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Trapaça

Trapaça é uma tradução bem sugestiva para o novo filme do diretor David O. Russell, não por conta do enredo permeado de trapaceiros que tentam se dar bem na vida, mas pela sensação que o espectador sente após o fim do longa. Tanta badalação em Hollywoood para um filme tão sem sal e que, se não tivesse o elenco estelar, nem seria notado. Poxa, mas e o ótimo designer de produção em clima setentista e as boas atuações não contam, vão questionar alguns cinéfilos? Trapaça é esteticamente muito bem executado, mas questione-se: sobre o que mesmo é o filme? qual é mesmo a trapaça que eles estão propondo? Daqui três meses você vai se lembrar da trama? Trapaça soa como um prato de uma refeição muito bonito e com aroma agradável, mas quando levamos à boca, não tem gosto, falta tempero.

David O. Russell é um diretor ainda muito recente, que causou uma boa impressão com Três Reis, mas há uma euforia exagerada sobre suas obras após os oscarizados e muito medianos O Vencedor O Lado Bom da Vida. Em Trapaça ele conta a história de dois trambiqueiros (Christian Bale e Amy Adams) que são pegos pelo FBI e, em troca da liberdade, resolvem ajudar os federais a prender trambiqueiros ainda maiores, ou seja, políticos. Lento e pouco interessante, o roteiro não excita o espectador. Não lhe faz questionar ou pedir por mais. Ficamos sentados apenas contemplando a história e apreciando a sempre eficiente atuação de Christian Bale. Quando Robert De Niro aparece em cena, lembrando seu Al Capone de Os Intocáveis, meu olhou brilhou prevendo uma mudança no curso da história. Mero engano, De Niro não mais volta dar as caras e o impacto de sua personagem na trama é utilizada de maneira pobre e simplória.

É sempre bom ver grandes atores e atrizes, uma pena que essa fabulosa reunião de astros não resultou em um bom filme. Jennifer Lawrence está bem e sua personagem não tem grande relevância para narrativa, a não ser uma virada no roteiro na parte final. O embate dela no triângulo amoroso não consegue trazer nada muito original, além da mulher traída que entrega o marido. Mas quem está completamente deslocado é Bradley Cooper, com seu penteado cacheado.  Um homem de negócios que se relaciona com o prefeito e com a máfia, que é representante de um sheik que deseja investir milhões, não creio que utiliza-se um permanente daquele, ainda que estivesse na moda. É compreensível que na primeira cena o visual funcione e seja coerente com o contexto. Mas na segunda parte soa quase ridículo. Cooper se esforça muito, pois tem um papel fundamental na trama. Mas, como todo elenco, não consegue salvar uma história tão sem graça.

Em uma temporada com um trapaceiro memorável, em O Lobo de Wall Street, dá até um pouco de vergonha colocar Trapaça ao lado dele como um dos melhores filmes do ano, como querem acreditar alguns críticos gringos. Ao fim, o filme tenta criar aquela sacada final, enganando o espectador e dizendo: viu, surpreendi vocês. Desculpe, quer mesmo um filme sobre trapaça, assista Nove Rainhas.



Trapaça (American Hustle - 2013)
Direção: David O. Russell
http://www.imdb.com/title/tt1800241/

Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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