do filme, de uma hora para outra entrega os amiguinhos de bandeja [gíria à lá Bezerra da Silva ] à Richie Roberts (Russell Crowe), que chefiou a incursão que destruiu seu negócio e matou vários de seus parentes.

A trama principal, Lucas versus Roberts, é muito boa, mas, como toda boa estória para cinema, necessita de sub-tramas para enriquecê-la. Aí reside o maior erro do longa. Os aprofundamentos das personagens não são tão profundos quanto a estória necessita. Não digo que são rasos ou superficiais, isso nunca, mas falta algo que as amarra. Roberts percebe que, apesar de ser correto, e fazer dessa virtude uma bandeira, ele ainda assim pode ser tão sujo quanto seu oponente Lucas. Ele não aceita roubar um milhão de dólares, mas convive normalmente com sua conduta adultera, que destruiu seu casamento e o afastará do filho. Uma sacada fenomenal que acaba se diluindo durante a estória. Quando ela poderia ser retomada, no momento em que Lucas joga na cara de Roberts que mesmo o tirando das ruas as drogas vão continuar chegando aos consumidores, o roteiro foge do tão esperado debate que daria facilmente as estatuetas que o longa almeja – o politicamente correto que não tem nada na vida contra quem nunca teve nada na vida e foi para o caminho errado para tê-lo. Infelizmente, o Gangster é apenas “mais um” bom filme policial.

No fim das contas, O Gângster traça a intrigante trajetória de Frank Lucas, um negro, que entrou no submundo do tráfico e impôs seu produto e suas regras em um sistema antes liderado por mafiosos aristocráticos, quase sempre italianos. Uma questão me deixou pensativo e triste ao fim: O que sentia Lucas ao proporcionar conforto à mãe em troca do vício e das vidas de seus consumidores? Aquele tapa, sim, esse merece um Oscar. Pena, que novamente, a força da cena se diluiu... se diluiu... se diluiu...
[Após escrever esse comentário verifiquei que a imprensa internacional apreciou e muito o filme. Sinto um clima de Os Infiltrados no ar. Filme bom, mas que vai ganhar mais louros do que merece. Esperar pra ver.]





O Gângster (American Gangster - 2007)
Direção: Ridley Scott
Elenco: Denzel Washington, Russell Crowe, Josh Brolin, Cuba Gooding Jr.

Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com

Um comentário:

  1. Tbm achei o filme bom,mas realmente o
    longa não tem nada demais,acho que o filme poderia ser mais curto vide que ele não se alonga a uma história secundária...
    E palmas para Russel Crowe...
    incrível como ele consegue passar a lucidez e a honestidade que a personagem pede...Um dos poucos atores hoje em dia que sabe REALMENTE a arte de interpretar...

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