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O Artista

O que levaria um diretor a realizar um filme mudo, em preto e branco em pleno século XXI, na era da tecnologia e no ápice do cinema 3D? Acredito que relembrar ao espectador que por trás de todos os avanços  tecnológicos que acometeram a fabulosa invenção dos Irmãos Lumière a alma que gera toda essa magia chamada cinema continua a mesma, e se denomina O Artista.

Esse audacioso filme do diretor francês Michel Hazanavicius vai muito além da homenagem aos filmes de antigamente e ao retratar a evolução do cinema mudo para o falado. Ele mostra que o público que consome essa máquina cinematográfica se encanta mesmo é pelas as estrelas, pelos astros, sejam dentro da telona ou fora dela. Isso fica bem claro no filme com a introdução da protagonista Peppy Miller, que nada mais é que uma fã tietando o ídolo George Valetin. No fundo, nós espectadores amamos um determinado ator, sonhamos com a beleza daquela atriz ou respeitamos as escolhas de um diretor. Hazanavicius orquestra um emaranhado de cenas e citações cinematográficas para construir um ode as pessoas que fizeram e fazem o cinema, simples assim.

Claro que por trás disso há um apuro técnico estupendo, que pode passar desapercebido dos olhos menos treinados. Para os cinéfilos é um banquete. Veja um exemplo: após a chegada do cinema falado e o começo da decadência de Valentin, a trilha sonora de uma das cenas vem acompanhada de uma voz cantando. É um citação sensacional mostrando que com o fim das orquestras que tocavam ao vivo nos filmes mudos, o cinema começou a explorar de outras formas a composição sonora para ambientar as cenas, entrando assim as trilhas sonoras com pessoas cantando. É de uma sutileza monstruosa, que só é percebida por quem estudou cinema. Em um outro momento, Valetin está arrasado e chega no fundo do poço, quando atravessa a rua em frente a um cinema, cujo o letreiro exibe o nome do filme: Lonely Star (Estrela Solitária). Essa brincadeiras e sutilezas dão ao longa um sabor todo especial.

Inteligente, Hazanavicius não quis fazer um filme só para agradar os cinéfilos metidos intelectuais, mas procurou agradar com um roteiro coeso e agradável os demais espectadores. Se você não adaptar o produto cinema as necessidades do público, fatalmente, isso o levará ao ostracismo. O longa mostra isso também em seu enredo, o que acaba funcionando com uma metalinguagem. Não se faz um filme para si, mas sim para as pessoas. Nesse intuito ele agrada o espectador comum e o cinéfilo mais exigente.

O cinema é uma indústria permeada de magia, mas que para que as engrenagens permaneçam funcionando, ele precisa dar lucro. Para isso ele se reinventa, moderniza e evolui. Muitos artista tiveram as carreiras arruinadas com o fim do cinema mudo, mas a máquina não podia parar. Como no jogo da vida, é preciso se adaptar as mudanças do mundo. A jornada contada em O Artista mostra justamente isso, como Valetin aprimorou e adaptou sua arte. Talvez seja hora de repensar o excesso de diálogos nos roteiros e dar espaço ao artista que com um olhar ou um sorriso transmitem a mensagem que a cena deseja. Não me lembro da voz de Chaplin, mas não consigo esquecer aquela cara de malandro e o sorriso acanhado de Carlitos.


O Artista (The Artist - 2011)
Direção: Michel Hazanavicius
http://www.imdb.com/title/tt1655442/

Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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